domingo, 30 de dezembro de 2012

Maria: Um olhar com mil facetas

Quem poderá exprimir, por alguma obra artística ou literária, as mil facetas d’Aquela que tem uma “certa dignidade infinita” e “chegou aos confins da divindade”?
 Muito já se escreveu e discorreu acerca da Virgem Mãe de Deus. Entretanto, faltam-nos palavras para exprimir quanto devemos à sua inigualável Pessoa. O culto a Ela remonta ao início da Cristandade, e foi crescendo ao longo do tempo, fazendo-A figurar na pluma dos mais insignes pensadores e nos lábios dos mais eloquentes pregadores, e também nas obras dos mais talentosos artistas que a História conheceu.
Expressivas imagens dessa Venerável Senhora ora aparece Ela com afável sorriso, ora com fisionomia compassiva ou com olhar suavemente entristecido, porém sempre nos convidando a, por meio d’Ela, mais facilmente nos aproximarmos do trono de Seu Divino Filho.
Ao longo da história
Em dois milênios de Cristianismo, a figura ímpar de Maria Santíssima foi representada das mais variadas formas. Em sua fase inicial, a Igreja A concebeu como Virgem Orante, com os braços abertos em sinal de prece, e sem o Menino Jesus. Ou ainda como Virgem Mãe, deixando transparecer uma divina pureza em sua feição.
No período românico, Maria é principalmente representada como Mãe de Deus, majestosa, ereta, com olhar hierático. Sentada em trono como Rainha, tem sobre os joelhos Jesus, a Sabedoria Eterna, e O apresenta ao mundo com gesto respeitoso, segurando-o com as duas mãos. São as imagens de Sedes Sapientiæ (Sede da Sabedoria).
Desde o final do século XII, a hieraticidade cede lugar ao movimento. O Menino Deus “muda” de posição: tal imagem O apresenta num dos braços da Mãe, tal outra sobre os joelhos. A figura da Virgem ganha em destaque e simbolismo: difundem-se as Virgens Negras, coloração explicada por certos exegetas num sentido místico de dor e sofrimento; ou ainda as Virgens com Maçã, relembrando que a nova Eva reparou o pecado da antiga.
No século XIII, em pleno auge do gótico, tudo canta o louvor à Santíssima Virgem: inúmeras igrejas são levantadas em Sua honra, multiplicam-se nos púlpitos as referências a Ela, e a Liturgia A celebra abundantemente. Na pintura e na escultura, a Rainha e Mãe toma ares de uma nobre dama que brinca com seu Filhinho e O abraça com todo afeto. “Sempre foi verdade — afirma o padre Dinarte Passos — que o estilo gótico atingiu o ideal em todas as artes, também, portanto, aqui na arte marial”.1
Depois da Idade Média, rompem-se os estreitos vínculos entre a arte e a Fé. A escultura e a pintura se materializam. Na Renascença e no período Moderno, enquanto progredia a técnica de como fazer, perdia-se em boa medida o espírito de como criar. Mas as manifestações de devoção a Nossa Senhora não deixaram de crescer também nessa época.
Mil formas de representá-La
Sendo Mãe, Maria quer entrar em contato com seus filhos, procura adaptar-Se aos bons aspectos deles, transmite-lhes mensagens. Daí nasceu o culto à Virgem Maria designando-A pelo nome do local onde Ela apareceu: Nossa Senhora de Fátima ou Nossa Senhora de Lourdes, por exemplo. Invocações há que expressam veneração por algum aspecto de sua vida, como Nossa Senhora Menina; ou algum episódio do Evangelho, Nossa Senhora do Desterro, que evoca a fuga para o Egito. Há também formas de representá-La de acordo com as particulares circunstâncias em que Ela nos ajuda: Nossa Senhora da Pena, inspiradora das artes e das letras; Nossa Senhora dos Mares ou Nossa Senhora da Estrada, protetora dos viajantes.
Dezenas são as festas celebradas em honra da Santíssima Virgem ao longo do ano, mas uma delas chama de modo especial a nossa atenção: a Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, que a Igreja comemora no dia 1º de janeiro. Assim, o ano se inicia sob Seu olhar e Sua proteção.
A Maternidade Divina de Nossa Senhora é tão sublime que A coloca acima de todas as outras criaturas. Pois, segundo a expressão do Cardeal Caietano: “Somente a Bem-aventurada Virgem Maria chegou aos confins da divindade por sua própria operação natural, já que concebeu, deu à luz, engendrou e alimentou com Seu leite o próprio Deus”.2
Em vista de tanta sublimidade, ninguém será capaz de exprimir de modo perfeito e acabado — por qualquer tipo de obra artística ou literária — as mil facetas d’Aquela que, segundo São Tomás, tem uma “certa dignidade infinita”.3 Poderá alguém, ao menos, escolher entre várias representações de Nossa Senhora alguma cujo olhar exprima mais adequadamente Aquela que “chegou aos confins da divindade”?
Convidamos o caro leitor a fazer a sua escolha...
Mãe de Deus, Imperatriz da China
Catedral do Norte, Pequim
Nossa Senhora da Confiança, Pontifício Seminário Maior, Roma



Nossa Senhora de Paris - Capela Cardinalícia do Seminário 
dos Arautos do Evangelho, São Paulo
Imaculada Conceição - Igreja de Nossa Senhora da Conceição, Sabará (Minas Gerais)

Salus Populi Romani (cópia realizada pelo Estúdio Vaticano 
do Mosaico) - Tra Noi, Roma
Virgen de la Pera Museu do Prado, Madri



Nossa Senhora da Ressurreição Seminário dos Arautos do Evangelho, 
São Paulo


1Cf. PASSOS, CM, Dinarte Duarte. A Imagem da SS. Virgem através da História. Revista Eclesiástica Brasileira, dezembro 1947, v.VII, f.IV, p.868.
2CAIETANO, apud ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la Perfección Cristiana. 9.ed. Madrid: BAC, 2001, p.89.
3SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, q.25, a.6, ad.4.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Perseverança final

