quarta-feira, 8 de abril de 2015

Nossa Senhora e Judith

Continuação dos comentários  ao Pequeno Ofício da Imaculada 
 Judith invicta e animosa
Judith, libertadora de Israel
Conta-nos a Sagrada Escritura que Nabucodonosor, Rei dos assírios, orgulhoso de suas vitórias sobre os medos, quis submeter ao seu império toda a Terra. Convocando o general de suas tropas, Holofernes, disse-lhe (Jud. II, 5-6):
“Vai atacar os reinos do Ocidente, e principalmente aqueles que desprezaram as minhas ordens. O teu olho não perdoará a nenhum reino, e tu me sujeitarás todas as cidades fortes.”
Holofernes, com mais de cento e trinta mil combatentes, marchou sobre os territórios estrangeiros, apoderando-se de todas as praças fortes, saqueando e destruindo tudo à sua passagem. Igual sorte estava reservada à Cidade Santa, Jerusalém, e ao seu templo, caso não se detivesse o avanço daquele sanguinário general.
Então, o Sumo Sacerdote Eliaquim organizou, rápida e energicamente, a defesa do território de Israel: mandou que se ocupassem todos os cumes dos montes e que cercassem as aldeias de muros. Escreveu também a todos os lugares por onde Holofernes podia passar, ordenando que protegessem as vertentes das montanhas e os desfiladeiros.
Diante dessa inopinada resistência, o general assírio, cheio de furor e inflamado de grande cólera, mandou marchar suas tropas contra Betúlia, organizando um rigoroso cerco a esta cidade de Israel. Ao cabo de vinte dias, oprimidos pela fome e pela sede, os habitantes de Betúlia prorromperam em murmúrios e lamentações, exigindo de seus governantes a rendição ao inimigo.
Levantando-se então Ozias, um dos chefes da cidade, disse ao povo: “Tende bom ânimo, irmãos, e por estes cinco dias esperemos a misericórdia do Senhor. Talvez se aplaque a sua ira, e dê glória ao seu nome. Mas se, passados estes cinco dias, não nos vier socorro, faremos o que vós dissestes.
“Ora, aconteceu que estas palavras foram ouvidas por Judith, viúva, filha de Meran. Havia já três anos e seis meses que Judith tinha ficado viúva de Manassés. E no andar superior da sua casa tinha feito para si um quarto retirado, no qual se conservava recolhida com as suas criadas, e, trazendo um cilIcio sobre os seus rins, jejuava todos os dias de sua vida, exceto nos sábados, e [nos primeiros dias de cada mês, e nas festas da casa de Israel. E era de belíssimo aspecto, e seu marido lhe tinha deixado muitas riquezas, e uma família numerosa, e fazendas cheias de manadas de bois e de rebanhos e de oveihas. E ela era estimadíssima de todos porque tinha muito temor de Deus, e não havia ninguém que dissesse dela uma palavra em desfavor.
“Tendo, pois, ela sabido que Ozias tinha prometido entregar a cidade, passados cinco dias, mandou chamar os anciãos Cabri e Carmi. E eles foram ter com eia, e disse-lhes: Que palavra é esta, com a qual concordou Ozias, de entregar a cidade aos Assírios, se dentro de cinco dias vos não viesse socorro? E quem sois vós, que tentais o Senhor?
Não é esta uma palavra que excite a sua misericórdia, mas antes provoca a ira, e acende o furor. [...] Mas, porque o Senhor é paciente, arrependamo-nos disto mesmo, e, derramando lágrimas, imploremos a sua misericórdia. [...]
“Então Ozias e os anciãos responderam-lhe: Tudo o que nos tens dito é verdade, e nada há de repreensível nas tuas palavras. Agora, pois, ora por nós, porque tu és uma mulher santa e temente a Deus.
