Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Sarça ardente da visão
Este símbolo de Maria Santíssima nos é apresentado na
seguinte passagem da Escritura (Ex. III, 1-8):
“Ora, Moisés apascentava as ovelhas de Jetro, seu
sogro, sacerdote de Madian; e, tendo conduzido o rebanho para o interior do
deserto, chegou ao monte de Deus, o Horeb. E o Senhor apareceu-lhe numa chama
de fogo (que saía) do meio de uma sarça, e (Moisés) via que a sarça ardia, sem
se consumir. Disse, pois, Moisés: Irei, e verei esta grande visão, (verei) por
que causa se não consome a sarça. Mas o Senhor vendo que ele se movia para ir
ver, chamou-o do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés. E ele respondeu: Aqui
estou. E (o Senhor) disse: Não te aproximes daqui; tira as sandálias de teus
pés, porque o lugar em que estás é uma terra santa. E acrescentou: Eu sou o
Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, e o Deus de Jacob. Cobriu
Moisés o rosto; porque não ousava olhar para Deus.
“E o Senhor disse-lhe: Eu vi a aflição do meu povo no
Egito, e ouvi o seu clamor causado pela crueza daqueles que têm a superintendência
das obras. E, conhecendo a sua dor, desci para o livrar das mãos dos egípcios,
e para o conduzir daquela terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra
onde corre o leite e o mel.”
Símbolo
de Maria virgem durante o parto
A respeito da sarça ardente e incombustível, enquanto
imagem de Nossa Senhora, comenta São Bernardo:
“Que prefigurava em outro tempo aquela sarça de
Moisés, deitando chamas, mas não se extinguindo, senão a Maria dando à luz sem experimentar
as dores do parto?” 1
Semelhante é a consideração do Pe. João Colombo, que
escreve:
“Quantos séculos haviam esperado a Maria, chamando-A
com lágrimas e suspiros! [...] Esperara-A o século de Moisés, e não A viu senão
simbolizada na sarça ardente e incombustível: assim como aquela sarça podia dar
chama e não se comburir, assim também Maria poderia dar à luz o Filho de Deus
sem cessar de ser Virgem” 2
E São Tomás de Villanueva, com eloquente entusiasmo,
exclama:
“Bem recordais, ó Virgem, aquela sarça que ardia e não
se queimava. Assim formareis Vós, sem Vos corromper, um só corpo com o divino
fogo; revesti-lo-eis Vós de carne, e Ele Vos banhará de esplendor; Vós O
coroareis com o diadema da mortalidade, e Ele Vos cingirá a coroa da glória.
Sereis uma virgem fecunda, uma mãe sem corrupção. Só em Vós se verão associadas
a virgindade e a maternidade: possuireis, ao mesmo tempo, a felicidade desta e
o pudor daquela” 3
1) BERNARDO. Obras Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. I. p.
195.
2) COLOMBO, João. Pensamentos sobre os Evangelhos. 2. ed. São
Paulo: Paulinas, 1960. p. 1211-1212.
3) VILLANUEVA, Tomas de. Obras.
Madrid: BAC, 1952. p. 306.