quarta-feira, 25 de março de 2015

A Anunciação do Anjo e a Encarnação do Verbo

Reflexões a respeito da Anunciação do Anjo e a Encarnação do Verbo

A Anunciação de si está ligada intimamente com um dos principais mistérios de nossa fé, que é a Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A Encarnação é um mistério. Porque tomar a natureza humana, um ente humano, com seu corpo, sangue, alma; e unir essa natureza humana à divindade, numa pessoa que não é humana, que é divina – não houve pessoa humana, mas apenas pessoa divina –, é algo que nós não temos capacidade para chegar a entender inteiramente isso. Nossa inteligência não ultrapassa os umbrais do sobrenatural. O sobrenatural consegue ser percorrido por nós às apalpadelas e pela virtude da fé, sem a virtude da fé nós não entramos nele.
¯ Levem em consideração que, por um decreto divino, um arcanjo, São Gabriel, desce dos Céus, se apresenta diante de Nossa Senhora e propõe a Ela que Ela, jovem de seus  16, 17 anos, puríssima, virginalíssima, humilíssima – porque Ela queria ser escrava da mãe do Messias, jamais havia passado pela cabeça dEla a idéia de que pudesse ser mãe do Messias –, que Ela seja a mãe do Messias.
Mais: é possível que Ela nem soubesse do mistério da Encarnação, até esse presente momento; é possível que não tivesse tido notícias  a respeito disso.
De repente Ela vê um arcanjo diante de si.
¯ Segundo a crença dos que viviam na fase do Antigo Testamento, o ver um anjo era sinal de morte imediata ou próxima. Foi o susto que levou São Zacarias quando viu um arcanjo a lhe anunciar que sua esposa Isabel, conceberia um filho: que seria São João Batista.
Ela, Nossa Senhora, vê o anjo e não se espanta. Ela toma a presença do arcanjo com toda a naturalidade, porque o comércio dEla com o sobrenatural era total.
¯ Este arcanjo diz o quê para Ela? Diz que Ela é “cheia de graças”.
Ela não refuta, Ela não discute, dentro da sua humildade Ela não diz: “Não, isso não é bem assim”. Ela aceita.
Por que, sendo humilde, Ela aceita? Porque a humildade é a verdade. Ela não podia negar porque Ela mentiria, e Ela não podia mentir.
Ela aceita porque coincide com a análise que Ela faz imediatamente, e chega à conclusão que, de fato, é cheia de graça.
¯ “O Senhor é convosco”.
Ela também não refuta, porque, de fato, Ela sentia que Deus estava com Ela.
¯ O anjo então propõe a Ela que seja mãe de Deus.
Ela não diz que não está à altura, em nenhum momento. Ela não diz que não tem qualidades para aquilo. Ela levanta um problema, que é o do voto que Ela fez: Ela fez um voto de conservar a virgindade, e não pode romper esse voto.
Por isso Ela ficou perturbada. A perturbação dEla veio de um problema de consciência: “Como serei eu mãe, uma vez que fiz um voto de castidade perpétuo?”.
O anjo a tranquiliza, e diz:
Não vos perturbeis, porque isto será feito sem que este voto seja rompido.
Resposta d’Ela:
Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra.
¯ E imediatamente se dá o princípio da conformação, da configuração, da formação do corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo; ao mesmo tempo que da alma.
Uma corrente não pouco numerosa diz que a alma é infundida no corpo apenas no terceiro, quarto mês de gestação. Parece-nos absurdo, porque outra corrente de teólogos mais numerosa afirma a alma é infundida no corpo a partir do momento que começa a mover-se a configuração do corpo no claustro materno.
Assim, naquele momento em que Nossa Senhora diz: “Eis a Escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra”, a alma de Nosso Senhor Jesus Cristo, unida hipostaticamente à divindade, à segunda Pessoa da Santíssima Trindade, esta alma e este corpo se fizeram presentes no claustro maternal de Nossa Senhora.


