Em seus relatos sobre a
Ressurreição nada dizem os Evangelistas a respeito de Maria Santíssima. Entretanto,
não é possível imaginar a Mãe do Redentor ausente desses acontecimentos.
Enquanto o corpo de Jesus
repousava no sepulcro, os Apóstolos certamente sentiam, por um misterioso instinto,
que a história do Homem Deus não podia estar concluída com aquela morte, mas
não chegavam a imaginar a anunciada Ressurreição. Como supor, com efeito, que
Jesus aceitaria o desafio lançado pelo mau ladrão: “Se és Cristo, salva-Te a Ti
mesmo” (Lc 23, 39)? Porque se o fato de um vivo ressuscitar um morto — como Ele
fizera com Lázaro — já resultava inteiramente incomum, quanto mais o seria
alguém sair dos abismos da morte pelas próprias forças, dizendo ao seu corpo:
“Levanta-te!”.
A Santíssima Virgem, porém, não
tinha a esse respeito a menor fímbria de dúvida. Na noite do Sábado Santo, afirma
Plinio Corrêa de Oliveira, “somente Nossa Senhora, em toda a face da Terra, teve
uma Fé completa e sem sombra de dúvida na Ressurreição. [...] A cada minuto que
passava, de algum modo a espada da saudade e da dor penetrava ainda mais seu
Coração Imaculado. Mas, de outro lado, havia a certeza de uma grande alegria da
vitória que se aproximava. Esta concepção A inundava de consolação e gáudio”.
Dr. Plinio acrescenta que Nossa
Senhora “representou nessa ocasião a Fé da Santa Igreja e, por assim dizer,
sustentou o mundo, dando continuidade às promessas evangélicas, pois, se não
houvesse Fé sobre a face da Terra, a Providência teria encerrado a História. Maria
foi a Arca da Esperança dos séculos futuros. Ela teve em Si, como numa semente,
toda a grandeza que a Igreja haveria de desenvolver ao longo dos séculos, todas
as promessas do Antigo Testamento e todas as realizações do Novo; tudo isto
viveu dentro da alma de Nossa Senhora”.
Para termos uma visão mais
completa desse grandioso panorama, cabe lembrar que, segundo a opinião de
renomados mariólogos, Cristo Sacramentado jamais deixou de estar presente em
Maria Santíssima desde a Santa Ceia até a sua Assunção ao Céu. Toda vez que Ela
comungava, renovavam-se em seu coração as Sagradas Espécies, tornando-A um
tabernáculo permanente da Eucaristia.
Ora, estando Cristo realmente
presente na Sagrada Hóstia, Nossa Senhora deve ter sentido de algum modo, em
seu interior, a Alma e o Corpo de Jesus separarem-Se no momento da sua morte, enquanto
a Divindade continuava unida a ambos. Pois, como explica o Doutor Angélico,
“tudo o que pertence a Cristo segundo seu próprio ser, pode ser atribuído a Ele
enquanto existe em sua própria espécie e no Sacramento, a saber, viver, morrer,
sofrer, ser animado e inanimado, etc.”.
Esse fenômeno pungente e
misterioso supera nossa capacidade de compreensão. No Cenáculo, Maria
Santíssima recebeu “o mesmo e verdadeiro Corpo de Cristo, que então era visto pelos
discípulos sob a própria figura e era tomado na espécie do Sacramento”. Ele,
afirma São Tomás, “não era impassível na forma em que era visto sob sua figura,
muito pelo contrário estava preparado para a Paixão. Por isso, nem era também
impassível o Corpo que se entregava sob a espécie do Sacramento”.
Nossa Senhora havia comungado o
Corpo de Cristo padecente, e tendo-O custodiado durante toda a Paixão, os
sofrimentos do seu Divino Filho reproduziam-se simultaneamente de algum modo no
seu interior. E no mesmo momento em que Ele ressuscitava no Santo Sepulcro, ressuscitava
também na Sagrada Hóstia presente em Maria.
Qual não terá sido o seu gáudio
ao sentir misticamente em Si a Alma de Jesus unir-Se de novo ao Corpo, e Ele Se
apresentar agora mais glorioso do que antes da morte? Bem arquitectónico seria
que nesse exato momento Nosso Senhor Lhe aparecesse fisicamente para consolá-La,
pois Ela fora a Corredentora e compartilhara todos os sofrimentos da Paixão.