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
... para que, venerando agora, afetuosamente, a vossa imaculada Conceição, consiga depois, a coroa da eterna bem-aventurança.
A graça da perseverança final
Encerrando, rogamos o dom da perseverança final e nosso ingresso na celeste beatitude.
“Maria, porque é nossa Mãe, deseja sobretudo a eterna salvação de seus filhos, pelos quais intercede.
“A vida presente passa, com felicidades, com infelicidades, com tropeços; ela um dia acaba, e é a eternidade que fica. Por isso, o mais importante é salvarmos nossas almas, para as quais a Santíssima Virgem obtém de Deus graças e virtudes.
“Peçamos a Ela, Rainha dos Corações, por cujas mãos Deus governa a História e o mundo, que mova nossas almas segundo os seus desígnios, e nos alcance a eterna beatitude” 90
Portanto, unamos nossas vozes à do grande São Bernardo, que assim se dirigia à Santa Mãe de Deus: “Ó bendita Virgem, que achastes a graça, Mãe da vida, Mãe da salvação! Por meio de Vós chegamos a vosso Filho, por Vós nos receba O que por Vós se deu a nós. Escuse diante d’Ele vossa integridade as culpas de nossa corrupção, e vossa humildade tão grata a Deus alcance o perdão de nossa vaidade. A vossa copiosa caridade cubra a multidão de nossos pecados, e vossa fecundidade gloriosa nos dê a fecundidade das boas obras. Senhora nossa, Medianeira nossa e nossa Advogada, reconciliai-nos com vosso Filho.
“O Bendita, pela graça que achastes, pelo privilégio que merecestes, pela misericórdia que engendrastes, fazei que Aquele que por meio de Vós se dignou tornar-se partícipe de nossa enfermidade e miséria, por vossa intercessão também nos faça participantes de sua glória e bem-aventurança!” 91
90 Cfr. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 10/9/1989. (Arquivo pessoal).
91) BERNARDO. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. I. p. 166.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Salve Rainha

MATINAS
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
V. Em meu socorro vinde já, Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Glória ao Padre...
HINO
Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,
Estrela da Manhã, do Céu Rainha,
Cheia de graça sois; salve, luz pura,
Valei ao mundo e a toda criatura.
Para Mãe o Senhor Vos destinou
Do que os mares, a Terra e Céus criou.
Preservou Ele a vossa Conceição
Da mancha que nós temos em Adão. Amém.

V. Deus A escolheu e predestinou.
R. No seu tabernáculo A fez ha bita r
V. Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor
Oremos. Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e Dominadora do mundo, que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os olhos de vossa piedade e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os meus pecados, para que, venerando agora afetuosamente a vossa Imaculada Conceição, consiga depois a coroa da eterna bem-aventurança: por mercê do mesmo vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, que com o Padre e o Espírito Santo vive e reina em unidade perfeita, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.


Comentário do seguinte trecho do Ofício de Nossa Senhora
Oremos:
Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e Dominadora do mundo...
As invocações iniciais desta oração que se repete em todas as horas do Pequeno Ofício, nos recorda alguns dos principais títulos com que honramos a Virgem ao longo deste saltério, comentados em seus respectivos lugares. Em seguida dizemos:
... que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os olhos de vossa piedade; e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os meus pecados...
Olhos sobremaneira misericordiosos
Com grande afeto dirigia, certa vez, Santa Gertrudes estas palavras à Nossa Senhora: “Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”. Apareceu-lhe então a Virgem Santíssima com o Menino Jesus nos braços, e mostrando-lhe os olhos de seu Divino Filho, disse: “Estes são meus olhos sobremaneira misericordiosos que posso proveitosamente inclinar sobre quantos me invocam, enriquecendo-os com abundante fruto de salvação eterna”
Semelhante é o exemplo que registra Santo Afonso, em seus comentários à Salve Rainha: “Chorando certa vez um pecador diante de uma imagem de Maria, e pedindo-Lhe que lhe alcançasse de Deus o perdão de seus pecados, viu a Bem-aventurada Virgem voltar-se para o Menino que tinha nos braços e Lhe dizer: «Filho, perder-se-ão estas lágrimas?» Reconheceu o infeliz que Jesus Cristo lhe concedera o perdão.
“E como poderia perecer quem se encomenda a esta boa Mãe? Não Lhe prometeu seu Divino Filho usar de misericórdia por seu amor e segundo seu desejo, para com todos os que a Ela recorrem? Tal foi a promessa que Santa Brígida ouviu o Senhor fazer à sua Mãe. [...1
“Se, por causa de nossos pecados, nos invadir a desconfiança, digamos com Guilherme de Paris: «Ó Senhora minha, não me lanceis em rosto meus pecados, porque lhes oporei vossa grande misericórdia. Jamais se diga que minhas culpas puderam contrabalançar no juízo a vossa misericórdia. Pois esta é muito mais eficaz para obter-me o perdão, que todos os meus pecados para valerem-me a condenação»” 88
Maria reconcilia os pecadores com Deus
No mesmo sentido se exprime o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Nossa Senhora tem olhos de misericórdia, e um simples olhar d’Ela pode nos salvar. Sua doçura é invariável, seu auxílio ilimitado, pronto a nos atender a qualquer momento, sobretudo nas dificuldades de nossa vida espiritual. Estas costumam ser de duas ordens.
“Em primeiro lugar, a crise que se poderia chamar clássica, quando a pessoa se sente tentada e, portanto, hesitante entre o bem e o mal, com a possibilidade de ser arrojada no precipício do pecado de um momento para outro. É bem evidente que Maria é nosso auxilio, na plenitude do termo, nessas circunstâncias.
“Contudo, a solicitude da Mãe de misericórdia se volta também para aquele que se encontra em apuro espiritual muito mais grave, e que se traduz por esta súplica: «Minha Mãe, eu, sucumbindo ao peso da tentação, não andei bem. Pequei. Tenho o receio de me habituar ao pecado e de nele me embrutecer. Por outro lado, imensa é a minha vontade de me regenerar. Sei que não mereço a vossa proteção; mas, porque sois a Auxiliadora de todos os cristãos, não apenas dos bons, senão até dos mais miseráveis, peço-Vos: vinde e auxiliai-me».
“Portanto, nessa visualização, é o próprio fato de se ter caído em pecado que se alega diante de Nossa Senhora, como razão para obter seu socorro. E o desamparado que encontra no seu infortúnio o motivo pelo qual deve implorar a misericórdia de Maria.
“E está na missão da Santíssima Virgem, é o movimento profundo de seu coração materno, reconciliar os pecadores com Deus. Porque a Mãe tem bondades, ternuras, indulgências e paciências que outros não possuem. Ela pede, então, ao seu Divino Filho por nós, e nos obtém uma série de graças, um sem número de perdões que jamais alcançaríamos sem a sua intercessão” 89
Continua no próximo post

