Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Maria
se fez toda para todos
Essa onímoda e constante proteção que a Mãe de Deus
nos concede, foi assim exaltada por São Bernardo: “[Maria] se fez toda para todos;
com uma copiosíssima caridade se fez devedora a sábios e ignorantes. A todos
abre o tesouro da misericórdia, para que todos recebam de sua plenitude:
redenção, o cativo; cura, o enfermo; consolo, o aflito; perdão, o pecador;
graça, o justo; alegria, o Anjo; glória, a Trindade toda; e a própria pessoa do
Filho recebe d’Ela a natureza humana, a fim de que não haja quem se esconda de
seu calor” 69
E Santo Afonso de Ligório, insistindo na necessidade
de recorrermos ao auxílio de Maria, nos aconselha uma lindíssima súplica:
“Digam, pois, todos com grande confiança, invocando
esta Mãe de misericórdia, como Lhe dizia o Pseudo-Agostinho: Lembrai-Vos, ó piedosíssima
Senhora, que não se tem ouvido, desde que o mundo é mundo, que alguém fosse de
Vós desamparado. E por isso perdoai-me se Vos digo que não quero ser o primeiro
infeliz, que, recorrendo a Vós, não consiga o vosso amparo” 70
Refúgio
dos cristãos contra toda sorte de inimigos
No mesmo louvor que ora se comenta, a Virgem
Santíssima é também invocada como o infalível refúgio dos cristãos.
“Desde o tempo das perseguições — escreve Mons.
Dadolle — a Igreja depositou sua confiança no culto que ela devota a Maria.
Esse culto se lê ainda hoje, vivo e imortal, sobre os muros das catacumbas,
onde o encontram estampado em desenhos e em cores. A imagem da Virgem Mãe,
colocada nas principais absides dessas criptas sagradas, onde a fé dos
primeiros cristãos ia se afervorar ou se defender, mostra-nos que, desde esses
primitivos tempos, a sociedade cristã conhecia seu refúgio seguro contra todas
as formas de ataques do inimigo” 71
Semelhante é a opinião do Fr. Garrigou-Lagrange, que
diz: “Maria é o socorro dos cristãos, porque o socorro é o efeito do amor, e
Ela possui a plenitude consumada da caridade, que sobrepuja a de todos os
Santos e Anjos reunidos.
“Nossa Senhora ama as almas resgatadas pelo Sangue de
seu Filho mais do que saberíamos dizer, assiste-as em suas penas e as ajuda na prática
de todas as virtudes. [...] Ela é o socorro, não apenas das almas individuais,
mas dos povos cristãos. [...1
“O título de Nossa Senhora das Vitórias nos recorda
que, frequentemente, sua intervenção foi decisiva sobre os campos de batalha
para libertar os cristãos oprimidos” 72
O
Refúgio por excelência
Por fim, ouçamos novamente o Prof. Plinio Corrêa de
Oliveira, cujas palavras são como um resumo dos ensinamentos que acabamos de
considerar: “Ao longo de toda a sua existência, a Igreja encontrou na
Santíssima Virgem sua grande protetora.
“Nossa Senhora esteve presente nas batalhas onde os
guerreiros católicos derrotaram os exércitos de seus inimigos, e nas lutas dos povos
fiéis contra os infiéis.
“Nossa Senhora está, sobretudo, presente na
ininterrupta luta de cada homem contra seus defeitos, para adquirir maiores
virtudes. E ainda que não nos lembremos de Maria, Ela intercede por nós no alto
do Céu, com uma misericórdia que nenhuma forma de pecado pode esgotar.
“Nossa Senhora é o perene e contínuo refúgio que
jamais se fecha para qualquer pecador. Ou seja, Ela não é um refúgio apenas
para os que tenham cometido faltas leves, senão que o é também para os autores
de pecados de gravidade inimaginável e para as ingratidões inconcebíveis. Pois
é próprio da grandeza da Mãe de Deus, na qual tudo é admirável e
extraordinário, o ser um imenso e perfeito refúgio.
“Desde que o pecador se volte para Ela, a Virgem
Santíssima, cheia de bondade, o protege, concede-lhe toda espécie de perdão,
limpa-lhe a alma, dá-lhe forças para praticar a virtude e o transforma de filho
pródigo em homem bom e fiel”
69) BERNARDO. Obras Completas. Madrid:
BAC, 1953. Vol. I. p. 725.
70) LIGÓRIO, Afonso Maria de. Glórias de
Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1964. p.92.
71) DADOLLE. Le Mois de Marie. Paris: J.
Gabalda, 1925. p. 251.
72) GARRIGOU-LAGRANGE, Reginald. La Mère du Sauveur et notre vie
intérieure. Paris: Du Cerf, 1948. p. 275-276.