Tem-se tratado muitas
vezes a respeito das dores de Nossa Senhora, mas os antigos falavam, mais do
que os contemporâneos, das alegrias de Maria Santíssima. E era até uma devoção bastante
intensificada, generalizada outrora, a tal ponto que uma das igrejas mais
famosas do Brasil foi exatamente a de Nossa Senhora dos Prazeres dos Guararapes,
onde os hereges holandeses foram derrotados, e depois se realizou uma espécie
de primeiro armistício com eles.
Nesta Terra temos necessidade das verdadeiras alegrias
Devemos tratar também
dos prazeres de Nossa Senhora, porque todos os aspectos da vida d’Ela nos são
caros, mas também por causa de um lado muito importante, que é o seguinte: São Tomás
de Aquino diz que nenhuma pessoa pode subsistir nesta Terra numa infelicidade total.
Esta por pouco tempo se aguenta, mas por um longo período é sempre preciso
haver algum alívio, sem o qual esse infortúnio não é suportável. Portanto,
devemos nos alegrar pelas razões que merecem alegria, e é virtuoso que assim
façamos.
A virtude não consiste
só em nos entristecermos com as coisas que devem despertar tristeza, mas também
em nos alegrarmos com aquilo que causa alegria. E há muitas coisas que devem
despertar júbilo na vida do católico, embora não seja de nenhum modo a alegria
como o mundo a entende.
Quando falta nas
almas a alegria pelas boas razões de alegrar-se, surge a má tristeza, a depressão,
e as pessoas começam a sentir atrativo pelas coisas do mundo e a se alegrarem com
elas. A partir desse momento, naturalmente, inicia-se um processo de entibiamento,
porque um dos sintomas da tibieza é a incapacidade de se alegrar com as coisas boas,
santas, acompanhada de uma alegria ruim com uma porção de coisas indiferentes
ou positivamente más.
Por isso, notamos na
vida da Santíssima Virgem muitos movimentos de alegria, o mais insigne dos
quais é, evidentemente, o Magnificat. Mas há outros fatos de sua vida que
indicam o prazer que Ela teve. E daí os mistérios gozosos do Rosário, que
mostram as alegrias da Mãe de Deus desfrutada em vários momentos de sua
existência.
Mas nenhuma alegria de
Nossa Senhora nesta vida foi tão grande quanto à da Assunção, que foram as
maiores que Ela teve na sua existência terrena, se é que a Assunção pode ser
considerada da existência terrena.
Plinio Correa de Oliveira