domingo, 18 de setembro de 2011

Oração de Nossa Senhora

Podemos tirar lições para nossa vida espiritual tanto do fato de a oração de Nossa Senhora ter apressado a vinda do Messias, quanto de ter Ela recebido do Pai Eterno sua fecundidade.
Considerando Nossa Senhora capaz de, com sua prece, apressar a vinda do Messias, que ensinamentos podemos tirar? Devemos primeiramente analisar a Santíssima Virgem no seu zelo pela causa de Deus.
Em sua oração, Ela certamente observava a situação de extrema miséria moral em que caíra o povo eleito. Nessa prece Ela desejava ardentemente, pois, que Israel fosse reerguido à sua antiga condição. Considerava ainda a decadência da humanidade, sabendo melhor que ninguém quantas almas estavam se perdendo naquela era pagã, e vendo Satanás imperar sobre o mundo antigo.
Maria Santíssima fez, então, na Terra, o papel de São Miguel Arcanjo no Céu: sua oração, pedindo que Deus viesse ao mundo, equivale ao Quis ut Deus? — Quem como Deus? — do Arcanjo. É Ela que se levanta contra esse estado de coisas; é só Ela que tem a súplica bastante poderosa para desferir um golpe que tudo transforma.
Então, a plenitude dos tempos se encerra: Nosso Senhor Jesus Cristo nasce, e toda a humanidade é reconstruída, regenerada, elevada e santificada. As almas começam a se salvar em profusão, as portas do Céu se abrem, o inferno é esmagado, a morte é destruída, a Igreja Católica floresce sobre toda a face da Terra. E tudo como efeito da oração de Nossa Senhora.
Não é verdade que Nossa Senhora, também sob este aspecto, se apresenta a nós como um verdadeiro modelo? Não devemos querer em nossos dias a vitória de Nosso Senhor, como Maria Santíssima a desejou em sua época? Não há uma analogia absoluta entre o ardor com que Ela quis a instauração do Reino de Cristo na Terra, e o fervor com que o devemos desejar em nossos dias? Não é verdade que, se a oração d’Ela foi necessária para a realização da Encarnação, é indispensável também para que consigamos em nossa época a vitória de Jesus Cristo no mundo? Quando nos esfalfamos na luta pela vitória de Jesus hoje, lembramo-nos de rezar a Nossa Senhora? Quando rezamos a Ela, nos recordamos de pedir essa graça?
Não seria uma boa prece se, por exemplo, ao contemplarmos o Mistério da Anunciação durante a primeira dezena do Rosário, tivéssemos em mente Nossa Senhora que pede a vinda do Salvador? E rogássemos a Ela que Jesus Cristo novamente triunfe no mundo, com uma futura vitória da Igreja Católica? Não temos aí uma boa aplicação desse Mistério para a vida espiritual? Não é assim que esta última deve ser vista, vivida e conduzida? Isto não é muito mais sólido que um arrastado murmúrio piedoso?
Sem dúvida, é com essas verdades de Fé que se alimentam a piedade e toda a vida espiritual.
Contemplemos Nossa Senhora apressando, com sua oração, a vinda do Messias. Ora, se Nosso Senhor vem a nós também no momento da Comunhão, podemos e devemos pedir à Virgem Maria, quando nos preparamos para receber seu Divino Filho, algo dos sentimentos com que Ela O acolheu no momento da Encarnação.
E se desejamos obter para alguém a graça da comunhão diária, não será útil pedir a Nossa Senhora que consiga para aquela alma a recepção quotidiana de Nosso Senhor, lembrando-A da eficácia da prece com que Ela obteve a vinda de Jesus Cristo para o mundo?
Consideremos, por outro lado, a participação de Nossa Senhora na fecundidade do Padre Eterno para gerar membros do Corpo Místico de Cristo. Todo fiel é um membro deste Corpo Místico. Quando passamos perto de algum batistério, devemos nos lembrar de fazer uma oração à Santíssima Virgem, rogando- Lhe que nos conserve, até o momento da morte, na correspondência à graça do Batismo e nela nos confirme a vida inteira. Foi junto a uma pia batismal que entramos para o seio da Igreja Católica, nascemos para a vida sobrenatural e, pela prece de Nossa Senhora e a fecundidade de Deus Nosso Senhor, fomos gerados membros do Corpo Místico de Cristo, do qual Maria é verdadeira Mãe.
E se nos lembrarmos, ainda, de que nascemos para a vida da graça pela mesma onipotente intercessão da Santíssima Virgem, teremos então que tudo nos permite de pedir a Ela nos conserve nas celestiais dádivas do Batismo, e que as cumule com a virtude do senso católico — coroação dessa união extremamente íntima com Cristo.
A piedade deve consistir em formar disposições de espírito que tenham base nesses princípios ensinados pela Igreja e pela Teologia, e não em meros sentimentos. Tais ensinamentos engendram um amor a Nossa Senhora muito sério e muito sólido. Assim é que se constrói a verdadeira devoção a Maria e se alicerça a autêntica vida espiritual.
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