Por
meio de Maria começou a salvação do mundo e é por meio de Maria que deve ser
consumada. Na primeira vinda de Jesus Cristo, Maria quase não apareceu, para
que os homens, ainda insuficientemente instruídos e esclarecidos sobre a pessoa
de seu Filho, não se lhe apegassem demais e grosseiramente, afastando-se,
assim, da verdade.
Até o século III houve
muitas correntes de católicos que consideravam Nossa Senhora como a quarta
Pessoa da Santíssima Trindade. Por isso, Ela se retraiu.
E
isto teria aparentemente acontecido devido aos encantos admiráveis com que o
próprio Deus lhe havia ornado a aparência exterior. São Dionísio, o Areopagita,
o confirma numa página que nos deixou e em que diz que, quando a viu, tê-la-ia
tomado por uma divindade, tal o encanto que emanava de sua pessoa de beleza
incomparável, se a fé, em que estava bem confirmado, não lhe ensinasse o
contrário.
Mas,
na segunda vinda de Jesus Cristo, Maria deverá ser conhecida e revelada pelo
Espírito Santo, a fim de que por ela seja Jesus Cristo, conhecido amado e
servido, pois já não subsistem as razões que levaram o Espírito Santo a ocultar
sua esposa durante a vida e a revelá-la só pouco depois da pregação do
Evangelho.
Deus
quer, portanto, nesses últimos tempos, revelar-nos e manifestar Maria, a
obra-prima de suas mãos:
1º
Porque ela se ocultou neste mundo, e, por sua humildade profunda, se colocou
abaixo do pó, obtendo de Deus, dos apóstolos e evangelistas não ser quase
mencionada.
2º
Porque, sendo a obra-prima das mãos de Deus, tanto aqui em baixo, pela graça,
como no céu, pela glória, ele quer que, por ela, os viventes o louvem e
glorifiquem sobre a terra.
3º
Visto ser ela a aurora que precede e anuncia o Sol da justiça, Jesus Cristo,
deve ser conhecida e notada para que Jesus Cristo o seja.
4º
Pois que é a via pela qual Jesus Cristo nos veio a primeira vez, ela o será
ainda na segunda vinda, embora de modo diferente.
5º
Pois que é o meio seguro e o caminho reto e imaculado para se ir a Jesus Cristo
e encontrá-lo plenamente. É por ela que as almas, chamadas a brilhar em
santidade, devem encontrá-lo. Quem encontrar Maria encontrará a vida, isto é,
Jesus Cristo, que é o caminho, a verdade e a vida. Mas não pode encontrar Maria
quem não a procura; não pode buscá-la quem não a conhece, e ninguém procura nem
deseja o que não conhece. É preciso, portanto, que maria seja, mais do que
nunca, conhecida, para maior conhecimento e maior glória da Santíssima
Trindade.
6ª
Nesses últimos tempos, Maria deve brilhar, como jamais brilhou, em
misericórdia, em força e graça. Em misericórdia para reconduzir e receber
amorosamente os pobres pecadores e desviados que se converterão e voltarão ao
seio da Igreja católica, em força contra os inimigos de Deus, os idólatras,
cismáticos, maometanos, judeus e ímpios empedernidos, que se revoltarão
terrivelmente para seduzir e fazer cair, com promessas e ameaças, todos os que
lhes forem contrários. Deve, enfim, resplandecer em graça, para animar e
sustentar os valentes soldados e fiéis de Jesus Cristo que pugnarão por seus
interesses.
7º
Maria deve ser, enfim, terrível para o demônio e seus sequazes como um exército
em linha de batalha, principalmente nesses últimos tempos, pois o demônio,
sabendo bem que pouco tempo lhe resta para perder as almas, redobra cada dia
seus esforços e ataques. Suscitará, em breve, perseguições cruéis e terríveis
emboscadas aos servidores fiéis e aos verdadeiros filhos de Maria, que mais
trabalho lhe dão para vencer.
É
principalmente a estas últimas e cruéis perseguições do demônio que se
multiplicarão todos os dias até o reino do Anticristo, que se refere aquela
primeira e célebre predição e maldição que Deus lançou contra a serpente no
paraíso terrestre.
São Luís Maria Grignion de Monfort