segunda-feira, 23 de maio de 2016

Maria: A única que evitou os espinhos deste mundo

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Lírio entre espinhos
O mundo: deserto inculto e cheio de espinhos
Comentário de São Tomás de Villanueva, com o qual celebra ele a Assunção da Santíssima Virgem:
“«Quem é esta que sobe do deserto, inebriada de delícias, apoiada sobre o seu amado?» (Cânt. VIII, 5). São palavras dos Anjos, que se admiram da pompa, da glória, do fausto da Senhora que ascende, e perguntam por Ela. [...] 0 deserto é este mundo, porque, como diz Santo Agostinho, pelo deserto se designa a peregrinação desta vida. [...]
“Quantos espinhos há neste deserto! Agudos espinhos são as concupiscências da carne e seus ardis. Assim o sentia o que dizia: «porque as tuas setas se me cravaram, e assentaste sobre mim a tua mão. Não há parte sã na minha carne» (SI. XXXVII, 3-4). Santo Agostinho chama setas às concupiscências depois do pecado. E não só a carne, mas todo este mundo está cheio de abrolhos. Que são as riquezas, senão espinhos? Recordemos o Evangelho (Le. VIII, 7): «Os espinhos sufocaram» a semente, e os interpreta logo como [sendo] as riquezas. Que outra coisa são, senão espinhos, as pompas, os cuidados do século, as ambições, os desejos? Portanto, o mundo está cheio de espinhos.
“Disse Santo Agostinho: os peitos vazios do temor de Deus e secos do Espírito Santo são comparados à solidão de um inculto deserto. Pois antes da vinda de Cristo era um completo deserto este mundo, e alheio a toda noção de Deus, de fé e de temor; coberto dos espinhos do pecado, tornava-se áspero como um campo inculto, e não havia produzido fruto algum, nem era fecundo em boas obras. Porém, os amantes deste século não sentem estes espinhos, porque estão mortos para Deus e para o espírito. Disse Jó (XXX, 7): «Tinham por delícia estar debaixo dos espinhos».

“Determina-te em teu coração a [...] seguir a virtude e a verdade, e verás como ferem a alma e a afligem estes espinhos, quando te vês forçado a deixar contra tua vontade muitíssimas coisas que te atormentam com violência neste deserto. 
A única que evitou os espinhos deste mundo
“Por isso se admiram os Anjos de que suba [Maria] deste deserto, inebriada de delícias; que, em vez de descer, atormentada, do lugar dos espinhos e se precipitar, ferida, no Inferno, ascenda gloriosa aos Céus.
“Grande foi, certamente, Abraão; sem embargo, o rico o viu no Inferno, [pois] próximo estava o que podia ser visto. Grande foi também Jacob; porém quem disse (Gên. XXXVII, 35): «Chorando descerei [...] ao Inferno 24»’? Grande foi também David, e disse, sem embargo (Si. XVII, 6): «Dores de Inferno me cercaram». Todos estes, atormentados pelos aguilhões dos espinhos, desceram com tristeza deste deserto aos Infernos.
“Por conseguinte, justo é se maravilhar de quem seja esta tão pode rosa, tão sublime, que sobe do deserto, do lugar dos espinhos, inebriada de delícias! Oh! Anjos! Só esta Virgem evitou os aguilhões dos espinhos; só Ela permaneceu sem as feridas e os incômodos dos mesmos, já que somente Ela é «como lírio entre espinhos, assim é minha amiga entre as donzelas» (Cânt. II, 2), isto é, as almas santas. Se percorrermos todo o Céu, todos dirão que sentiram estes espinhos. Confessa-o Pedro, confessam-no Paulo, Isaías e o mesmo São João [Batista], que foi santificado no seio de sua mãe. Escutemos a São João Evangelista, virgem (I Jo. I, 8): «Se dissermos que estamos sem pecado, nós mesmos nos enganamos»"
Continua...