Comentários Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Sobre
a insondável santidade da Mãe de Deus, encontram-se outros fervorosos
testemunhos expressos nas páginas da Mariologia. Podemos citar, por exemplo, o
de São Bernardo: “Creio que desceu sobre Ela uma abundantíssima bênção
santificadora, que não apenas fez santo
o seu nascimento, como também A guardou imune durante sua vida de todo pecado;
o qual não se acredita tenha sido dado a nenhum outro nascido de mulher.
Convinha à Rainha das virgens o privilégio de uma santidade especial, por cuja
virtude transcorresse toda a sua existência sem um só pecado, para que deste
modo a que havia de dar à luz o Vencedor da morte e do pecado, obtivesse para todos
o dom da vida e da justiça” 40
Enumerando
os excelsos privilégios de Nossa Senhora, escreve o Pe. Mathias Faber, S. J.
(séc. XVII):
“A
quarta estrela da coroa de Maria foi a imunidade de todo pecado atual, mesmo
venial. [...] Os santos Padres multiplicam seus testemunhos sobre este ponto.
Santo Agostinho ensina no livro Da Natureza e da Graça, que ele não quer,
absolutamente, que se faça menção à Bem-aventurada Virgem todas as vezes que se
trate do pecado. São Bernardo, São Boaventura, Santo Ambrósio, Santo Efrém,
todos enfim falam no mesmo sentido. De resto, o Anjo da Anunciação não o indicou
assaz claramente quando disse a Maria: «Ave, cheia de graça»?
“Enquanto
andamos pelos lamacentos caminhos deste mundo, nós, homens, [...] não podemos
viver muito tempo sem cair em alguma falta, por causa dos perpétuos movimentos
da concupiscência que nos excitam ao pecado. Contudo, não era digno da Mãe de
Deus estar sujeita a esta enfermidade. Se houvesse Ela cometido um só pecado, poderia
convenientemente se tornar a Mãe do Deus que desceu sobre a Terra para extirpar
todo pecado? Não redundaria desta falta alguma ignomínia sobre seu Filho?
“Maria
foi impecável e confirmada em graça de maneira tão perfeita, que não podia
pecar nem mesmo venialmente. É este o ensinamento dos doutores, e a Santa Igreja,
que celebra a Conceição e a Natividade da Mãe de Deus, testemunha sua crença na
inamissível santidade de Maria, não apenas em seu nascimento, como também no próprio
instante de sua puríssima e Imaculada Conceição” 41
E
ainda a célebre e bela sentença do Doutor Angélico:
“Aqueles
aos quais Deus elege para uma missão, prepara-os de sorte que sejam idôneos
para desempenhar a mesma. [...]
“Ora,
a Bem-aventurada Virgem Maria foi por Deus escolhida para ser sua Mãe, e não há
dúvida de que Ele A tornou, por sua graça, idônea para semelhante missão, segundo
o que o Anjo Lhe disse: «Achaste graça diante de Deus, e eis que conceberás»,
etc. Certamente que não seria idônea se alguma vez houvesse pecado, já porque a
honra dos pais redunda nos filhos, e, ao contrário, redunda no filho a ignomínia
da mãe; já pela singular afinidade da Virgem com Cristo, que d’Ela recebeu a
carne, pois se diz na segunda aos Coríntios: «Que concórdia pode existir entre
Cristo e Belial?»; já também porque, de modo singular, o Filho de Deus, que é a
Sabedoria divina, habitou n’Ela, e não só em sua alma, como também em seu seio.
E no [livro] da Sabedoria se diz: «A sabedoria não entrará na alma perversa nem
habitará no corpo escravo do pecado».
“De
sorte que absolutamente devemos dizer que a Bem-aventurada Virgem não cometeu
nenhum pecado atual, nem mortal, nem venial, para que n’Ela se cumpra o que se
lê no Cântico dos Cânticos:
«Sois
toda formosa amiga minha, e não há em ti mancha alguma»” 42
40) BERNARDO. Obras Completas. Madrid:
BAC, 1953. Vol. II. p. 1179.
41) FABER, Mathias. In Festa Conceptionis
B. VM. Apud JOURDAIN, Z-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer,
1900.Vol. V. p. 69-70.
42) AQUINO, Tomás de; BUSA, Roberto. S.
Thomae Opera Omnia. Summa contra gentiles autographi deleta Summa Theologiae.
Milano: Cartiere Binda, 1980. Vol. II. p. 810.