segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Nossa Senhora e a Sagrada Eucaristia

Continuação do post anterior  

Essa última consideração torna presente ao nosso espírito a estreitíssima relação que há entre Nossa Senhora e a Sagrada Eucaristia. Esta, como salienta D. Alastruey, “é de certo modo uma extensão e complemento da Encarnação, não só porque por ela Cristo está e continuará presente na Terra até a consumação do mundo, senão porque, ademais, os imensos benefícios da Encarnação e Redenção se unem maravilhosamente neste mistério, e nele se prodigalizam aos homens.
“Maria, consentindo na Encarnação do Verbo, consentiu, ao menos implicitamente, em todas as consequências da mesma, entre as quais destaca-se de maneira especial, por sua grandeza, a Santíssima Eucaristia” 28

É o que indica São Bernardo quando, aludindo à parábola do fermento ou levedura que uma mulher pôs em três medidas de farinha (Mt. XIII, 33), diz: “Estas são aquelas medidas do Evangelho, fermentadas para que se faça o pão dos Anjos que o homem come, o pão que fortalece o coração humano. Ditosa mulher, bendita entre todas as mulheres, em cujas castas entranhas, com o fogo do Espírito Santo, se cozeu este pão! Feliz mulher, repito, que nestas três medidas introduziu a levedura de sua fé!” 29

Ao lado de São Bernardo, não poucos foram os Santos e autores eclesiásticos que enalteceram a Santíssima Virgem, enquanto concebendo e nos dando o Pão da Vida. Por exemplo, o monge beneditino Ruperto de Deutz exclama: “Quando o Anjo disse a Maria: «Conceberás e darás à luz um Filho, e o chamarás com o nome de Jesus», então abriu o Senhor as portas dos Céus e fez chover o maná que haveríamos de comer, pão do Céu, pão dos Anjos”.30

E Ricardo de São Lourenço: “Cristo é o pão vivo que desceu do Céu (Jo. VI, 32 e ss.). A Trindade Divina misturou a água da humanidade com o vinho da divindade quando uniu a natureza humana à divina, e também a Santíssima Virgem quando acreditou e consentiu na união” 31

No exórdio de um de seus famosos sermões, assim se exprime São João de Avila: “Senhora, em que veremos vossa predileção para conosco? Dai-nos um sinal seguro de que nos amais. «Se vos amo ou não — diz a Virgem — vede o que fiz por vós; considerai meus frutos e obras». [...]

“Vede o fruto de seu ventre, o santo Sacramento que de suas entranhas saiu. E então Ela nos diz: «Vinde e comei este pão bendito, esta carne que meu seio gerou». Quão benevolamente nos convida! Se, pois, segundo o fruto conhecemos a que no-lo deu, Vós, Senhora, alcançai-nos que o degustemos” 32

E São Pedro Damião, enfim, diz: “Detenhamo-nos aqui, meus irmãos, e consideremos o quanto somos obrigados à Bem-aventurada Mãe de Deus, e que ações de graças Lhe devemos render por um tão grande benefício; pois este corpo que Ela engendrou e que trouxe em seu seio, esse corpo que Ela envolveu em panos e nutriu de seu leite com cuidados e ternuras maternais, é, digo, esse mesmo corpo que recebemos no altar. Quaisquer louvores que Lhe possamos render, estarão abaixo de seus méritos, pois Ela foi quem nos preparou em suas castas entranhas a carne puríssima que nos é dada em alimento”.

28) ALASTRUEY, Gregório. Tratado de la Virgen Santísima. 3. ed. Madrid; BAC, 1952. p. 678.
29 BERNARDO. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. I. p. 278.
30 DEUTZ, Ruperto de. De gloria et hon. Fuji hominis. Apud ALASTRUEY, Gregório. tratado de la Virgen Santísima. 3. ed. Madrid: BAC. p. 677-678.
31 LORENZO, Ricardo de San. De laud. B. Mariæ, 1. I. Apud ALASTRUEY, Gregório. tratado de la Virgen Santísima. 3. cd. Madrid: BAC. p. 678.
32 AVILA, Juan de. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. II. p. 911-912.