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Maria: Onipotente intercessão

Tanto mais devemos implorar esse patrocínio de Nossa Senhora, quanto é ele onipotente. Assim o explica, em conformidade com o ensinamento dos Santos e dos doutores eclesiásticos, o ilustre teólogo dominicano, Fr. Garrigou-Lagrange:
“O senso cristão de todos os fiéis estima que uma mãe beatificada conhece no Céu as necessidades espirituais dos filhos que ela deixou sobre a Terra, e intercede pela salvação dos mesmos. Universalmente na Igreja, os cristãos se recomendam às orações dos Santos chegados ao termo da viagem. [...) 0 Concílio de Trento (sec. XXV) definiu que os Santos no Céu rogam por nós e que é útil invocá-los. [...]
“Jesus Cristo vivendo sempre, não cessa de interceder por nós”, diz São Paulo (Hebr. VII, 25). Ele é, sem dúvida, o intercessor necessário e principal. Mas a Providência e Ele mesmo querem que recorramos a Maria, a fim de que as nossas orações apresentadas por Ela tenham mais valor.
“Em sua qualidade de Mãe de todos os homens, Nossa Senhora conhece todas as necessidades espirituais destes, e o que concerne à sua salvação; em virtude de sua imensa caridade, Maria intercede por eles. [...]
“Esta oração da Santíssima Virgem é onipotente. Por isso a Tradição A proclama omnipotentia supplex — a toda poderosa na ordem da súplica. […]
“Bossuet, em seu Sermão sobre a Compaixão de Maria, assim se exprime: «Intercedei por nós, ó Bem-aventurada Maria: tendes em vossas mãos, se ouso dizê-lo, a chave das bênçãos divinas. É vosso Filho esta misteriosa chave mediante a qual são abertos os cofres do Padre Eterno. Ele fecha, e ninguém abre; Ele abre, e ninguém fecha. É seu inocente Sangue que faz derramar sobre nós os tesouros das graças celestiais. E a quem dará Ele mais direito sobre esse Sangue, senão Àquela da qual Ele tirou todo seu Sangue? De resto, viveis com Ele em uma tão perfeita amizade, que é impossível não sejais atendida». Basta, como diz São Bernardo, que Maria fale ao coração de seu Filho. [...]
“Vê-se, com isso, que a intercessão de Maria é muito mais poderosa e mais eficaz que a de todos os outros Santos reunidos, pois eles nada obtêm sem Ela. Sua mediação permanece sujeita à d’Ela, que é universal, embora sempre subordinada, por sua vez, à de Nosso Senhor Jesus Cristo” 86
86 GARRIGOU-LAGRANGE, Reginald. La Mère du Sauveur et notre vie intérieure. Paris: Du Cerf, 1948. p. 232; 234-236; 238-239.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Maria tudo obtém de Jesus Cristo, em nosso favor

Comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora

V Protegei Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor
Maria tudo obtém de Jesus Cristo, em nosso favor
“Tudo quanto a Virgem Santíssima pede em favor dos seus servos, obtém, com certeza, de Deus”. Esta sentença é de Santo Afonso de Ligório. “Meditai — prossegue ele, citando Boaventura Baduário — na grande virtude que tiveram as palavras de Maria na Visitação. Pois que à sua voz foi conferida a graça do Espírito Santo, assim a Isabel como a João, seu fitho, segundo notou o evangelista. [...]
“Vencido pelos rogos de Maria, concede Cristo seus favores. Pois, no parecer de São Germano, Jesus não pode deixar de ouvir Maria em tudo o que Lhe pede, querendo nisto quase obedecer-Lhe como sua verdadeira Mãe. [...] Busquemos a graça, mas busquemo-la por meio de Maria, repito com São Bernardo, em continuação às palavras da Virgem a Santa Matilde: «O Espírito Santo encheu-me de toda a sua doçura e tomou-me tão cara a Deus, que quantos por meu intermédio pedem graças a Ele, todos certamente as obtêm». [...]
“Não nos apartemos jamais dos pés desta tesoureira de graças, dizendo-Lhe sempre com São João Damasceno: «Ó Mãe de Deus, abri-nos as portas da vossa misericórdia, rogai sempre por nós, pois são vossas preces a salvação de todos os homens». Recorrendo a Maria, o melhor será pedir-Lhe que rogue por nós e nos obtenha aquelas graças, que reconhece mais convenientes à nossa salvação” 85
Onipotente intercessão
Tanto mais devemos implorar esse patrocínio de Nossa Senhora, quanto é ele onipotente. Assim o explica, em conformidade com o ensinamento dos Santos e dos doutores eclesiásticos, o ilustre teólogo dominicano, Fr. Garrigou-Lagrange:
“O senso cristão de todos os fiéis estima que uma mãe beatificada conhece no Céu as necessidades espirituais dos filhos que ela deixou sobre a Terra, e intercede pela salvação dos mesmos. Universalmente na Igreja, os cristãos se recomendam às orações dos Santos chegados ao termo da viagem. [...) 0 Concílio de Trento (sess. XXV) definiu que os Santos no Céu rogam por nós e que é útil invocá-los. [...]
“Jesus Cristo vivendo sempre, não cessa de interceder por nós”, diz São Paulo (Hebr. VII, 25). Ele é, sem dúvida, o intercessor necessário e principal. Mas a Providência e Ele mesmo querem que recorramos a Maria, a fim de que as nossas orações apresentadas por Ela tenham mais valor.
“Em sua qualidade de Mãe de todos os homens, Nossa Senhora conhece todas as necessidades espirituais destes, e o que concerne à sua salvação; em virtude de sua imensa caridade, Maria intercede por eles. [...}
“Esta oração da Santíssima Virgem é onipotente. Por isso a Tradicão A proclama omnipotentia supplex — a toda poderosa na ordem da súplica. […]
“Bossuet, em seu Sermão sobre a Compaixão de Maria, assim se exprime: «Intercedei por nós, ó Bem-aventurada Maria: tendes em vossas mãos, se ouso dizê-lo, a chave das bênçãos divinas. É vosso Filho esta misteriosa chave mediante a qual são abertos os cofres do Padre Eterno. Ele fecha, e ninguém abre; Ele abre, e ninguém fecha. É seu inocente Sangue que faz derramar sobre nós os tesouros das graças celestiais. E a quem dará Ele mais direito sobre esse Sangue, senão Àquela da qual Ele tirou todo seu Sangue? De resto, viveis com Ele em uma tão perfeita amizade, que é impossível não sejais atendida». Basta, como diz São Bernardo, que Maria fale ao coração de seu Filho. [...]
“Vê-se, com isso, que a intercessão de Maria é muito mais poderosa e mais eficaz que a de todos os outros Santos reunidos, pois eles nada obtêm sem Ela. Sua mediação permanece sujeita à d’Ela, que é universal, embora sempre subordinada, por sua vez, à de Nosso Senhor Jesus Cristo” 86


85) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 4. p. 249-251.
86 GARRIGOU-LAGRANGE, Reginald. La Mère du Sauveur et notre vie intérieure. Paris: Du Cerf, 1948. p. 232; 234-236; 238-239.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Maria nos planos de Deus

Consideremos as palavras do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a propósito do sublime lugar reservado à Santíssima Virgem, na ordem da criação:
“Entre o Padre Eterno e a criação existe o Homem-Deus: inteiramente Deus, como as outras Pessoas da Santíssima Trindade; tão homem quanto cada um dos descendentes de Adão.
“Resta, contudo, um tal abismo separando Nosso Senhor Jesus Cristo das demais criaturas, que a pergunta se impõe: na ordem das coisas não deveria haver um outro ser que, ao menos de algum modo, preenchesse esse hiato?
“Ora, a criatura chamada a completar esse vácuo no conjunto da criação, a criatura excelsa, infinitamente inferior a Deus, mas ao mesmo tempo insondavelmente superior a todos os Anjos e a todos os homens de todas as épocas — é precisamente Nossa Senhora.
“A Virgem Santíssima é para Deus Padre a mais eleita das criaturas, escolhida por Ele, desde toda a eternidade, para ser a Esposa de Deus Espírito Santo e a Mãe de Deus Filho. Para estar à altura dessa dignidade, Maria havia de ser a ponta de pirâmide de toda a criação, acima dos próprios Anjos, elevada a uma inimaginável plenitude de glória, de perfeição e de santidade.
“Por isso Dante, na Divina Comédia (que alguns dizem ser a Suma Teológica de São Tomás de Aquino posta em verso), depois de ter passado pelo Inferno e pelo Purgatório, percorre os vários círculos dos bem-aventurados no Céu. Quando chega no mais alto coro angélico, ou seja, no píncaro da mansão celeste, o Poeta começa a divisar a glória de Deus. É uma luz difusa, que seus olhos não conseguem sustentar.
“Ele repara então num outro ser que está acima dos Anjos: Nossa Senhora. A Virgem Santíssima lhe sorri, e Dante contempla nos olhos d’Ela o reflexo da luz de Deus.
“Acabou-se a Divina Comédia.
“O olhar humano fitou o olhar puríssimo, o olhar sacratíssimo, o olhar sumamente régio, o olhar indizivelmente materno de Nossa Senhora. Tudo então está consumado: a Divina Comédia termina na mais alta das cogitações humanas.
“Nossa Senhora é o grampo de ouro que une a Nosso Senhor Jesus Cristo toda a criação, da qual Ela é o ápice e a suprema beleza.”
CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 7/2/1971. (Arquivo pessoal).

sábado, 15 de dezembro de 2012

Maria: Tabernáculo de Deus

R. No seu tabernáculo A fez habitar
Maria no eterno pensamento divino
Pode-se dizer que no tabernáculo de Deus habitou Maria, em virtude da excelência de sua eterna predestinação.
“A Santíssima Virgem, na qual tudo é maravilha, antes de aparecer neste mundo, na realidade de sua vida terrena, teve, por singular privilégio, uma existência antecipada. Deus concedeu-Lhe a honra da pré-existência.
“Ora, a forma mais esplêndida desta pré-existência é, certamente, aquela de que Maria gozou no seio de Deus, antes de todos os tempos. Desde toda a eternidade, esteve Ela no pensamento de Deus, vivia no coração de Deus, em razão de sua incomparável predestinação.
“Sem dúvida, todas as criaturas, que foram e que serão, vivem desde toda a eternidade no pensamento de Deus, como em seu arquétipo vivo e infinito, posto que em Deus não há nem antes, nem depois. Porém, segundo nossa maneira de compreender, no pensamento de Deus vive, de modo particular e especialíssimo, a Santíssima Virgem”84.


