Comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada
Cidade sois de refúgio
Concluída
a divisão da terra de Canaã entre as doze tribos de Israel, o Senhor disse a
Josué (Jos. XX, 1-4):
“Fala
aos filhos de Israel e dize-lhes: Separai as cidades para os fugitivos, das
quais vos falei por meio de Moisés: a fim de que se refugie nelas todo o que
matar uma pessoa sem querer; e possa evitar a ira do parente próximo do morto,
que quiser vingar o seu sangue. Quando ele se refugiar em uma destas cidades,
apresentar-se-á à porta da mesma, e exporá aos anciãos dela tudo o que possa
comprovar a sua inocência; e desse modo o receberão, e lhe darão lugar em que
habite.”
A verdadeira cidade de refúgio
Essas
cidades que a demência divina reservou como asilo para os fugitivos, simbolizam
Aquela que é, por excelência, o Refúgio dos pecadores. Assim o ensina Santo
Afonso Maria de Ligório:
“Havia
na Judéia, outrora, cidades de refúgio, nas quais os culpados podiam abrigar-se
e ficavam a salvo das penas merecidas. Agora já não há tantas cidades de
refúgio como antigamente: Só há uma que é Maria Santíssima, da qual [se
escreveu]: Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus (Sl 86,
3).
“Existe
aqui uma diferença, porém. Nas antigas cidades de refúgio não havia asilo para
todos os culpados, nem para toda sorte de delitos, enquanto que sob o manto de
Maria acham refúgio todos os pecadores e toda espécie de delito. Basta que a
Ela se recorra, para se estar a salvo. «Sou cidade de refúgio para todos que a
Mim recorrem», faz São Damasceno dizer nossa Rainha. Só se exige que a Eia se
recorra. «Ajuntai-vos e entremos na cidade fortificada e guardemos aí silêncio»
(Jer. 8, 14). Esta cidade fortificada, explica Santo Alberto Magno, é a
Santíssima Virgem, fortificada em graça e em glória.
“«Guardemos
aí silêncio» — a isso observa a Glosa: Já que nós não temos de pedir ao Senhor,
basta que entremos nesta cidade, e nos calemos; porque Maria falará e rogará
por nós. Exorta por isso Benedito Fernandes todos os pecadores a se refugiarem
sob o manto de Maria, dizendo: Fugi, ó Adão, ó Eva, fugi, ó filhos seus que tendes
ofendido a Deus, fugi e refugiai-VOS no seio desta boa Mãe. Não sabeis que é
Ela a única cidade de refúgio e a única esperança dos pecadores?
“Também
nos sermões atribuídos a Santo Agostinho, Maria é chamada nossa única
esperança.
“Da
mesma forma exprime-se Santo Efrém: «Vós sois a única advogada dos pecadores e
daqueles que precisam de todo o socorro. Eu Vos saúdo como asilo e refúgio no
qual ainda podem os pecadores achar salvação e acolhimento»” 2
2)
LIGÓRIO, Afonso Maria de. Glórias de Maria Santíssima. 6. ed. Petrópolis:
Vozes, 1964. p. 80-81.