domingo, 10 de fevereiro de 2013

A sabedoria edificou para si uma casa

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Destinada para dar ao Senhor digna morada
O capítulo nono dos Provérbios se abre com este versículo: “A sabedoria edificou para si uma casa”.
Qual é esta sabedoria e que morada construiu ela para seu uso?
São Bernardo nos responde: “Esta sabedoria que era de Deus e que era Deus, vinda a nós do seio do Pai, construiu para si uma casa, e esta casa foi a Virgem Maria, sua Mãe”
Casa ornada pelo Divino Arquiteto
Corroborado pelas opiniões do santo Abade de Claraval e de outros eminentes varões da Igreja, escreve o Pe. Paulo Ségneri, afamado jesuíta e pregador na Corte Pontifícia, no séc. XVII:
“Segundo os santos doutores, a casa que a Sabedoria para si edificou, é a Virgem Santa que o Verbo escolheu desde toda a eternidade por Mãe. Ora, um rei poderoso e rico que deseje construir para si uma mansão, deseja, ao mesmo tempo, que nada se poupe para a regularidade, ornamento e magnificência do edifício.
“A Sabedoria Eterna faria menos por sua morada?
“Não. O Verbo, tendo resolvido tomar um corpo humano no seio de uma Virgem, e de nele permanecer nove meses, não negligenciou nada para adornar este templo de sua divindade, para enriquecê-lo de todos os seus dons, em uma palavra, para torná-lo digno de si. Deste modo a Escritura fala do Verbo sob o nome da Sabedoria, Sapientia ædificavit sibi domum, a fim de nos assinalar que é a sabedoria que Ele emprega, para escolher e formar uma criatura da qual jamais se envergonhará de ser o Filho.
“O Verbo, pois, como hábil arquiteto que nada deixa de irregular, nada de defeituoso, na obra-prima de sua arte, e que lhe dá, pelo contrário, toda a perfeição de que é capaz, o Verbo, disse, longe de suportar em sua Mãe qualquer desordem, qualquer defeito, tomará prazer em aperfeiçoá-La, como numa obra à qual preside sua sabedoria infinita.
“Que prova nos é necessária, depois disso, das grandes prerrogativas da Santíssima Virgem? Pode alguém recusar-Lhe alguma, quando se faz a reflexão de que Ela é a casa que a Sabedoria edificou para si: Sapientia ædificavit sibi domum?” 
Na mesma linha seguem os comentários do Pe. Jourdain:
“Não a um homem, mas ao próprio Deus era mister preparar uma residência, a qual em tudo fosse digna do hóspede divino que a ocuparia, não por um dia, de passagem, mas para nela habitar e dela tomar os elementos de uma nova vida. [..,]
“Tal mansão está necessariamente ao abrigo de qualquer mácula. Ou seja, Maria, Mãe do Deus feito homem, criada e preparada por Ele para se encarnar em seu seio, foi necessariamente isenta de qualquer falta, seja atual, seja original. [...] Isto não basta, acrescenta ainda Santo Agostinho; convinha que Ela fosse ornada e enriquecida de todas as virtudes: «O Filho de Deus não construiu jamais uma casa mais digna de Si do que Maria. Esta habitação nunca foi assaltada pelos ladrões, jamais atacada pelos inimigos, nunca despojada de seus ornamentos». [...1
A mais ilustre habitação de Deus
“São Pedro Damião e São Jerônimo, assim entendem o capítulo III de Isaías: a Santíssima Virgem é verdadeiramente a casa de Deus, o palácio ou a corte real em que o Filho do Rei Eterno, revestido de nossa carne, fez sua entrada neste mundo. «O palácio sagrado do Rei, única habitação d’Aquele que nenhum lugar pôde conter», como diz Santo André de Creta. [...] .
“A Santíssima Virgem Maria é, portanto, a casa de Deus. Se, como diz o Apóstolo, «os que vivem castamente são o templo de Deus», a Virgem, a castíssima Mãe de Deus poderia não sê-lo? Sim, Ela o é, e jamais possuiu Deus moradia mais nobre e mais digna de Si. Por isto diz São Gregório: «Salve, templo vivo da Divindade! Salve, casa equivalente ao Céu e à Terra! Salve, templo digno de Deus!»” 15


15) SÉGNERI, Paulo. Meditações. Apud JOURDATN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol. VIII. p. 1-2.