84) ROLLAND. La Reine du Paradis. 8. ed. Paris: Langres, 1910. Vol. I. p. 77-78.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Predestinação de Nossa Senhora


Continuação dos comentários ao pequeno Ofício de Nossa Senhora
MATINAS
V. Entoai agora, lábios meus,
R. Glórias e dons da Virgem Mãe de Deus.
V. Em meu socorro vinde já, Senhora.
R. Do inimigo livrai-me, vencedora.
Glória ao Padre...
HINO
Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,
Estrela da Manhã, do Céu Rainha,
Cheia de graça sois; salve, luz pura,
Valei ao mundo e a toda criatura.
Para Mãe o Senhor Vos destinou
Do que os mares, a Terra e Céus criou.
Preservou Ele a vossa Conceição
Da mancha que nós temos em Adão. Amém.

V. Deus A escolheu e predestinou.
R. No seu tabernáculo A fez habitar.
V. Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor
Oremos. Santa Maria, Rainha dos Céus, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo e Dominadora do mundo, que a ninguém desamparais nem desprezais; ponde, Senhora, em mim, os olhos de vossa piedade e alcançai-me de vosso amado Filho o perdão de todos os meus pecados, para que, venerando agora afetuosamente a vossa Imaculada Conceição, consiga depois a coroa da eterna bem-aventurança: por mercê do mesmo vosso Filho Jesus Cristo, Senhor nosso, que com o Padre e o Espírito Santo vive e reina em unidade perfeita, Deus, pelos séculos dos séculos. Amém.
V Protegei, Senhora, a minha oração.
R. E chegue até Vós o meu clamor
V Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.
V. As almas dos fiéis defuntos, por misericórdia de Deus, descansem em paz.
R.Amém.
 
V. Deus A escolheu e predestinou
Entre as infinitas criaturas possíveis, Deus escolheu e predestinou a sua Virgem. Outras não foram as palavras de Pio IX na célebre Bula em que definiu o dogma da Imaculada Conceição:
“Desde o princípio e antes dos séculos, escolheu e pre-ordenou [Deus] para seu Filho uma Mãe, na qual Ele se encarnaria, e da qual, depois, na feliz plenitude dos tempos, nasceria; e, de preferência a qualquer outra criatura, fê-la alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer n’Ela com singularíssima benevolência” .
Gloriosa parte nos desígnios de Deus
Com efeito, escreve o Fr. Royo Marín: “depois de Cristo-Homem, Primogênito de toda criatura, a ninguém amou mais o Pai do que Àquela que no tempo havia de ser a Mãe de seu Filho encarnado”
O mesmo nos ensina o insigne mariólogo Nicolas, segundo o qual a Santíssima Virgem Maria foi “predestinada entre todas as criaturas para ocupar um posto infinitamente superior ao de todos os eleitos.
“Depois de Jesus, e muito antes do que sobre todos os seus irmãos, Deus fixou sobre Ela o eterno olhar de sua complacência, aquele olhar onipotente que, onde quer que se fixe, produz a vida, como o sol faz ressaltar os corpos que reveste e tinge de sua luz” 81
E São Tomás de Villanueva explica que, “embora na mente e eleição de Deus não haja prioridade de tempo — pois tudo foi escolhido desde a eternidade — existe, sem embargo, a prioridade da dignidade, porque alguns foram eleitos para um grau de dignidade maior que outros. Por isso dizemos que a Virgem foi constituída e escolhida singularmente, [...] porque o foi para uma glória eminente e única, pelo que canta d’Ela a Igreja: Deus A elegeu e predestinou” 82
Recolhendo a opinião de santos autores, acrescenta o Pe. Jourdain:
“São Tomás de Aquino ensina expressamente que Cristo, sendo a Sabedoria incriada, não pode ser chamado mera criatura. Assim, não é em louvor de Jesus Cristo, mas de Maria, que a Igreja repete estas palavras do Eclesiástico, na Santa Liturgia: «Eu saí da boca do Altíssimo, primogênita antes de toda criatura... Fui criada desde o começo, e antes de todos os séculos»; e estas outras palavras tiradas do livro dos Provérbios (VIII, 2): «Fui concebida antes das colinas», quer dizer, segundo o pensamento de Santo Agostinho, «Deus me concebeu antes das mais sublimes criaturas, antes dos Anjos e dos Santos, não só para que Eu fosse santa, mas a Mãe de Santos, como deles é Jesus Cristo o Pai, o Príncipe e o Chefe supremo». [...]
“[Assim], concordam todos os teólogos em considerar Maria como a obra-prima do poder divino; reconhecem todos que, nos desígnios de Deus, recebeu Ela a mais bela parte e a mais gloriosa” 83

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A Imaculada Conceição de Maria

