quinta-feira, 31 de julho de 2014

Lírio entre os espinhos

No Pequeno ofício da imaculada Conceição há o seguinte responsório: “Como o lírio entre os espinhos, assim é a minha predileta entre os filhos de Adão.”

Estas palavras podem ser aplicadas também a uma porção de coisas boas que, em nossas vidas, restam no meio meio dos espinhos, os quais temos que aturar para podermos nos deleitar com o perfume de um lírio.

Existe, por detrás, uma verdade enternecedora: Nossa Senhora quer que tenhamos pena daqueles que representam os espinhos em torno do lírio d’Ela. E tendo paciência com eles, sabendo perdoar até o estapafúrdio, sendo inalteravelmente os mesmos, nós transformamos os espinhos em lírio.


(Plinio Correa de Oliveira – Extraído de conferência de 12/2/1988)

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Maria, terra Vós sois, bendita e sacerdotal


Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
Formadora do coração sacerdotal do Divino Redentor
Outro eminente mariólogo contemporâneo, Fr. Armando Bandera, O. P., considera o papel de Maria Santíssima na “formação do coração sacerdotal de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Concluindo seu criterioso estudo, escreve o douto dominicano: “A Virgem cumpre sua função educadora enquanto Mãe de Cristo e precisamente por ser sua Mãe. Esta ação maternal penetra no próprio núcleo da Redenção, uma vez que toca no aspecto primário desta, que é o de sacrifício. Portanto, para compreender o conteúdo do sacrifício de Cristo, é necessário relacioná-lo com a Virgem. Cristo imolou um «coração» que havia sido formado pela Virgem, e que aceitou, também no momento supremo, todo o influxo d’Ela recebido, para convertê-lo em fonte de salvação.
“Se, ao estudar o mistério da Redenção, prescinde-se da Virgem, mutila-se o conteúdo da obra do próprio Cristo. [...] A influência salvífica da Virgem não só não entra em colisão com Cristo, como nos é transmitida sobretudo através de seu sacrifício, pelo que este não pode ser aceito com plenitude, se alguém o desliga dos vínculos que tem com a Virgem Maria”
Poder incomparavelmente superior ao do sacerdote
Assim, vem a propósito este ardoroso comentário do Pe. Júlio- Maria, Missionário de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento:
“Sem dúvida, a Virgem não possui o poder de consagrar. Mas, considerando-se tudo, a consagração não dá a Jesus um ser novo, uma natureza nova; torna-O somente presente sob as espécies do pão e do vinho, nesta maneira própria à Eucaristia, que se chama o estado sacramental; enquanto que Maria deu ao Verbo seu ser humano, uma outra natureza, sem a qual não haveria nem Sacramento, nem sacrifício. Nossa Senhora, por sua palavra, por seu fiat, produziu-O em seu seio, sobre o altar íntimo de seu coração. Ela O produziu de sua própria substância, de seu próprio sangue; revestiu seu Filho com esta carne sagrada, destinada ao sacrifício por Deus que a devia aceitar, e graças à qual, providenciada a Vítima que Lhe faltava, nosso Pontífice pôde exercer seu sacerdócio.

“Poder maravilhoso, divino, incomparavelmente superior ao sacerdote, pois que é mil vezes mais prodigioso, na ordem do sacrifício, o formar a vítima e fornecê-la ao mundo, do que torná-la simplesmente presente pela consagração do pão e do vinho” 

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Títulos de Maria relacionados com o sacerdócio

Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora

Títulos de Maria relacionados com o sacerdócio

O título de terra sacerdotal recorda-nos também a relação que existe entre Nossa Senhora e o ministério sagrado. Com efeito, Ela “é a Rainha dos Sacerdotes. Foi a primeira a oferecer a Vítima Divina ao pé da Cruz, como fazem, todos os dias, os padres na santa Missa” 1
Sobre esta prerrogativa da Santíssima Virgem, ensina D. Alastruey:
“Pela cooperação de Maria na instituição ou consagração do Sumo Sacerdote da Nova Lei, Cristo Jesus, na preparação da Vítima da Cruz e por sua união com Cristo na celebração do sacrifício cruento [no alto do Calvário], [...] recebeu a Santíssima Virgem muitos nomes relacionados com o sacrifício e o sacerdócio.
“Assim, Santo Epifânio chama a Maria «sacerdote e altar ao mesmo tempo, que nos deu o Pão do Céu, Cristo, para a remissão dos pecados».
“São João Damasceno saúda assim a Maria: «Salve, ó Filha, Sacerdote Virgem de Deus, de invejável pureza e de formosura admirável para aquele que disse nos Cantares: Quão belos são teus passos...
“E Santo Antonino, seguindo a Santo Alberto Magno, escreve:
«Foi sacerdotisa da justiça, pois não perdoou a seu próprio Filho, mas esteve em pé junto à Cruz de Jesus».

“E esse título dado a Maria é, com frequência, mencionado pelos teólogos e escritores de nossos dias.
Sacerdócio espiritual e místico
“[Entretanto], para evitar toda confusão ao atribuir esse título à Santíssima Virgem, é necessário distinguir um tríplice sacerdócio: substancial, sacramental ou jurídico, eširitual ou místico.
“De maneira alguma convém à Santíssima Virgem o sacerdócio substancial, próprio e exclusivo de Cristo. [...] Nem compete a Ela o sacerdócio sacramental e jurídico, porque não foi tomada pelo Senhor como ministro, mas como consorte e auxiliadora, nem recebeu o Sacramento da Ordem, nem leva impresso o caráter sacerdotal.
“Por outro lado, convém a Ela, plenamente, o sacerdócio espiritual e místico, como a todos os demais fiéis, aos quais São João (Apoc. I, 6) chama «sacerdotes para Deus e seu Pai».[…]
“E neste sentido, a Santíssima Virgem, eleita como consorte e cooperadora de Cristo, Sumo Pontífice, participou de modo mais eminente que os demais cristãos, daquele sacerdócio espiritual e místico. Por isso disse Gerson: «Maria, apesar de não estar investida do caráter sacerdotal, pertenceu sempre ao régio sacerdócio muito mais do que os outros fiéis, ungida, não certamente para consagrar mas para oferecer esta hóstia pura, plena e peifeita, na ara de seu próprio coração».
“Portanto, embora companheira e cooperadora de Cristo na obra da Redenção, não é sua vigária, e, por isso mesmo, não deve ser chamada sacerdote de modo distinto dos demais fiéis, que, por não terem recebido o Sacramento da Ordem, não são sacerdotes em sentido próprio”

1) Do PEQUENO OFÍCIO DA IMACULADA CONCEIÇÃO em latim e português com comentários. São Paulo: Paulinas, 1956. p. 129-130.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Maria, terra Vós sois bendita e Sacerdotal

Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
Terra imaculada, da qual se formou o novo Adão
E o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira assim comenta:
“Segundo São Luís Grignion de Montfort, Nossa Senhora, o Paraíso Terrestre do Homem-Deus, é constituído «de uma terra virgem e imaculada, da qual se formou e nutriu o novo Adão, sem a menor mancha ou nódoa, por operação do Espírito Santo que aí habita» 1
“E uma linda comparação. Assim como Deus formou o primeiro homem a partir da terra virgem, ainda livre das maldições que sobre ela caíram com o pecado original, também o novo Adão foi formado, por obra do Espírito Santo, de uma terra imaculada, que é a carne virginal de Nossa Senhora” 2
… E sacerdotal
Terra sacerdotal da Santíssima Trindade
“Maria é a terra sacerdotal do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Essa terra sempre foi e para sempre será livre de todo pecado.
“Deus Pai disse a seu Filho, como Jacob a José (Gen. XLVIII, 2 1-22): «Eu te dou aquela parte [de meus bens], que ganhei da mão dos amorreus, com a espada e com o meu arco» — o que exprime a santificação de Maria.
“Quando os descendentes de José entrassem na terra prometida, este, na pessoa de seus netos, teria sua parte como os outros filhos de Jacob. Existe, porém, uma parcela dos bens do Patriarca que lhe preciosa entre todas, a qual ele concede a José, muito antes de que chegasse o momento de se apropriar do resto.

