domingo, 1 de novembro de 2015

A fim de encarnar-se o Verbo eterno, e ser humilhado

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora 
A fim de encarnar-se o Verbo eterno, e ser humilhado,
E o homem, como o sol, ao Céu ser levantado.
Como anteriormente vimos, a Redenção preventiva de Nossa Senhora teve em vista a Encarnação do Verbo. Que sua Mãe fosse Imaculada, era uma gloriosa exigência do nascimento do Filho Unigênito de Deus. Os versos em epígrafe aludem, pois, a este grandioso mistério de nossa fé, bem como à salvação e à honra que dele resultou para toda a humanidade.
Encarnação do Verbo e deificação do homem
Com efeito, “a Encarnação não teve unicamente por fim o de reparar a ofensa feita a Deus por nossos pecados, de curar a humanidade de suas feridas, e de libertá-la da escravidão ao tirano dos corpos e das almas. Ela também nos devolveria a qualidade de filhos adotivos [de Deus), perdida pela revolta original; ela iria deificar o homem, fazer dele o herdeiro do Pai e o co-herdeiro de Jesus Cristo.
“Não há nada que nossos santos Doutores tenham amiúde e mais magnificamente ensinado. «Se o Verbo se fez carne, se o Filho eterno do Deus vivo se tornou filho do homem, é para que o homem, entrando em sociedade com o Verbo, estreitando a adoção, se tornasse filho de Deus».
“E ainda: «O Filho de Deus, seu Unigênito segundo a natureza, por uma maravilhosa condescendência, tornou-se filho do homem; a fim de que nós, filhos do homem por nossa natureza, nos tornássemos filhos de Deus por sua graça». E esta doutrina, é o próprio Deus que por seus Apóstolos a transmitiu aos Padres: «Quando veio a plenitude dos tempos, enviou Deus a seu Filho, feito de mulher feito sob a Lei [...], para que recebêssemos a adoção de filhos» (Gál. IV, 4-5). [...]
“Sim, tal é o fim próximo, imediato, da união do Filho eterno com nossa natureza: fazer do homem um filho adotivo de Deus, o irmão do Primogênito. [...]
“[E], com efeito, posto que Deus queria nos elevar até Ele, não importava que Ele descesse primeiramente até nós? Que meio mais natural e mais divino de nos fazer entrar em sua família, do que se unir Ele próprio à nossa? Como, enfim, convidar-nos mais eficazmente a partilhar, por adoção, a honra da filiação divina do que nos dando o Filho, eterno objeto da complacência paterna, por irmão mais velho, um irmão de nossa carne e de nosso sangue?” 1
Completando esse ensinamento do Pe. Terrien, vem a propósito o que encontramos no Tesouro de Oratória Sagrada:
“Trata-se de que o Filho de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade augustíssima, engendrado desde a eternidade no seio do Pai, e igual a Ele em tudo, deve se humilhar, tomar a forma de escravo, reduzir-se à condição de homem, e se constituir vítima por nossas culpas.
“Trata-se de que [o Verbo de Deus] deve tomar um corpo e uma alma como a nossa, nas entranhas de Maria, e unir de um modo tão maravilhoso e tão verdadeiro nossa miserável natureza à sua, que ambas subsistam unidas e distintas numa única pessoa que nós ado ramos com o nome de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

“Trata-se de que Ele deve cumprir tudo isto para apagar a maldição que merecemos pelo pecado de nosso primeiro pai, assistir-nos em nossas misérias, instruir nossa mente, dirigir nossa vontade e santificar nossa alma; elevando-nos nesta vida, por meio da fé e da graça, até àquele Deus, com quem seremos bem-aventurados e imortais na vida futura” 2
7) TERRIEN, J.-B. La Mère de Dieu et la Mère des Hommes. 8. ed. Paris: P Lethielleux, 1902. Vol. I. p. 80-81.
8) TESORO DE ORATORIA SAGRADA. 2. ed. BULDÚ, Ramon (Dir.). Barcelona: Pons, 1883. Vol. IV p. 167.