O testemunho dos Santos
A Imaculada Conceição, admirável privilégio da Virgem Maria, foi proclamada por inúmeros Santos, ao longo de todos os séculos da história da Igreja. Por exemplo, Santo André, Apóstolo do Senhor, diante do procônsul Egeu, assim se exprime a respeito de Maria: “E porque o primeiro homem foi formado de uma terra imaculada, era necessário que, de uma Virgem igualmente imaculada, nascesse o homem perfeito” 67
Santo Hipólito, Bispo do Porto, mártir, escrevia por volta do ano 220: “Quando o Salvador do mundo resolveu resgatar o gênero humano, nasceu da imaculada Virgem Maria, e se revestiu de nossa carne...” 68
Santo Efrém o sírio, diácono de Edessa, em 360 exclamava: “Sois imaculada, sois sem mancha e sem defeito, sois a própria pureza, da qual não pode se aproximar sombra de pecado, ó Virgem, Esposa de Deus e nossa Soberana!” 69
O grande São Jerônimo, explicando as palavras do Cântico (V, 2): Pomba minha, imaculada minha — assim se exprime:
“Maria apresenta, em tudo, a simplicidade da pomba, porque nada existiu n’Ela que não fosse toda pureza, toda simplicidade, toda verdade e toda graça.
“Ela é, pois, imaculada, porque não tem traço de corrupção”
E Santo Agostinho: “Quem poderá dizer: eu nasci sem pecado? Quem poderá se gloriar de ser puro de toda iniquidade, senão esta Virgem prudentíssima, este templo vivo do Altíssimo, que o próprio Deus escolheu e predestinou antes da criação do mundo, para que fosse a santa e imaculada Mãe de Deus, para que fosse a filha preservada de toda corrupção e de toda mancha de pecado?” 71
Santo Ildefonso, uma das glórias mais puras da Espanha, escrevia em meados do século VII: “É opinião constante que Ela foi isenta de toda falta original, Aquela por quem não somente a maldição de nossa mãe Eva foi retratada, mas a bênção foi a todos concedida” 72
No ano de 811, São Nicéforo, Patriarca de Constantinopla, dirigia ao Papa Leão III uma carta contendo sua profissão de fé, a qual conclui nestes termos: “Pela intercessão de sua Mãe toda imaculada e toda pura, e pela de todos os Santos”
Ricardo de São Vítor, nos fins do século XII: “As estrelas são cobertas de trevas, os Santos são obscurecidos pela falta comum a todos os homens. Mas a Bem-aventurada Virgem foi toda bela: o Sol de Justiça A iluminou inteira, e A penetrou de seus raios. N’Ela não há mancha alguma nem sombra de pecado”
Durante o século XIV viveu o piedoso e admirável autor Raimundo Jordão, agostiniano e Abade de Celles, o qual, por humildade, se escondia sob o nome de Idiota. Fervoroso defensor da Imaculada Conceição, exclamava: “Sois toda bela, ó Maria, e em Vós não há mácula. Sois toda bela em vossa Conceição, pois fostes formada unicamente para ser o templo do Deus Altíssimo. [...] Jamais mancha alguma, sopro nenhum do vício ou do pecado tocou vossa gloriosa alma! [...] Não há em vós sombra de pecado, seja mortal, seja venial, seja original: nunca houve e nunca haverá!”
Em 1410, São Vicente Ferrer declarava que Maria não foi semelhante a nós, em sua Conceição, mas criada pura e santa, desde o primeiro momento. “E logo — dizia — os Anjos celebraram a festa da Imaculada Conceição!” 76
Nos albores do século XVII, São Francisco de Sales assim se exprimia: “Bem é verdade que nosso primeiro pai e Eva foram criados e não concebidos; sem embargo, todas as concepções dos homens se fazem em pecado. Somente Nossa Senhora ficou isenta deste mal, Ela, que devia conceber a Deus primeiramente em seu coração e em seu espírito antes de concebê-Lo em suas puríssimas entranhas” ‘.
Encerremos esse curto rol de louvores à Imaculada Conceição, com o ardoroso juramento de Santo Afonso de Ligório, um século antes da definição dogmática pela Bula Ineffabilis Deus: “Ó minha Senhora, minha Imaculada, alegro-me convosco por ver-Vos enriquecida de tanta pureza. Agradeço e proponho agradecer sempre ao nosso comum Criador por ter-Vos Ele preservado de toda mancha de culpa. Disso tenho plena convicção, e para defender este vosso tão grande e singular privilégio da Imaculada Conceição, juro dar até a minha vida”

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Virgem Nicopéia

Virgem Nicopéia, Vós portastes no ventre Jesus Cristo Nosso Senhor. De vós o Filho de Deus nasceu da carne para a salvação dos homens. Vós seguistes a Sua missão na alegria de Caná e na dor sob a Cruz. Misericórdia concedida a todo o gênero humano, Vós O acolhestes, cadáver, nos braços. Vós, Igreja imaculada, no novo parentesco com João. O saudaste ressuscitado. Vós agora viveis junto a Ele na glória da Trindade. Acolhei, Propiciadora de vitória, a humilde oração de vosso povo, confirmai a Fé, sustentai a Esperança, reavivai a Caridade. Olhai benignamente a humanidade, prostrada no pecado, ao início do novo milênio. Mostrai no Crucificado ressuscitado, misericórdia e alegria. Protegei a vossa Igreja em todas as circunstâncias, felizes ou adversas. Socorrei a nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Guiai-nos ao Pai, no Filho, pelo Espírito Santo. Virgem Santa, a vós a nossa súplica. Escutai vossos filhos e por eles intercedei. Amém.
(Cardeal Angelo Scola, Patriarca de Veneza)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Como fazer a vontade de Nossa Senhora?


Como fazemos isto agora? Pode-se dizer que a Igreja se divide em três partes: a Igreja Gloriosa que está no Céu, a Igreja Padecente, no Purgatório e a Igreja Militante, na Terra. Enquanto a Igreja estiver na Terra, ela será militante, lutará. Então os pensamentos da Santíssima Virgem para nosso século não podem deixar de ser pensamentos de luta.

Lembro-me de uma linda escultura gótica que representa Nossa Senhora com um manto todo cheio de dobras e com uma espada na mão, investindo contra o demônio. É esta a tarefa de Maria Santíssima em nossa época.

Alguém dirá: “Mas Nossa Senhora é Mãe, Ela é apresentada na Igreja e nos templos sob o aspecto da misericórdia!”

É verdade. Esta Mãe de misericórdia olha com bondade para a Terra, mas observem os pés d’Ela: esmagam a cabeça da serpente! Quer dizer, é uma luta que só cessará no fim do mundo, quando os demônios que pairam nos ares forem atirados no Inferno, e todos os homens receberem o seu julgamento solene e final, e com isso se terá feito completamente a justiça.

Portanto, se a Virgem Maria se encontrasse, nesta Terra, de maneira visível, estaria estimulando a todos nós à dedicação pela causa d’Ela. Por isso, lutando por Nossa Senhora, estamos fazendo a vontade d’Ela.

