sábado, 15 de outubro de 2011

Nossa Senhora de las Lajas

Uma senhora branca com um menino nos braços
O prodigioso fato se deu no ano de 1754.
Pela escarpada e serpeante trilha do desfiladeiro, caminhava Maria Meneses de Quiñones, humilde e piedosa descendente de caciques indígenas, rumo a Ipiales, onde trabalhava como empregada doméstica. Levava aos ombros sua pequena filha Rosa, surda-muda de nascimento. Fatigada pela rudeza do trajeto, sentou-se em uma gruta para descansar, enquanto a menina divertia-se subindo pela rocha. De repente, ouviu a filha dizer, com uma voz límpida e clara:
 - Mãezinha! Aqui há uma senhora branca com um menino nos braços.
Cheia de espanto, correu com sua filhinha até a casa dos patrões, onde narrou o ocorrido. Mas ninguém lhe deu crédito.
Na volta, ao passar em frente à entrada da gruta, a filha gritou:
—- Mãezinha! A senhora branca está me chamando!
Muito assustada, pois nada via, a índia apressou o passo e, chegando a Potosí, logo contou a parentes, amigos e vizinhos o que se passara. A notícia espalhou-se rapidamente por toda a região.
Decorridos poucos dias, Rosa desapareceu de casa. Após procurá-la em vão por toda as partes, a angustiada mãe teve em seu coração a certeza de que na gruta encontraria a filha, pois esta lhe repetia com frequência: A senhora branca está me chamando! Para lá se dirigiu, pressurosa.
Entrando, deparou-se maravilhada com a seguinte cena: sua filhinha ajoelhada aos pés de uma formosa dama, brincando carinhosa e familiarmente com um menino louro. O Filho da Virgem Santíssima havia descido dos braços de sua Mãe e proporcionava à alma inocente de Rosa suas divinas e inefáveis ternuras.
Extasiada, a índia caiu de joelhos e elevou aos Céus suas preces de veneração à Mãe de Deus e de agradecimento por ter sido objeto de um tão insigne favor. Porém, receando receber de novo o menosprezo dos incrédulos, ao sair decidiu nada revelar a ninguém. Mas, desde então, passou a ir amiúde com sua filha à gruta, levando flores silvestres para ornar a imagem da “senhora branca”.
Essa situação durou algum tempo, até o dia em que Rosa adoeceu gravemente, morrendo pouco depois. A pobre índia, amargurada, não hesitou. Levou para a gruta o cadáver da menina e depositou-o aos pés da milagrosa imagem. Com encantadora simplicidade, pediu a Nossa Senhora que devolvesse a vida à filhinha, em atenção ao amor que esta tinha por Ela.
Sua súplica foi atendida. A Medianeira Onipotente obteve de seu divino Filho o milagre. A devota índia chegara cheia de confiança, carregando nos braços um inerte cadáver; regressou transbordante de gratidão, conduzindo a filha ressuscitada!
Um tão imenso prodígio não podia ser mantido em segredo! Maria foi para Ipiales, onde narrou o que tinha acontecido. Desta vez, todos creram!... Apesar de ser já noite alta, dirigiram-se para a igreja e deram a notícia ao Pároco. Este fez tocar os sinos, reunindo uma grande multidão que o seguiu a caminho da gruta, onde chegaram ao romper da aurora.
Entraram todos na gruta, iluminada por luzes extraordinárias, e viram a imagem da Santíssima Virgem, gravada na pedra. O Pároco não teve dúvidas. Reconhecendo no fato uma portentosa manifestação da Rainha do Céu e da Terra, mandou imediatamente buscar tudo quanto era necessário para celebrar ali uma Missa. Era o dia 15 de setembro de 1754.
A imagem
É indescritivelmente bela a imagem da Virgen de las Lajas (em português, Virgem das Lajes). Apresenta-se Ela de pé sobre uma meia-lua, ladeada por São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão, ambos ajoelhados. Sua face, de resplandecente louçania, transmite ricas e variadas impressões. Nela transparece o domínio absoluto de um espírito eminentemente contemplativo, posto em Deus, no sublime, na eternidade. Os longos e delicados cabelos, a ampla fronte, os olhos cheios de luz enfim, todo o harmonioso conjunto comunicam reflexão, serenidade e bondade, a par de majestade, decisão e firmeza. Seu traje é composto de uma túnica vermelha, recamada de belos arabescos dourados, e de um manto azul com orla dourada. Segura na mão esquerda o Menino Jesus, que inclina a cabeça enquanto entrega um cíngulo para a túnica de São Francisco. De sua mão direita, pende um Rosário que Ela oferece a São Domingos. O conjunto é grandioso.
Inumeráveis peregrinos lá comparecem para venerar Nossa Senhora de las Lajas, implorando-lhe toda sorte de graças e favores, sempre atendidos com bondade maternal e largueza régia. As muletas depositadas no Santuário e a enorme quantidade de placas de agradecimento dão um mudo mas eloquente testemunho das inumeráveis curas obtidas pela intercessão da celestial senhora branca”.
O Papa Pio XII determinou a coroação oficial da imagem em 1952 e dois anos depois elevou à categoria de Basílica Menor o grandioso santuário gótico construído em honra de Nossa Senhora.
Conta-se que antigamente os pintores, em vez de assinar suas obras, marcavam-nas com seu sinete pessoal. Desse costume parece participar o próprio Deus, ao imprimir numa rocha a imagem de sua Mãe Santíssima. Pois a Virgen de las Lajas bem pode ser cognominada de o Sinete de Deus na criação...