Continuação dos comentários do Pequeno Ofício da Imaculada
Estrela de Jacob Aparecida
Narra
o Livro dos Números (XXII e ss.) que os judeus, a caminho da Terra Prometida,
acamparam nas planícies de Moab, onde estava situada Jericó, além do Jordão. À
vista do povo de Israel que assim se aproximava, Balac, rei dos moabitas,
temendo pelos habitantes de seus territórios, mandou embaixadores a Balaão,
adivinho do país de Amon, rogando-lhe viesse amaldiçoar os israelitas.
Contudo,
dos lábios do vidente, por obra de Deus, saíram palavras de bênção, e em quatro
oráculos profetizou acerca dos destinos daquele povo que “cobria a face da terra”.
No
quarto e último vaticínio, Balaão, filho de Beor, proferiu estas palavras:
“Nascerá uma estrela de Jacob, e levantar-se-á uma vara de Israel, e ferirá os
capitães de Moab...” (Núm. XXIV, 17).
Maria, a estrela
de Jacob
O
renomado mariólogo francês, Auguste Nicolas, assim se refere a essa prefigura
da Santíssima Virgem:
“Eis
a impressão que desperta e despertará sempre o doce, puro e santamente gracioso
nome de Maria: é o mais generalizado e o menos comum de todos os nomes, que se
empresta e não se dá jamais às que o portam (tão próprio é da Virgem que o
santificou), e à qual sempre retorna, puro de suas aplicações, como o raio de
luz volta à sua estre
“E
tal é a significação do inefável nome de Maria: Estrela. Estrela do mar, estrela da manhã, imagem delicada da vinda
de Maria ao mundo. Desta mesma estrela, quinze séculos antes, Balaão prognosticava
o aparecimento, quando disse, profetizando a dominação universal do Messias: «Eu o verei, porém não agora: eu o fitarei,
porém não de perto; UMA ESTRELA SE ERGUERÁ DE JACOB, um cetro se levantará de
Israel, ferirá os príncipes de Moab, e reinará sobre todos os filhos de Set».
Profecia que todos os antigos hebreus aplicavam unanimemente ao Messias; que,
segundo a relação de Josefo, constituía a preocupação universal de sua nação na
época da vinda de Jesus Cristo, e que, segundo o mesmo historiador e o Talmud,
favoreceu o êxito passageiro do falso Messias Barkochebas, pela significação deste nome, que quer dizer, filho da
estrela.
“A
Estrela, cujo verdadeiro Filho reina há dezoito séculos 61 sobre todos os filhos de Set (quer dizer, sobre a
raça humana, sendo Set o filho de Adão), Maria, ao levantar-se sobre o
horizonte do mundo, foi como o dealbar da manhã da verdade, como o despontar do
dia da fé, que difundiu sobre o mundo
Jesus Cristo, luz eterna, como o chama a Igreja” 62
Estrela que
desbarata os caudilhos de Moab
Outra
magistral interpretação da Estrela de Jacob acha-se em São Boaventura:
“A
estrela superior, que é a Bem-aventurada Virgem, nos conduz a Cristo. E d’Ela
se entende o que se diz no livro dos Números, com estas palavras: «De Jacob
nascerá uma estrela, e de Israel se levantará uma vara que ferirá os capitães
de Moab». Chama-se estrela a Bem-aventurada Virgem por sua constante e inabalável
virtude. Por Moab se entendem os voluptuosos. Capitães de Moab são os demônios
ou os pecados capitais. Esta estrela, quer dizer, a Bem-aventurada Virgem, desbarata
os caudilhos de Moab, que são os sete pecados capitais: o espírito de soberba,
sendo humílima; o espírito de inveja, sendo benigníssima; o espírito de ira,
por ser mansíssima; o espírito de preguiça, por ser devotíssima; o espírito de
avareza, por sua liberalíssima generosidade; o espírito de gula, por sua
moderadíssima temperança, e, por último, o espírito de luxúria, sendo como é integérrima
e onimodamente casta. “Desbaratou, pois, esta estrela os caudilhos de Moab” 63
61) Auguste Nicolas, ardoroso católico e
ilustre magistrado de Bordeaux, escrevia em meados do século XIX.
62)
NICOLAS, Auguste. La Virgen María y el Plan Divino. Barcelona: Religiosa, 1866.
Vol. II. p. 142-143.
63) BOAVENTURA. Obras Completas. Madrid:
BAC, 1947. Vol. II. p. 467.