Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
E o homem, como o sol, ao Céu ser
levantado.
Como
anteriormente vimos, a Redenção preventiva de Nossa Senhora teve em vista a
Encarnação do Verbo. Que sua Mãe fosse Imaculada, era uma gloriosa exigência do
nascimento do Filho Unigênito de Deus. Os versos em epígrafe aludem, pois, a
este grandioso mistério de nossa fé, bem como à salvação e à honra que dele
resultou para toda a humanidade.
Encarnação do Verbo e deificação
do homem
Com
efeito, “a Encarnação não teve unicamente por fim o de reparar a ofensa feita a
Deus por nossos pecados, de curar a humanidade de suas feridas, e de libertá-la
da escravidão ao tirano dos corpos e das almas. Ela também nos devolveria a
qualidade de filhos adotivos [de Deus), perdida pela revolta original; ela iria
deificar o homem, fazer dele o herdeiro do Pai e o co-herdeiro de Jesus Cristo.
“Não há
nada que nossos santos Doutores tenham amiúde e mais magnificamente ensinado.
«Se o Verbo se fez carne, se o Filho eterno do Deus vivo se tornou filho do
homem, é para que o homem, entrando em sociedade com o Verbo, estreitando a
adoção, se tornasse filho de Deus».
“E
ainda: «O Filho de Deus, seu Unigênito segundo a natureza, por uma maravilhosa
condescendência, tornou-se filho do homem; a fim de que nós, filhos do homem
por nossa natureza, nos tornássemos filhos de Deus por sua graça». E esta
doutrina, é o próprio Deus que por seus Apóstolos a transmitiu aos Padres:
«Quando veio a plenitude dos tempos, enviou Deus a seu Filho, feito de mulher feito sob a Lei [...], para que recebêssemos a adoção de filhos» (Gál. IV,
4-5). [...]
“Sim,
tal é o fim próximo, imediato, da união do Filho eterno com nossa natureza:
fazer do homem um filho adotivo de Deus, o irmão do Primogênito. [...]
“[E],
com efeito, posto que Deus queria nos elevar até Ele, não importava que Ele
descesse primeiramente até nós? Que meio mais natural e mais divino de nos
fazer entrar em sua família, do que se unir Ele próprio à nossa? Como, enfim,
convidar-nos mais eficazmente a partilhar, por adoção, a honra da filiação
divina do que nos dando o Filho, eterno objeto da complacência paterna, por
irmão mais velho, um irmão de nossa carne e de nosso sangue?” 1
Completando
esse ensinamento do Pe. Terrien, vem a propósito o que encontramos no Tesouro
de Oratória Sagrada:
“Trata-se
de que o Filho de Deus, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade augustíssima,
engendrado desde a eternidade no seio do Pai, e igual a Ele em tudo, deve se
humilhar, tomar a forma de escravo, reduzir-se à condição de homem, e se constituir
vítima por nossas culpas.
“Trata-se
de que [o Verbo de Deus] deve tomar um corpo e uma alma como a nossa, nas
entranhas de Maria, e unir de um modo tão maravilhoso e tão verdadeiro nossa
miserável natureza à sua, que ambas subsistam unidas e distintas numa única
pessoa que nós ado ramos com o nome de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e
verdadeiro homem.
“Trata-se
de que Ele deve cumprir tudo isto para apagar a maldição que merecemos pelo
pecado de nosso primeiro pai, assistir-nos em nossas misérias, instruir nossa
mente, dirigir nossa vontade e santificar nossa alma; elevando-nos nesta vida,
por meio da fé e da graça, até àquele Deus, com quem seremos bem-aventurados e
imortais na vida futura” 2
7)
TERRIEN, J.-B. La Mère de Dieu et la Mère des Hommes. 8. ed. Paris: P Lethielleux, 1902. Vol. I. p. 80-81.
8)
TESORO DE ORATORIA SAGRADA. 2. ed. BULDÚ, Ramon (Dir.). Barcelona: Pons, 1883.
Vol. IV p. 167.