E uma das melhores provas de que alguém tem de estar fazendo a vontade da Santíssima Virgem, consiste em ser combatido pelos inimigos d’Ela. Se é verdade que um homem se define por seus amigos, acho que é muito mais verdade que ele se define por seus inimigos. Aquela expressão clássica: “Diga-me com quem andas que te direi quem és”, eu gostaria de completá-la com esta outra: “Diga-me quem te odeia que te direi quem és.”

Porque, com o homem bom, os ruins não erram. E se todos os ruins detestam um homem, este não pode ser ruim, tem que ser bom.

Os maus vivem divididos entre si, e só se coligam contra o bem e contra o bom. De maneira que quando se veem todos os maus cessarem as rixas entre si e se voltarem contra um, este um é necessariamente um bom, porque ele é o denominador comum contra o qual todos os outros se conciliaram e se ergueram. Por exemplo, vemos Anás, Caifás, Herodes e Pilatos apaziguarem as lutas que tinham na pequena Judeia e se ligarem para matar a Nosso Senhor.

domingo, 9 de dezembro de 2012

A Imaculada Conceição

HINO
Salve, ó Virgem Mãe, Senhora minha,
Estrela da Manhã, do Céu Rainha,
Cheia de graça sois; salve, luz pura,
Valei ao mundo e a toda criatura.
Para Mãe o Senhor Vos destinou
Do que os mares, a Terra e Céus criou.
Preservou Ele a vossa Conceição
Da mancha que nós temos em Adão. Amém.
A Imaculada Conceição
“Sessenta são as rainhas, e oitenta as esposas de segunda ordem, e inúmeras as donzelas; uma só, porém, é a pomba minha e a minha perfeita” (Cânt. VI, 7-8).
Aplicando a Nossa Senhora essa passagem do Cântico dos Cânticos, comenta São Tomás de Villanueva: “É única; se buscas outra pomba, não a encontrarás. É única, sozinha e sem mancha. É a única que não esteve sujeita à lei da mancha comum. Uma só é a imaculada, e também uma só a perfeita. Não encontrarás outra sem mancha, e por isso é uma só a pomba. Não encontrarás outra tão perfeita, e por isso é a minha perfeita, única: puríssima sem exemplo, perfeita sem igual” 64
Maria Santíssima, a primeira na ordem ontológica entre todas as virgens, a propósito de sua concepção em graça recebeu do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira os seguintes louvores:
“Na bula Ineffabilis Deus, com a qual Pio IX definiu o dogma da Imaculada Conceição, encontra-se este trecho:
“«A doutrina que sustenta que a Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada e imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis» 65
“O Sumo Pontífice afirma, portanto, que Nossa Senhora, por uma graça singular e em vistas dos méritos de Cristo, a partir do primeiro instante de seu ser foi isenta da mancha do pecado original. Essa doutrina foi revelada por Deus, ou seja, está na Bíblia, e por isso deve ser «crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis».
“Para se avaliar o extraordinário significado da Imaculada Conceição, é preciso ter em conta que, em consequência da queda de Adão, todos os seus descendentes haviam de nascer com o pecado original. Lamentável herança em virtude da qual os sentidos do homem continuamente se revoltam contra a sua razão, expondo-o a novos e incontáveis pecados.
“Durante milênios verificou-se, inexorável, essa lei da maldição. Em determinado momento, porém, os Anjos assistem atônitos a um fato sem precedentes na história da Humanidade decaída: Deus quebranta a funesta lei, e um ser é inteiramente concebido sem pecado original. É Nossa Senhora que surge imaculada, resplandecente, com todo o brilho e todo o fulgor de uma criatura perfeita, como o foram Adão e Eva ao saírem das mãos do Onipotente.
“Pode-se imaginar que, nesse sublime instante, um frêmito de júbilo e de glória percorreu todo o universo, acentuado pelo fato de que Maria, isenta do pecado original, era também a obra-prima da criação. Acima d’Ela haveria de estar, apenas, a humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo.
“Narra a Sagrada Escritura que o Padre Eterno, depois de concluída a obra da Criação, repousou na enlevada consideração do que Ele tinha feito.
“Descansou, porém, tendo-se proposto criar um ser que superasse em maravilha tudo o que até então sua onipotência realizara, uma mulher da qual haveria de nascer o Verbo Encarnado. E foi precisamente no momento da Conceição Imaculada de Nossa Senhora que Deus executou essa sua obra-prima” 66
64) VILLANUEVA, Tomas de. Obras. 3. ed. Madrid: BAC, 1952. p. 164-165.
65) Pio ix. Bula Ineffabilis Deus. In: Documentos Pontifícios. Petrópolis: Vozes, 1953. p. 20.
66) Cfr. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em 7/12/1966. (Arquivo pessoal).
  Continua no próximo post

