Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Em São
Boaventura encontramos uma bela e eloquente consideração sobre Nossa Senhora,
enquanto templo da Santíssima Trindade:
“Entende-se
por templo o seio virginal [de Maria], em que toda a Divindade habitou
corporalmente; por isso se chama retamente templo de Deus fabricado pelo poder
divino, adornado pela divina sabedoria, dedicado pela graça de Deus e cheio de
sua presença. E, na verdade, sua fabricação se atribui ao poder do Pai; seu
ornato, à sabedoria do Filho; sua dedicação, à graça do Espírito Santo, e sua
plenitude, à presença do Verbo Encarnado.
“Com
efeito, a Virgem Maria é, primeiramente templo fabricado pelo poder de Deus,
segundo o que insinua o Espírito Santo no capítulo VII do livro terceiro dos
Reis, onde se diz que «completou Hirão toda
a obra do Rei Salomão no templo do Senhor». Porque a obra do Rei Salomão no
templo do Senhor significa o assumir da carne pelo Verbo no seio virginal, obra
que, segundo o texto, a completou Hirão. Hirão quer dizer atento à criação, e significa
a Deus Padre, Criador do Céu e da Terra, que, como produziu todas as coisas sem
auxílio de ninguém, do mesmo modo, com seu imenso poder, formou o corpo de
Cristo nas entranhas virginais sem ajuda nem intervenção humana. A isto se
alude claramente no capítulo V do livro primeiro de Esdras, em que, a respeito
do templo, se diz que o levantou «um Rei
de Israel, grande e poderosíssimo». E o modo de edificá-lo se insinua no
capítulo VI do livro terceiro dos Reis, onde se diz que, «quando a casa se edificava, não se ouviu martelo, nem machado, nem
instrumento algum de ferro». E que outra coisa quer dizer isto, senão que a
onipotência divina, sem o ruído de humana operação, fez a Virgem Maria templo
do Filho de Deus?