Jesus quis depender de Maria
mais do que um escravo de seu senhor
Nosso Senhor, vivendo em Nossa
Senhora, estava completamente escravizado a Ela, e a situação d’Ele era a de um
ente consciente — porque Jesus teve uma perfeita consciência desde o primeiro
instante do seu ser — que formou, inteiramente lúcido, o seu próprio Corpo nas
entranhas da Santíssima Virgem e começou a viver ali. Ele ficou contido só por
uma criatura, vivendo no contato exclusivo com Ela e na dependência a mais
completa que uma pessoa possa estar em relação à outra.
Para termos um pouco a ideia
deste mistério, imaginemos um homem adulto a quem fosse dado viver no ventre
materno. Até que ponto ele se sentiria circunscrito, aprisionado, dependente,
escravo, englobado por sua mãe completamente?
Pois bem, nesta situação viveu
o Verbo de Deus feito carne. E Ele, lúcido desde o primeiro instante do seu ser,
quis, por um desígnio d’Ele, viver assim dentro deste templo, deste palácio,
numa relação misteriosa com Nossa Senhora.
Aquele que teve o poder
suficiente para fazer com que a Encarnação se desse em Maria Virgem, com que
Ela fosse virgem antes, durante e depois do parto, também poderia fazer com
que, por exemplo, realizada a concepção, um minuto depois se desse o
nascimento. Não era nem um pouco condição obrigatória Deus Encarnado, Deus
Humanado, viver nove meses em Maria. Ele quis que fosse assim, ou seja, desejou
ter com Ela esta forma de dependência, de relação de alma que não chegamos a compreender
completamente, de tal maneira ela é profunda, misteriosa e inesgotável.
Em suma, Ele quis ser
verdadeiro escravo d’Ela. É uma inversão de valores que nos deixa desnorteados.
Ele dependeu d’Ela mais do que um escravo depende do seu senhor. O escravo tem vida,
respiração e movimentação próprias. Ele não. Jesus, antes de nascer, quis
depender assim de Nossa Senhora.