¯ Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, começou a se constituir ali. E Ela passou a ser o mais rico, o mais extraordinário, o mais divino de todos os sacrários e tabernáculos da terra. Ela passou a conduzir a Nosso Senhor Jesus Cristo em corpo, sangue, alma e divindade.
Consideremos que nós, hoje, quando queremos adorar Nosso Senhor, nós procuramos um tabernáculo, nos ajoelhamos e passamos a adorá-Lo; ou, então, fixamos uma hóstia consagrada.
Ela... voltava-se para o seu interior, porque Deus – corpo, sangue, alma e divindade – estava dentro dEla!
¯ Imaginem o que deve ter sido o respeito e a adoração de uma mãe que carrega no seu claustro materno não um filho comum, mas o Criador de todo o universo.
As canções de Natal falam do Criador: “Ó Rei dos céus, ó Rei dos reis, ó Rei de todo universo e da criação... que se encontra deitado numas palhas...” Mas este que está nas palhas passou nove meses dentro de Nossa Senhora!
¯ Aqui compete a nós pararmos e pensar o seguinte:
Ø Eu, quantas vezes comunguei em minha vida... Eu, que tantas e tantas vezes recebi o corpo, sangue, alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo em mim – que, portanto, fiz o papel de Nossa Senhora durante o período em que hóstia sagrada esteve em mim –, eu, que orações fiz a Nosso Senhor Jesus Cristo?
Ø Não é verdade que eu devo reconhecer que estive muito aquém de tudo aquilo que seria necessário?
Ø Não é verdade que eu deveria reconhecer que falta-me tanto para ser verdadeiramente devoto do Santíssimo Sacramento e de estar à altura de receber Nosso Senhor Jesus Cristo?
Ø E eu chego a uma conclusão: que não há melhor meio, não há outra saída, senão a de eu pedir a Nossa Senhora que receba Nosso Senhor Jesus Cristo por mim, porque eu não sou digno.
Quando eu digo como o centurião romano: “Senhor, eu não sou digno que entreis em minha casa”, é porque eu não sou digno mesmo.
Mas Ele vem, Ele vai entrar, Ele vai se dar a mim, Ele vai viver aqui dentro.
Ø Então é preciso que eu diga:
“Minha Mãe, vós O conduzistes com alegria para Ele, e com benefício enorme para vós. Dai de novo esta alegria a Nosso Senhor Jesus Cristo, estando em mim para recebê-Lo. Que Ele penetre em vós, mas que vós estejais em mim.


“E permiti, Senhora, que eu vos peça que as graças que Ele vos daria estando em vós, e que Ele vos dá estando em vós, que estas graças vós as dispenseis para este miserável servo vosso. Dai-me as graças que vós recebereis estando em mim e acolhendo ao vosso Divino Filho como  O acolhestes na Encarnação”.
Ø Eu aí estabeleço um colóquio com Nossa Senhora, no final desta meditação:
 “Eu vos peço, Senhora: que jamais eu receba uma só comunhão em toda a minha vida que não seja em união convosco.
“Mais: que vós estejais sempre em mim para recebê-Lo. E que todos os benefícios que vós receberíeis na terra ao comungar, que esses benefícios – estando vós em meu lugar e recebendo a eucaristia por mim, como eu agora peço que assim seja feito –, eu vos imploro: dai-me os benefícios deste ato que vós receberíeis.
“Está dito por São Bernardo: «Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado vossa assistência, reclamando vosso socorro, fosse por vós desamparado». Eu sei que vós me ouvireis. Portanto, daqui por diante, até a minha última comunhão da vida, Senhora, recebei  a Jesus vós em meu lugar, e dai-me todos os benefícios que vós receberíeis se estivésseis comungando em meu lugar, como de fato o fareis.
“Minha Mãe, que tudo seja para reparar o vosso Sapiencial e Imaculado Coração e pela conversão da Rússia.
“Assim seja”.


 Mons João Clá Dias