quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Maria, Mãe de Deus

Como explicar essa verdade que nossa Fé afirma e o senso católico proclama em nossos corações: a maternidade divina de Maria Santíssima.
Por que quis Deus ter uma mãe humana? Para abordar adequadamente esta questão, comecemos por lembrar um importante aspecto do plano divino para a Redenção: Nosso Senhor Jesus Cristo, embora pudesse ter escolhido outro meio para Se encarnar, “julgou melhor assumir o homem da própria linhagem que fora vencida para, por meio dele, vencer o inimigo do gênero humano”.1 Assim, da mesma forma que uma mulher, pela sua desobediência, havia cooperado para a ruína do gênero humano, a obediência de uma Virgem cooperaria de forma decisiva para a Redenção.
Ora, quando uma mulher concebe um filho e o dá à luz, ela é mãe da pessoa que nasceu, e não apenas do seu corpo. Porque estando alma e corpo substancialmente unidos, ela gera o ser humano completo, ainda que a alma tenha sido criada por Deus.
Maria era, portanto, Mãe da Pessoa de Cristo. E na pessoa divina de Cristo estavam unidas a natureza humana e a natureza divina, desde o primeiro momento do seu ser. Por isso, conclui o Papa Pio XI, “se a Pessoa de Jesus Cristo é única, e esta é divina, sem dúvida alguma Maria deve ser chamada não somente Mãe de Cristo homem, mas Mãe de Deus, Theotókos”.2 A Virgem Maria não engendrou uma pessoa humana à qual, depois, Se uniria o Verbo, como dizia Nestório, mas, pelo contrário, foi o Verbo que “Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14).
A grandeza e profundidade desse atributo de Nossa Senhora foram recentemente postos em realce pelo Papa Bento XVI, ao afirmar: “Theotókos é um título audaz. Uma mulher é Mãe de Deus. Poder-se-ia dizer: como é possível? Deus é eterno, é o Criador. Nós somos criaturas, vivemos no tempo: como poderia uma pessoa humana ser Mãe de Deus, do Eterno, dado que todos nós vivemos no tempo, todos nós somos criaturas?”.
E, discorrendo belamente sobre o Mistério da Encarnação, o Santo Padre responde: “Deus não permaneceu em si mesmo: saiu dele próprio, uniu-se de tal modo, de forma tão radical com este homem, Jesus, que este homem Jesus é Deus, e se falamos dele, podemos sempre falar de Deus. Não nasceu apenas um homem que tinha a ver com Deus, mas nele nasceu Deus na Terra. [...] Naquele momento, Deus queria nascer de uma mulher e ser sempre Ele mesmo: nisto consiste o grande acontecimento”.3
Coube ao grande São Cirilo, “invicto assertor e sapientíssimo doutor da maternidade divina da Virgem Maria, da união hipostática em Cristo, e do primado do romano pontífice”,4 defender a verdadeira doutrina nos tempos da Igreja primeva. Peçamos, pois, sua intercessão para compreendermos amorosamente o dom infinito obtido por Maria pelo seu “fiat” em resposta ao pedido do Pai Eterno (Lc 1, 38) e roguemos a Ela que nos obtenha a inestimável graça de adorarmos seu Divino Filho por toda a eternidade.
1 SÃO TOMÁS DEAQUINO. Suma Teológica, III, q.4, a.6.
2 PIO XI, op. cit., ibidem.
3 BENTO XVI. Meditação no início dos trabalhos do Sínodo dos Bispos, 11/10/ 2010.
4 PIO XII, op. cit., n.2.