Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
Relacionando
as mencionadas palavras da Escritura com a Imaculada Conceição de Maria,
escreve o Pe. Jourdain:
“Lê-se
num discurso de Santo Anselmo: «A consumação de tão imensos benefícios com os
quais toda a criação foi gratificada, por intermédio da Mãe do Senhor
convida-nos a considerar quanto o começo da existência d ‘Ela foi divino,
sublime e inefável. Nada de espantoso nisso, uma vez que n ‘Ela depositou Deus,
de certo modo, o fundamento sagrado da cidade e da morada do soberano Bem».
“Estas
palavras do santo Doutor fazem, evidentemente, alusão ao texto do Salmo 86 que
os Padres ordinariamente aplicam à augusta Virgem Maria: «Coisas gloriosas se
têm dito de ti, ó cidade de Deus!» E mais embaixo: «Porventura não se dirá [de]
Sião: Um grande número de homens nasceu nela, e o mesmo Altíssimo a fundou
(solidamente) ?»
“Apoiados
sobre a autoridade de Santo Anselmo, reconheceremos, pois, a concepção de Maria
nesse fundamento da cidade celeste, posto por Deus, e é sob esse ponto de vista
que examinaremos as palavras do Salmista. [...]
“Tudo é
grande, tudo é sublime, tudo é digno de glorificação e de louvor em Maria, a
cidade do Deus vivo, o tabernáculo escolhido por Ele entre todos para dele
fazer sua morada. N’Ela não há nada de baixo, nem de desprezível: tudo é digno
do destino que Deus Lhe preparou.
“Os
Antigos censuravam à cidade de Roma — elevada mais tarde ao píncaro da glória
terrestre e do poder — o fato de que seus primeiros habitantes haviam sido uma
tropa de bandidos, congregados por Rômulo, o qual desonrou as muralhas de sua
cidade nascente, manchando-as com o sangue de seu irmão. [...] Seria possível
dizer algo de semelhante, falando-se de Maria? Esta cidade santa da qual o
próprio Deus lançou os fundamentos, teria sido, primeiramente, um refúgio de
ladrões? O crime do parricídio A teria manchado em sua origem?
“Assim
o seria, com o pecado original. Culpada deste, Maria teria sido o asilo do
demônio e de todos os pecados contidos em germe na concupiscência. O próprio
parricídio, n’Ela se encontraria, porque o pecado de Adão foi um parricídio,
posto que ele causa a morte de toda a posteridade do culpado.
“Admitindo-se
que o pecado original existiu em Maria, não teria sido Ela a cidade santa por
excelência; sua glória e suas grandezas nunca eliminariam inteiramente a vergonha
de sua decadência e de sua humilhação primeiras; não se poderia repetir com o
Profeta: «Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus». Porém, seu
Fundador não quis que Ela sofresse uma tal ignomínia: nada existe n’Ela que não
se possa glorificar. [...]
“Os
fundamentos dessa cidade repousam sobre os montes santos. Tal é a cidade
gloriosa por excelência, tal é Maria. [...] A justiça e a santidade com que
Deus A adornou, desde a sua origem, são de uma solidez inabalável. São estes os
seus fundamentos, lançados na rocha pela mão do próprio Altíssimo. [...]