Continuação do post anterior
Essa
última consideração torna presente ao nosso espírito a estreitíssima relação
que há entre Nossa Senhora e a Sagrada Eucaristia. Esta, como salienta D.
Alastruey, “é de certo modo uma extensão e complemento da Encarnação, não só
porque por ela Cristo está e continuará presente na Terra até a consumação do
mundo, senão porque, ademais, os imensos benefícios da Encarnação e Redenção se
unem maravilhosamente neste mistério, e nele se prodigalizam aos homens.
“Maria,
consentindo na Encarnação do Verbo, consentiu, ao menos implicitamente, em
todas as consequências da mesma, entre as quais destaca-se de maneira especial,
por sua grandeza, a Santíssima Eucaristia” 28
É o
que indica São Bernardo quando, aludindo à parábola do fermento ou levedura que
uma mulher pôs em três medidas de farinha (Mt. XIII, 33), diz: “Estas são aquelas
medidas do Evangelho, fermentadas para que se faça o pão dos Anjos que o homem
come, o pão que fortalece o coração humano. Ditosa mulher, bendita entre todas
as mulheres, em cujas castas entranhas, com o fogo do Espírito Santo, se cozeu
este pão! Feliz mulher, repito, que nestas três medidas introduziu a levedura
de sua fé!” 29
Ao
lado de São Bernardo, não poucos foram os Santos e autores eclesiásticos que
enalteceram a Santíssima Virgem, enquanto concebendo e nos dando o Pão da Vida.
Por exemplo, o monge beneditino Ruperto de Deutz exclama: “Quando o Anjo disse
a Maria: «Conceberás e darás à luz um Filho, e o chamarás com o nome de Jesus»,
então abriu o Senhor as portas dos Céus e fez chover o maná que haveríamos de
comer, pão do Céu, pão dos Anjos”.30
E
Ricardo de São Lourenço: “Cristo é o pão vivo que desceu do Céu (Jo. VI, 32 e
ss.). A Trindade Divina misturou a água da humanidade com o vinho da divindade quando
uniu a natureza humana à divina, e também a Santíssima Virgem quando acreditou
e consentiu na união” 31
No
exórdio de um de seus famosos sermões, assim se exprime São João de Avila:
“Senhora, em que veremos vossa predileção para conosco? Dai-nos um sinal seguro
de que nos amais. «Se vos amo ou não — diz a Virgem — vede o que fiz por vós;
considerai meus frutos e obras». [...]
“Vede
o fruto de seu ventre, o santo Sacramento que de suas entranhas saiu. E então
Ela nos diz: «Vinde e comei este pão bendito, esta carne que meu seio gerou».
Quão benevolamente nos convida! Se, pois, segundo o fruto conhecemos a que no-lo
deu, Vós, Senhora, alcançai-nos que o degustemos” 32
E
São Pedro Damião, enfim, diz: “Detenhamo-nos aqui, meus irmãos, e consideremos
o quanto somos obrigados à Bem-aventurada Mãe de Deus, e que ações de graças
Lhe devemos render por um tão grande benefício; pois este corpo que Ela
engendrou e que trouxe em seu seio, esse corpo que Ela envolveu em panos e
nutriu de seu leite com cuidados e ternuras maternais, é, digo, esse mesmo
corpo que recebemos no altar. Quaisquer louvores que Lhe possamos render,
estarão abaixo de seus méritos, pois Ela foi quem nos preparou em suas castas
entranhas a carne puríssima que nos é dada em alimento”.
28)
ALASTRUEY, Gregório. Tratado de la Virgen Santísima. 3. ed. Madrid; BAC, 1952. p.
678.
29 BERNARDO. Obras Completas. Madrid: BAC,
1953. Vol. I. p. 278.
30 DEUTZ, Ruperto de. De gloria et hon.
Fuji hominis. Apud ALASTRUEY, Gregório. tratado de la Virgen Santísima. 3. ed. Madrid: BAC.
p. 677-678.
31
LORENZO, Ricardo de San. De laud. B. Mariæ, 1. I. Apud ALASTRUEY, Gregório. tratado
de la Virgen Santísima. 3. cd. Madrid: BAC. p. 678.
32
AVILA, Juan de. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. II. p. 911-912.