domingo, 14 de outubro de 2012

Lembrar-Vos-eis de mim?



Dizei-me, Senhora, dizei-me:
Quando eu partir desta terra,
Lembrar-Vos-eis de mim?

Quando forem divulgados
Meus tempos no mal gastados
E todos os pecados
Que eu, mesquinho, cometi,
Lembrar-Vos-eis de mim?

Quando o momento chegar
Do juízo de aterrar,
Remédio espero alcançar
De vossos doces rogos:
Lembrar-Vos-eis de mim?

Quando estiver na afronta
De prestar rigorosa conta
Dos muitos bens que de Vós
E de vosso Filho recebi,
Lembrar-Vos-eis de mim?

Quando minha alma aterrada,
Temendo ser condenada
Por se ver muito culpada,
Tiver mil queixas de si,
Lembrar-Vos-eis de mim?

Dizei-me, Senhora, dizei-me:
Quando eu partir desta terra,
Lembrar-Vos-eis de mim?

(Tradução do poema “Dime, Señora”, de Juan Álvarez Gato, 1445-1510)