quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Nossa Senhora do Bom Sucesso

Na pequenina Quito do século XVI um grande acontecimento se deu: Maria Santíssima apareceu a uma religiosa concepcionista e lhe fez revelações sobre o futuro de seu país
No dia 2 de fevereiro, a comunidade das Irmãs Concepcionistas  celebra  em  Quito, Equador, a festa de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Qual é a história desta devoção?
Madre Mariana de Jesus Torres e o triunfo de Maria
Madre  Mariana  de  Jesus  Torres, religiosa concepcionista, foi ao  Equador  em  1576,  quando  ainda  era menina, acompanhando sua tia,  Madre Mariana de Jesus Taboada, a  qual partia com a intenção de lá fundar um convento. 
Com  elas  viajaram  várias  outras  religiosas espanholas, as quais se fixaram em Quito — cidade que naquele tempo era ponta avançada da  penetração  espanhola  na  América  do Sul. Pelo que se conhece de suas vidas, essas religiosas fundadoras morreram em odor de santidade  e eu tenho muita esperança de que  — para a maior glória do Equador e  das Américas em geral — elas sejam  canonizadas.
Na  pequenina  Quito  daqueles  tempos,  Madre  Mariana  de  Jesus  Torres, sendo abadessa do convento,  teve extraordinárias visões e revelações privadas de Nossa Senhora.
Embora não tomemos estas revelações como dogma — a Revelação oficial está encerrada com o Novo Testamento — devemos considerá-las especialmente.
Tais  revelações  prenunciam  um  tempo  onde  o  Equador  se  tornaria independente da Espanha e seria sacudido por uma grande revolução de caráter religioso-temporal;  no mundo inteiro a Fé se extinguiria  em muitas almas, e haveria inúmeras  calamidades  morais.  Mas  após  esses acontecimentos terríveis  seria  instaurado  um tempo de glória  para  a  Igreja.
História da imagem
Qual é a história da imagem de  Nossa Senhora que a partir de então  passou a presidir o convento?
Numa das aparições1, a Santíssima Virgem pediu a Madre Mariana  que fizesse uma imagem sua, em tamanho real. Para isto, a vidente desejou medi-la a fim de que se cumprisse esse desejo.
Então,  Nossa  Senhora  segurou uma das pontas  do  cordão  franciscano  que  trazia  em  sua  cintura,  para  auxiliar  Madre Mariana a tomar suas medidas.
A confecção da imagem foi confiada a um escultor local2.
Certo  dia,  ao  subir  ao  coro  da  igreja  do  Convento    lugar  onde  esculpia a imagem — qual não foi  a surpresa do escultor: encontrou a  imagem pronta! Ela estava magnífica!
Nenhuma mão humana havia terminado a imagem; durante toda a  noite a igreja havia permanecido fechada. É uma imagem feita por mão de anjo3.
O que a imagem nos comunica
O que essa imagem nos inspira no  fundo da alma?
A  mensagem  que  ela  contém:  uma  grande  promessa,  um  grande triunfo. Algo posto pela graça se acrescenta aos recursos da escultura e anuncia, no fundo de nossas almas, as alegrias e as certezas da promessa. 
O báculo e as chaves, que Nossa  Senhora traz consigo, dão a entender que é Ela quem abre e fecha  os  acontecimentos  grandiosos;  mas também as misérias e catástrofes dos homens; enfim, as vitórias de Deus dentro da História.
Mais do que as jóias, quem A  adorna  realmente  é  seu  Divino  Filho!  Ela  O  traz  triunfalmente,  como quem diz: “Estou vencendo,  mas venço para que  Ele vença. Eu  sou Rainha, sim, porém o sou porque Ele é o Rei!”
Nela há também um aspecto sobre  o  qual  chamo  a  atenção:  Ela  comunica  sua  virginalidade  extraordinariamente. É impossível  olhar para esta imagem sem ter  a impressão de que, em torno  dela, a pureza se irradia.  Ela está inundada por uma  felicidade de alma que é prêmio pela virtude da pureza.
A  pureza  concede  isto  à  alma  que  a  pratica:  segurança,  discernimento, dignidade,  compostura por onde se calca  aos  pés  os  infortúnios. Daí provem a louçania da  vitória e do triunfo  transmitida por essa imagem.
A luta ainda vai ser maior
Deste modo Ela  nos prepara para as  agruras da luta, falando-nos  da  alegria e da glória que  virão.
Antigamente,  até  meados  do  século  passado,  talvez, não se conheciam  os  anestésicos, e as operações  se faziam a frio. O  paciente — muitas  vezes  acordado    de vez em quando,  perguntava ao médico como ia o andamento da cirurgia. 
Era  compreensível  que  o  cirurgião, amigo do paciente — ou simplesmente  movido  por  sentimentos  de compaixão que aquelas dores não  podiam deixar de causar —, durante  a primeira fase da operação lhe dissesse: “Vai indo bem, eu estou conseguindo abrir tal zona, já estou em  tal outra, etc.; daqui a pouco vem a  extração.” Este “daqui a pouco vem  a extração” animava o paciente! Ou  seja, as fases mais delicadas do perigo estão se aproximando e vão terminar. 
Depois  que  a  amputação  foi  realizada, se a dores persistem ou aumentam, o que faz  o médico? Ele diz: “Olhe, o pior já foi, daqui por diante as  dores vão declinar,  nós já estamos chegando ao fim.” Ele começa  a apontar  para aquilo que é o  ideal do doente: o  fim da operação. 
É o caminho da  normalidade:  na  fase ascendente fala-se  que  tudo  vai  bem  e  incita-se  a  ter coragem; quando  ela  atinge  um  ponto  no  qual  é  preciso  toda  a  resistência,  compreende-se  que  se  diga  “agora  vai  melhorar”. 
Nossa  Senhora  do  Bom  Sucesso  dá-nos  a  impressão de que está dizendo no fundo de nossas almas:  “Meus filhos, a luta  ainda vai ser maior,  mas  o  meu  Reino  já vai começar a luzir no horizonte!” É a alegre e vitoriosa proclamação do Reino de Maria
1) No ano de 1610.
2) A própria Virgem Maria escolheu o  escultor, dizendo: “Para esta tarefa,  deves chamar Francisco del Castillo,  o qual é um hábil escultor, e dar-lhe  as descrições de minhas medidas.”
3) De fato, Madre Mariana teve uma visão dos anjos concluindo a imagem  enquanto o escultor se ausentava para buscar vernizes e tintas para o acabamento.