Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
O douto
e pio Nicolas assim explica a Redenção preventiva de Nossa Senhora:
“Esta
isenção [do pecado original em Maria], verificou-se pela graça de Jesus Cristo.
Esta mesma graça, que libertou o gênero humano inteiro do pecado original, bem
pôde preservar desta culpa a Maria, aplicando-Lhe como antídoto o que ela, por
sua vez, nos administra como remédio. E ainda se pode afirmar que isto foi
necessário. Deus, para maior glória de Jesus Cristo, devia manifestar n’Ele, e
por seus méritos, esta eficácia preservadora. É inadmissível que a virtude do sangue
divino tenha limites. Sem dúvida por um plano cuja sabedoria foi reiteradas
vezes manifestada, esta virtude quis limitar-se a nos purificar da mancha com
que nascemos.
“Em
certos personagens ilustres, como Jeremias e São João Batista, elevou-se mais
alto, pois os santificou antes de seu nascimento e no próprio seio de suas
mães, onde foram concebidos no pecado. Porém, o mal ainda possuía uma fortaleza
— a partir da qual podia protestar contra a eficácia soberana do sangue de
Jesus Cristo — nesta mesma concepção em que [ele, mal], se une à vida humana
pelo ato que a transmite, imprimindo seu [funesto] selo sobre nossa origem.
“Convinha,
pois, que esse último entrincheiramento do pecado fosse destruído por uma
concepção imaculada, que desse
testemunho, com um solene e decisivo exemplo, da onipotência absoluta dos méritos
de Jesus Cristo. «Seu sangue, que tanto poder tem para nos livrar do mal, disse
Bossuet não o terá para nos preservar dele? E se tem esta virtude, deixá-la-á
inútil eternamente? Não haverá uma só criatura em que [dita virtude] se
manifeste? E qual será esta criatura, senão Maria?»
“Este
sangue divino não deveria, por seu próprio decoro, purificar a concepção de
Maria, que foi sua primeira origem? «Com efeito, acrescenta magnificamente
Bossuet é a partir d’Ela que começa a se estender este formoso rio, este rio de
graças que corre em nossas veias pelos Sacramentos, e que leva o espírito de
vida a todo o corpo da Igreja. E assim como as fontes, sempre se lembrando de
seus mananciais, lançam suas águas a grandes alturas, como se procurassem suas
nascentes no meio do ar; da mesma sorte podemos assegurar que o sangue de nosso
Salvador fará subir sua virtude até à concepção de sua Mãe, para honrar o lugar
de onde saiu»”1 .
1) NICOLAS, Augusto. La Virgen María y el Plan Divino.
Barcelona:
Religiosa, 1866. Vol. II. p. 109-110.