De
Maria nunquam satis. Esta frase, que ressoou nos lábios e
nos corações de tantos santos ao longo da História, aponta para o oceano insondável
de perfeições da Mãe de Deus, em cujos maravilhosos mistérios a Teologia sempre
se aprofundará, sem jamais esgotá-los.
De fato, luminosas
nuvens de mistério envolvem os diversos episódios da existência da Santíssima Virgem,
como a sua Assunção e consequente Coroação como Rainha do Céu e da Terra.
Que relação se
poderia estabelecer entre esses augustos acontecimentos, a ordem do universo e
a História?
Considerando que
Maria Santíssima é a mais excelsa das meras criaturas — pois Jesus é Homem-Deus
—, todas as operações humanas tomam n’Ela um caráter especial, paradigmático e
sublime.
O nascimento d’Ela,
como causa do nascimento do Menino Jesus, foi o nascer dos nasceres. Em seu
claustro virginal, o Verbo Se fez carne e habitou entre nós; pelo que, o
conceber d’Ela foi o gerar dos gerares. Por vontade de Deus, Ela teve a mais
suave das mortes, intitulada de “Dormição” pela Teologia. Sua ressurreição foi
esplendorosa, mas não à maneira de um estampido, porque não era removida
nenhuma pesada laje, mas apenas dissipava-se um leve sono pelo qual Ela havia
passado. E, por fim, entre as meras criaturas, quem conheceu e amou a Deus como
Ela?
Na vida espiritual,
por sua vez, cada progresso de Nossa Senhora, de algum modo, era um nascimento,
um crescimento, um apogeu que dava origem a outro nascimento, a outro
crescimento, a outro apogeu, excetuada, é claro, a morte no sentido da perda da
vida da graça.
A ação de Maria na
História se desenvolve de modo a todas essas operações se centralizarem em
Nosso Senhor e atingirem seu ápice no Céu, após a Assunção, ao ser coroada pela
Santíssima Trindade como a Rainha do Universo.
Nesta vocação de
conduzir tudo ao Pai Eterno, a Nosso Senhor Jesus Cristo e ao Divino Espírito Santo,
encontra-se o dom profético de guiar, animar e fazer com que se realizem os
planos divinos. Isso faz de Maria a Profetiza de toda a Criação.
Assim, a invocação
“Rainha dos Profetas” reveste-se de um significado especial, porque é a
Rainha de todos os
acontecimentos da História. Daí vem a particular nobreza deste título, pois se trata
da realeza das realezas, enquanto dando impulso a todo o acontecer histórico.
Maria é a Rainha de
todos os nasceres, de todos os felizes e ascensionais desenvolvimentos, cheia
de desvelo nos delicados períodos de crepúsculo, e repleta da glória de tudo
quanto ressurge de dentro do anoitecer.
Por isso, se algo vai
nascendo e desejamos para isso uma particular intensidade de viço, se alguma
coisa vai indo bem e queremos que chegue ao seu progresso total, sem os mil
desfalecimentos do caminho, devemos recorrer a Ela enquanto Rainha dos
acontecimentos. E se algo tem que passar por eclipses, quando tudo parecer
perdido, a Estrela d’Alva, ainda é Ela, que pode atrair a manhã e fazer tudo
recomeçar.
Poder-se-ia
perguntar, então, se o título de “Rainha dos Profetas” ou “Rainha da História” não
A move especialmente.
Esta temática abre
campo para outras belas indagações dentro da Mariologia:
Se todo caminho
histórico tem magníficos nasceres, esplêndidos desenvolvimentos, terríveis eclipses
e amanheceres ainda mais radiosos, não haveria uma forma de vida espiritual, de
ritmo da própria vida sobrenatural em que a graça, como na natureza, ora
instaura, ora confirma, ora prova, ora ressuscita e coroa? E que relação teria
isso com o Segredo de Maria e com o Imaculado Coração d’Ela, fonte e impulso de
todos os acontecimentos?
Eis cogitações
próprias de uma devoção mariana considerada pelo prisma da Revolução e da Contra-Revolução.
Revista Dr Plinio - ago 2014