Continuação dos comentários ao Pequeno ofício da Imaculada
Caridade
“«E
saía de noite ao vale de Betúlia, e lavava-se numa fonte de água.
E, ao
voltar orava ao Senhor Deus de Israel que a guiasse no seu caminho, a fim de
conseguir a libertação de seu povo. E, entrando, permanecia pura na sua tenda,
até que tomava a sua refeição pela tarde» (Jud.XII, 7,8,9).
“Judith
orava por seu povo, cuja libertação ela se tinha proposto empreender. Assim
fazia Maria enquanto vivia sobre a Terra. Seus votos ardentes atraíram até nós
o Salvador que Deus nos tinha destinado. E agora que Ela está no Céu, não cessa
de interceder por nós, junto de seu adorável Filho. t...]
Fortaleza
“Então
todos, adorando o Senhor disseram-lhe: O Senhor te abençoou com a sua
fortaleza, porque ele por ti aniquilou os nossos inimigos. E Ozias, príncipe do
povo de Israel disse-lhe: O filha, tu és bendita do Senhor Deus Altíssimo,
sobre todas as mulheres que há na Terra. Bendito seja o Senhor que criou o Céu
e a Terra, e que te dirigiu para cortares a cabeça ao chefe dos nossos inimigos.
Porque hoje engrandeceu o teu nome tanto, que nunca o teu louvor se apartará da
boca dos que se lembrarem eternamente do poder do Senhor". (Jud. XIII, 22 e
ss.).
“As
homenagens que Judith recebeu da boca de Ozias e de todo o povo eram merecidas;
não eram, porém, senão uma representação dos louvores dirigidos a Maria pelos Patriarcas,
Profetas e todos os fiéis, assim como o inimigo que Judith havia vencido não
simbolizava senão imperfeitamente o inimigo do gênero humano, o adversário de todas
as gerações, aquele ao qual nada desconcerta e que, cem vezes prostrado por
terra, não deixa de renovar seus ataques.
“«O
Senhor te abençoou com sua fortaleza, porque ele por ti aniquilou os nossos
inimigos», diziam os israelitas a Judith, vitoriosa de Holofernes. Não era um
Anjo, não era um rei poderoso, ou algum grande Profeta que Deus enviou para
libertar seu povo, mas uma humilde mulher. Para uma obra incomparavelmente
maior para esmagar a cabeça da serpente infernal, para dar um Salvador ao
mundo, é uma menina, quase uma criança, é uma humilde Virgem que Ele escolheu,
à qual, entretanto, comunicou Ele sua força. Ela foi a única que venceu
completamente o Inferno e a morte do pecado; [...] só Ela veio em auxilio do
Todo-Poderoso, para consumar a difícil obra de nossa Redenção. [...]
“«Quando
surgir o sol, tome cada um as suas armas, e saí com ímpeto», dizia ainda
Judith. O verdadeiro Sol nasceu quando o Verbo de Deus se fez homem, [...j
iluminando os cegos, inflamando os gélidos, fecundando os estéreis, e dando-se
a todos, difundindo-se por todos os lugares. Doravante, iluminados pelos raios
desse Sol divino, podemos marchar ao combate. Não temos nada a temer de nossos
inimigos, do mundo, do demônio e do pecado, contanto que estejamos com os olhos
fielmente abertos a essa luz.
“Os
habitantes de Betúlia, seguiram os conselhos de Judith, e quando o sol nasceu,
saíram com ímpeto da cidade, como para oferecer batalha às tropas de Holofernes.
Os oficiais do general inimigo correram à sua tenda para receber ordens. Porém
só encontraram seu cadáver e disseram: «Uma mulher do povo Hebreu pôs em
confusão a casa de Nabucodonosor» (Jud. XIV, 16).
“A casa
de Nabucodonosor, Rei da Babilônia, é a casa de Satanás. Nabucodonosor era
poderoso e ninguém ousava resistir aos seus exércitos vitoriosos. Maria veio e
trouxe a confusão e a desordem para esse império. Ela confundiu o orgulho de
Satanás, por sua humildade; a diabólica astúcia, por sua sabedoria; enfim,
todos os vícios daquele, por todas as suas virtudes” 1
1) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie.
Paris: Hippolyte Waizer, 1900. Vol. I. p. 547-549; 550-551; 553-554.
Continua