sábado, 8 de dezembro de 2012

A Imaculada Conceição

Para ser a Mãe do Salvador, Maria “foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função”.
A Ela foram dados, portanto, dotes naturais, dotes humanos, dotes intelectuais, dotes volitivos, dotes, enfim, para ser Mãe de Deus.
No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça”.
“Cheia de graça” aqui é que naquele momento Ela possuía todas as graças que eram necessárias para Ela, todas na plenitude. Mas a cada momento Ela ia de plenitude em plenitude, cada vez ia sendo mais plena, mais plena, mais plena, mais plena até chegar um determinado momento que não dava mais, o corpo não dá mais. Santa Teresa em determinado momento diz a Nosso Senhor:
— Senhor, Senhor, assim não dá, alargai o corpo porque a alma não cabe mais dentro.
Tinha que alargar o corpo porque a alma não cabia mais. Nossa Senhora chegou um determinado momento em que disse a Deus:
— Não cabe mais, não dá mais.
E Deus disse:
— Eu também cheguei num limite, não dá mais, venha!
Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus.
Ela precisava ser sobrenaturalizada ao máximo, não podia ser que n’Ela faltasse alguma coisa, Ela havia de estar completa, completíssima, repleta, repletíssima de todas as graças, não podia ser menos.
Ao longo dos séculos, a Igreja tomou consciência de que Maria, “cumulada de graça” por Deus, foi redimida desde a concepção.
É isso que confessa o dogma da Imaculada Conceição, proclamado em 1854 pelo papa Pio IX:
A beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha do pecado original.
O catecismo, portanto, sintetiza a bula “Ineffabilis Deus” que está citada aqui DS 2803.
Esta “santidade resplandecente, absolutamente única” da qual Maria é “enriquecida desde o primeiro instante de sua conceição” lhe vem inteiramente de Cristo: ...
 Ele é quem deu a Ela, perfeito.
“Em vista dos méritos de seu Filho, foi redimida de um modo mais sublime “. Mais do que qualquer outra pessoa criada, o Pai a “abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais, nos céus, em Cristo” (Ef 1,3). Ele a “escolheu nele (Cristo), desde antes da fundação do mundo, para ser santa e imaculada em sua presença, no amor” (Ef 1,4).
Os Padres da tradição oriental chamam a Mãe de Deus “a toda santa” (“Pan-hagia”; pronuncie “pan-haguía”),
celebram-na como “imune de toda mancha de pecado, tendo sido plasmada pelo Espírito Santo, e formada como uma nova criatura”. Pela graça de Deus, Maria permaneceu pura de todo pecado pessoal ao longo de toda a sua vida.
É sintético, mas eu acho que para nós é um ponto tão importante, tão fundamental porque nós precisamos marcar, mas marcar nossa mariologia, nossa devoção mariológica muito porque ao longo dos tempos dentro de certo veio católico foi-se criando uma espécie de respeito humano em relação a Maria. Se Ela é esta criatura tão excelsa, tão poderosa como nós vamos ver ainda muito mais no dia de hoje e, se tempo houvesse, nós passaríamos o resto da vida falando d’Ela. Ela é tão extraordinária, Ela sozinha esmagou todas as heresias.
O demônio teme mais do que todas as orações feitas por todos os justos, por todos os santos de toda a História, por todos os anjos dos Céus, por todo o sangue dos mártires, por todos os tormentos dos confessores, ele tem pânico, pânico muito mais do que tudo isso de um olhar de Nossa Senhora.
Um olhar de Maria vale mais do que tudo isto junto, de maneira que nós não podemos ter respeito humano em relação a Nossa Senhora, nós precisamos conhecer Nossa Senhora a fundo, nós precisamos ter em relação a Ela um amor, uma devoção muito entranhada.
Na Bula “Ineffabilis Deus” há um trecho que diz o seguinte:
Contanto que não se diga que Maria é Deus, d’Ela pode-se dizer tudo.
Pode-se dizer “tudo” porque Ela tem tudo, Nossa Senhora tem tudo, desde que não se diga que Ela é Deus, pode-se dizer todo o resto. Portanto, está consagrado por um papa e numa bula infalível de que de Maria pode-se dizer tudo, menos que seja Deus.
A Definição do Dogma
  “Por isto, depois de na humildade e no jejum, oferecermos sem interrupção as Nossas preces particulares, e as públicas da Igreja, a Deus Padre, por meio de seu Filho, a fim de que se dignasse de dirigir e sustentar a Nossa mente com a virtude do Espírito Santo; depois de implorarmos o socorro de toda a corte celeste, e invocarmos com gemidos o Espírito consolador; por sua inspiração, em honra da santa e indivisível Trindade, para decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica, e para incremento da religião cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Bem aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a nossa, declaramos, pronunciamos e definimos:
 “A doutrina que sustenta que a Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.
 “Portanto, se alguém (que Deus não permita!) deliberadamente entende de pensar diversamente de quanto por Nós foi definido, conheça e saiba que está condenado pelo seu próprio juízo, que naufragou na fé, que se separou da unidade da Igreja, e que, além disso, incorreu por si, ipso facto, nas penas estabelecidas pelas leis contra aquele que ousa manifestar oralmente ou por escrito, ou de qualquer outro modo externo, os erros que pensa no seu coração.
Ainda ele faz uma exortação por onde ele manifesta os sentimentos de esperança dele ao proclamar esse dogma e termina assim:
“Ninguém, portanto, se permita infringir este texto da Nossa declaração, proclamação e definição,nem contrariá-lo e contravir-lhe. E, se alguém tivesse a ousadia de tentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus Onipotente e dos Bem aventurados Pedro e Paulo, seus Apóstolos.
 “Dado em Roma, junto a São Pedro…
Vamos ver as consequências, uma vez que Nossa Senhora é Imaculada, é de Conceição Imaculada, vamos ver que consequências isso traz.
Isenta da raiz de todos os nossos males, Maria devia ser criada por Deus deslumbrante daquela grandeza sobrenatural que constituía a incomparável glória do homem inocente. A natureza humana, manchada em todos os outros filhos de Adão, readquiria sua ideal beleza em Maria. Pela Imaculada Conceição, os lindos dias do Éden voltavam à Terra.
Tudo aquilo que tinha sido prometido no Paraíso Terrestre, tendo sido perdido pelo pecado, voltou à terra com Nossa Senhora.
“Todos os teólogos são unânimes em admitir que a graça recebida por Maria no próprio ato de sua conceição, foi de extraordinária magnitude, precisamente porque extraordinário foi o amor que Deus, desde o início, tributou Àquela que deveria ser sua futura mãe.
“A graça nunca está só na alma, mas sempre acompanhada de virtudes infusas; é de fé que Deus com a graça concede também as virtudes teologais (fé, esperança e caridade). A estas se acrescentam, como necessário complemento, os dons do Espírito Santo. Ninguém ousaria negar que as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo tenham sido outorgados por Deus a Maria, em sua Conceição, numa medida proporcionada à imensa graça de que foi ornada.
 “É sentimento predominante entre os teólogos que Maria, no primeiro instante de sua existência, teve o uso da razão, formou de Deus um conceito bastante preciso, e teve consciência do insigne privilégio que Lhe era concedido.