“A Santíssima Virgem Maria foi terra de fertilíssima fecundidade em razão de sua concepção frutuosíssima, segundo o que diz o capítulo XLV de Isaías: «Derramai, á céus, dessas alturas o vosso orvalho, as nuvens façam chover o justo; abra-se a terra, e brote o Salvador».
“Os
céus derramaram seu rocio na anunciação do Anjo e na missão do Espírito Santo;
a terra se abriu ao dar a Virgem seu consentimento, e brotou o Salvador quando
foi concebido o Filho de Deus, unicamente por mandato divino, como só por este
germinou a terra desde seus começos, segundo consta no capítulo I do Gênese:
“«Produza
a terra erva verde, e que dê semente e árvores frutíferas, que deem fruto
conforme a sua espécie, cuja semente esteja nelas mesmas (para se reproduzirem)
sobre a terra».
“Aquela
planta frutífera é Cristo concebido pela Virgem Maria, que havia produzido de
antemão a erva de santos pensamentos, afetos, palavras e ações.
“Por
conseguinte — conclui São Boaventura —, o homem que deseje ter a Cristo dentro
de si, por bênção celeste, convém que produza essas ervas de si mesmo, com plena
vontade. [...] Portanto, não sejamos semelhantes a Eva, por culpa de quem se
disse a Adão: «A terra será maldita por tua causa», etc. Sejamos mais parecidos
com Maria, de quem disse o Salmista: «Abençoaste, Senhor a tua terra», etc. Bendita,
porquanto foi fecundada para produzir um fruto nobilíssimo” 1
Terra quatro vezes bendita
Por sua
vez, escreve Henry Le Mulier:
“Maria
é terra generosa e fecunda, não tendo produzido jamais abrolhos, nem espinhos,
nem qualquer desses frutos malditos que, abandonados ao livre arbítrio, engendraram
a desobediência e a morte. Terra rica e fértil que, sem cultivo, sem sementes,
sem outra preparação que o rocio celeste, gerou, na obediência, o fruto
bendito, o fruto de vida, a salvação das nações.
“Terra
de justiça e de glória, que o Senhor cuida com suas próprias mãos, e que Ele
governa como um rei ao seu reino. [...]
“Terra
quatro vezes bendita, do seio da qual brotou essa fonte de salvação, que,
dividindo-se em quatro rios imensos, que são os quatro Evangelhos, levou a luz
e a vida até aos confins do mundo!”2
1) BOAVENTURA. Obras
Completas. Madrid: BAC, 1947. p. 763-765.
2) LE MULlER, Henry. Dela
Très-Sainte Vierge d’aprés les Saintes Écritures et les Pères de l’Eglise. Paris: Pilon, 1854. Vol. I. p. 33-34.