“José representa, aqui, Jesus Cristo Nosso Senhor; e a porção preciosa por excelência da herança de Jacob, que lhe foi concedida com tantos séculos de antecedência, é Maria. Ela Lhe pertence, e nenhum outro senão Ele pode pretender qualquer direito sobre essa augusta criatura. Para possuí-La, o Padre Eterno empregou o poder de seu braço: «que ganhei da mão dos amorreus, com a espada e com o meu arco»” 3
1) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 246.
2) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 5/6/1972. (Arquivo pessoal).
3) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. I. p. 455-456.

terça-feira, 8 de julho de 2014

Fecundidade de Nossa Senhora

Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora

Terra de fertilíssima fecundidade
“A Santíssima Virgem Maria foi terra de fertilíssima fecundidade em razão de sua concepção frutuosíssima, segundo o que diz o capítulo XLV de Isaías: «Derramai, á céus, dessas alturas o vosso orvalho, as nuvens façam chover o justo; abra-se a terra, e brote o Salvador».
“Os céus derramaram seu rocio na anunciação do Anjo e na missão do Espírito Santo; a terra se abriu ao dar a Virgem seu consentimento, e brotou o Salvador quando foi concebido o Filho de Deus, unicamente por mandato divino, como só por este germinou a terra desde seus começos, segundo consta no capítulo I do Gênese:
“«Produza a terra erva verde, e que dê semente e árvores frutíferas, que deem fruto conforme a sua espécie, cuja semente esteja nelas mesmas (para se reproduzirem) sobre a terra».
“Aquela planta frutífera é Cristo concebido pela Virgem Maria, que havia produzido de antemão a erva de santos pensamentos, afetos, palavras e ações.
“Por conseguinte — conclui São Boaventura —, o homem que deseje ter a Cristo dentro de si, por bênção celeste, convém que produza essas ervas de si mesmo, com plena vontade. [...] Portanto, não sejamos semelhantes a Eva, por culpa de quem se disse a Adão: «A terra será maldita por tua causa», etc. Sejamos mais parecidos com Maria, de quem disse o Salmista: «Abençoaste, Senhor a tua terra», etc. Bendita, porquanto foi fecundada para produzir um fruto nobilíssimo” 1
Terra quatro vezes bendita
Por sua vez, escreve Henry Le Mulier:
“Maria é terra generosa e fecunda, não tendo produzido jamais abrolhos, nem espinhos, nem qualquer desses frutos malditos que, abandonados ao livre arbítrio, engendraram a desobediência e a morte. Terra rica e fértil que, sem cultivo, sem sementes, sem outra preparação que o rocio celeste, gerou, na obediência, o fruto bendito, o fruto de vida, a salvação das nações.
“Terra de justiça e de glória, que o Senhor cuida com suas próprias mãos, e que Ele governa como um rei ao seu reino. [...]

“Terra quatro vezes bendita, do seio da qual brotou essa fonte de salvação, que, dividindo-se em quatro rios imensos, que são os quatro Evangelhos, levou a luz e a vida até aos confins do mundo!”2
1) BOAVENTURA. Obras Completas. Madrid: BAC, 1947. p. 763-765.
2) LE MULlER, Henry. Dela Très-Sainte Vierge d’aprés les Saintes Écritures et les Pères de l’Eglise. Paris: Pilon, 1854. Vol. I. p. 33-34.