Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada
Eva, Mãe da vida
A segunda e
verdadeira Eva
Assim
“como Jesus Cristo foi chamado pelos Padres o novo Adão, assim também a Virgem
foi chamada a nova Eva. A primeira Eva foi mãe de todos os viventes na ordem da
natureza; a segunda Eva, Maria, o foi na ordem, desmesuradamente superior, da
graça. Se lançarmos, porém, um olhar à primeira mulher depois da culpa, eis que
Maria se nos depara como totalmente diferente.
“Com
efeito, Eva, falando com o Anjo das trevas, que lhe apareceu sob o aspecto de
uma serpente, consentiu na prevaricação e arruinou todo o gênero humano. Maria,
ao contrário, falando com o Anjo da luz, consentiu na reparação do gênero
humano e o salvou. Eva ofereceu ao homem o fruto da morte; Maria, ao contrário,
lhe deu o fruto da vida. Eva foi medianeira da morte, Maria foi medianeira da
vida” 53
Já
no século II encontramos estabelecida essa doutrina, pela autoridade de Santo
Irineu de Lyon, que escreve: “A Humanidade recebeu um novo progenitor (Jesus)
que ocupa o lugar do primeiro Adão. Mas, como a primeira mulher também estava
implicada na queda [do homem] por sua desobediência, o processo curativo começa
igualmente com a obediência de uma mulher. Dando a vida ao novo Adão, Ela vem a
ser a verdadeira Eva, a verdadeira Mãe dos viventes, e a causa de nossa
salvação”54
E
Santo Epifânio, no século IV, deixou este ensinamento: “Eva foi para todos os
homens a raiz funesta da morte e da ruína, porque por ela a morte se introduziu
no mundo. Maria foi para eles a fonte da vida, já que por Ela nos foi restituIda
a mesma, e por meio d’Ela o Filho de Deus veio ao mundo”.55
Fazendo
eco à tradição cristã, o Pe. Bernardes assim se exprime: “Lamentem-se e chorem
os mortais, enquanto filhos de Eva, porque de Eva nada nos aproveitou, exceto a
descendência e progenitura de Maria. Mas consolem-se, enquanto filhos de Maria,
porque Maria nosvivificou por Cristo, e pelo mesmo Cristo já vivificada para a
duração imortal, nos está chamando e convidando para participarmos da mês ma
vida” 56
Também
o Pe. de La Boullaye, S. J., em um de seus célebres sermões na Catedral de
Paris, reafirma a sentença dos Santos e doutores:
“Nas
origens do mundo, Adão nomeou sua esposa Eva, quer dizer, mãe dos viventes.
[...] Adão e Eva, Deus vos criou para serdes o pai e a mãe de nossa raça.
Fostes, porém, os assassinos, pois a vida sobrenatural que deveríeis nos transmitir,
a extinguistes em vós mesmos! [...]
“Nosso
verdadeiro Pai, aquele que devolveu às nossas almas esta seiva de vida divina,
a graça, é Cristo; nossa verdadeira Mãe, é a Virgem que O atraiu do Céu para
este mundo. Sim, Mãe em toda a força do termo, porque é a Ela, depois de Jesus,
que devemos a vida. Mãe, não adotiva, mas real, ainda que seja na ordem
espiritual, por que devemos a seus atos pessoais o nos tornarmos filhos de
Deus, e de podermos chamar verdadeiramente nosso
irmão a Jesus, seu bem-amado Filho” 57
53) ROSCHINI, Gabriel. Instruções
Marianas. São Paulo: Paulinas, 1960. p. 35.
54)
LION, Irineo de. In: QUASTEN, Johannes. Patrología. 3. cd. Madrid: BAC,
1984. Vol. I. p. 299.
55) EPIFANIO. Adv. Hæres. III, hoec 79
PG. 42, 727 ss. Apud ROSCHINI, Gabriel. Op. cit. p. 90, 56) AS MAIS BEL4S PÁGINAS DE BERNARDES: 2000 Trechos
selecionados por NUNES, Mario Ritter (Coord.). São Paulo: Melhoramentos, 1966.
p. 419.
57) LA
BOULLAYE, P. H. Pinard de. Marie:
Chef-d’Oeuvre de Dieu. 4. ed. Paris: Spes, 1948. p. 35-36.