Comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
E no seio materno sempre santa
Afirma
o eminente mariólogo que “a remissão do pecado original não se pode fazer sem a
infusão da graça santificante. Por isto a Imaculada Conceição não se distingue,
na realidade, da primeira santificação da Mãe de Deus, e se pode chamar sua
graça original” 43.
Maria, santa desde
o primeiro instante de sua vida
Os
Santos e outros abalizados autores, de diversas maneiras exprimiram essa
doutrina.
Em
um de seus arrebatadores sermões dedicados a Nossa Senhora, São Tomás de
Villanueva ensina: “Era necessário que a Mãe de Deus fosse também puríssima,
sem mancha, sem pecado. E assim não apenas quando donzela, mas em menina foi
santissima, e santissima no seio de sua mãe, e santíssima em sua concepção.
Pois não convinha que o santuário de Deus, a mansão da Sabedoria, o relicário
do Espírito Santo, a urna do maná celestial, tivesse em si a menor mácula. Pelo
que, antes de receber aquela alma santíssima, foi completamente purificada a
carne até do resíduo de toda mancha, e assim, ao ser infundida a alma, não
herdou nem contraiu pela carne mancha alguma
de pecado, como está escrito: «Fixou sua habitação na paz (Si. LXXV, 3). Quer dizer, a mansão da divina Sabedoria
foi construída sem a inclinação para o pecado”
Ao
assinalar os principais privilégios que acompanharam a Imaculada Conceição de
Maria, escreve São João Eudes: :
“A
gloriosa Virgem não apenas foi preservada do pecado original em sua concepção,
como foi também adornada da justiça origina’ e confirmada em graça desde o
primeiro momento de sua vida, segundo muitos eminentes teólogos, a fim de ser
mais digna de conceber e dar à luz o Salvador do mundo. Privilégio que jamais
foi concedido a criatura alguma humana nem angélica, pertencendo somente à Mãe
do Santo dos Santos, depois de seu Filho Jesus. [...]
“Todas
as virtudes, com todos os dons e frutos do Espírito Santo, e as oito
bem-aventuranças evangélicas se encontram no coração de Maria desde o momento
de sua concepção, tomando inteira posse e estabelecendo n’Ela seu trono num grau
altíssimo e proporcionado à eminência de sua graça”
Santo
Afonso de Ligório, por sua vez, comenta:
“A
nossa celeste menina, tanto por causa de seu ofício de medianeira do mundo,
como em vista de sua vocação para Mãe do Redentor, recebeu, desde o primeiro
instante de sua vida, graça mais abundante que a de todos os Santos reunidos. E
que admirável espetáculo para o Céu e para a Terra, não seria a alma dessa
bem-aventurada menina, encerrada ainda no seio de sua mãe! Era a criatura mais
amável aos olhos de Deus, pois que, já cumulada de graças e méritos, podia
dizer: «Quando era pequenina agradei ao Altíssimo». E ao mesmo tempo era a
criatura mais amante de Deus, de quantas até então haviam existido.
“Houvera,
pois, nascido imediatamente após a sua Imaculada Conceição, e já teria vindo ao
mundo mais rica em méritos e mais santa do que toda a corte dos Santos. Imaginemos,
agora, quanto mais santa nasceu a Virgem, vendo a luz do mundo só depois de
nove meses, os quais passou adquirindo novos merecimentos no seio materno!”
43)
ALASTRUBY, Gregório. Tratado de la Viigen Santísima. 3. ed. Madrid: BAC, 1952. P. 260.
44)
VILLANUEVA, Tomas de. Obras. 3. ed. Madrid: BAC, 1952. p. 210.
45)
EUDES, Juan. La Infancia Admirable de la Santísima Madre de Dios. Bogotá: San Juan Eudes, 1957. p. 63 e 66.
46) LIGUORI, Afonso Maria de. Glórias de
Maria Santíssima, 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p. 214.