sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sem devoção a Nossa Senhora, a religião fica tingida de racionalismo


Estas duas disposições — humildade e confiança — constituem o próprio fundo do sentimento religioso. E é por esta razão que toda alma religiosa compreende a devoção à Santíssima Virgem.
Uma alma que cessa de compreendê-la deixa de ser religiosa ou está prestes a fabricar para si uma religião mais ou menos tingida de racionalismo, tal como certos estóicos batizados que formaram sua espiritualidade mais nos livros de moral dos estudos universitários do que nos autores ascéticos. Para essas almas, o Cristo é mais um modelo que posa diante delas, do que um amigo que vive nelas e as faz viver. Dia virá em que, após inúteis esforços, elas reconhecerão por fim sua radical fraqueza e se lançarão humildemente nos braços de Deus. Nesse dia, elas começarão também a se voltar para a Santíssima Virgem.
Eis a razão pela qual tantas pessoas aos poucos deixaram de ter uma religião e se contentam com uma simples filosofia: elas eliminaram a devoção à Santíssima Virgem para irem mais diretamente — conforme pensavam — a Jesus Cristo. Ora, perdendo de vista a Santíssima Virgem, eles rapidamente perderam também a Jesus Cristo.
Diz o Cardeal Newman, em sua magnífica “Carta a Pusey” sobre o culto a Nossa Senhora: “A Maria é confiada a guarda da Encarnação. Assim, se olharmos para a Europa, verificaremos que as nações e os países que perderam a fé na divindade de Cristo são precisamente aqueles que abandonaram a devoção à sua Mãe, e que, por outro lado, os que mais se distinguiram no seu culto guardaram a ortodoxia...”.
Traçando o mapa da devoção a Maria, teríamos traçado o próprio mapa da expansão e da conservação da fé cristã, e isto não apenas no século XIX nem a partir da Reforma, mas ao longo de toda a História da Igreja, como concluirá o próprio Neubert em sua tese, no que toca aos primeiros séculos cristãos, onde “em suma, toda a história das origens da mariologia se apresenta como a história da defesa e da dilatação da cristologia. A Mãe era a garantia do Filho, e a glória do filho começava a jorrar sobre a Mãe”.