“E Judith disse-lhes: Assim como reconheceis que o que eu vos disse é de Deus, assim também sabereis por experiência que vem de Deus o que resolvi fazer; e (entretanto) orai para que Deus torne eficaz a minha resolução” (Jud. VII, 23-24; VIII, 1, 4-11, 14, 28-31).
Judith corta a cabeça de Holofernes
Depois de elevar ao Senhor fervorosas orações, Judith “despiu-se dos hábitos da sua viuvez, e lavou o seu corpo, e ungiu-se de preciosos cheiros, e entrançou os cabelos da sua cabeça, e pôs uma coifa sobre a mesma, e vestiu-se com os vestidos de gala, e calçou suas sandálias, e pôs braceletes e jóias do feitio de açucenas, e arrecadas, e anéis, (numa palavra) ornou-se com todos os seus enfeites. O Senhor aumentou-lhe ainda a gentileza, porque todo este adorno procedia, não de algum mau desejo, mas de virtude; e por isso o Senhor aumentou-lhe a formosura, a fim de que parecesse aos olhos de todos de incomparável beleza” (Jud. X, 2-4).
Assim adornada, encaminhou-se Judith ao acampamento dos assírios, sendo logo conduzida à presença de Holofernes. Este, ao vê-la, “ficou cativo de seus olhos” (Jud. X, 11), acolheu-a com bondade e lhe destinou um aposento onde ele guardava seus tesouros.
Ao cabo de quatro dias, Holofernes resolveu dar uma ceia aos seus domésticos, para a qual convidou também Judith. Esta santa viúva, considerando a ocasião propícia para pôr em prática os seus desígnios, acedeu às instâncias do general assírio.
“Ora, quando se fez tarde, os criados de Holofernes retiraram-se apressadamente para os seus quartos, e [um deles] fechou as portas da câmara, e foi-se. E estavam todos tomados do vinho; e Judith estava só na câmara. E Holofernes estava deitado no leito, profundamente adormecido por causa da extraordinária embriaguez. [...] E Judith estava em pé diante do leito, orando com lágrimas, e, movendo os lábios em silêncio, disse: Senhor Deus de Israel, dá-me força, e favorece neste momento a empresa das minhas mãos, a fim de que, como prometestes, levante a tua cidade de Jerusalém, e eu acabe o que julguei que se podia fazer com o teu auxílio. E, dito isto, encostou-se à coluna, que estava à cabeceira do leito de Holofernes, e desprendeu o seu alfanje, que estava pendurado e preso nela. E, tendo-o desembainhado, agarrou nos cabelos da cabeça de Holofernes, e disse: Senhor Deus, dá-me força neste momento; e feriu-o no pescoço por duas vezes, e cortou-the a cabeça, [...] e deitou por terra o seu corpo decapitado” (Jud. XIII).
Glorificação de Judith
De posse de tão espantoso troféu, Judith retorna à sua cidade, onde é aclamada como heroína por todo o povo. Os assírios, conhecendo a morte de seu general, foram tomados de terror e fugiram precipitadamente. E os “filhos de Israel, que os perseguiam juntos em um só batalhão, destroçavam todos os que podiam encontrar. [...] E os que tinham ficado em Betúlia, entraram no acampamento dos assírios e levaram os despojos que estes, na sua fuga, tinham deixado, e voltaram muito carregados. [...]
“E o Sumo Sacerdote Joacim foi de Jerusalém a Betúlia com todos os seus anciãos, para ver Judith. Tendo ela saído a recebê-los, abençoaram-na todos a uma voz, dizendo: Tu és a glória de Jerusalém, tu a alegria de Israel, tu a honra de nosso povo; porque procedeste varonilmente, e o teu coração foi cheio de força; porque amaste a castidade; [...] por isso, não só a mão do Senhor te fortaleceu, mas também serás bendita eternamente. E todo o povo respondeu: Assim seja, assim seja” (Jud. XV, 4, 7, 9-12).

Paralelo entre Nossa Senhora e Judith
Continua no próximo post