quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A Imaculada Conceição, fundamento da cidade do Altíssimo

Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
Relacionando as mencionadas palavras da Escritura com a Imaculada Conceição de Maria, escreve o Pe. Jourdain:
“Lê-se num discurso de Santo Anselmo: «A consumação de tão imensos benefícios com os quais toda a criação foi gratificada, por intermédio da Mãe do Senhor convida-nos a considerar quanto o começo da existência d ‘Ela foi divino, sublime e inefável. Nada de espantoso nisso, uma vez que n ‘Ela depositou Deus, de certo modo, o fundamento sagrado da cidade e da morada do soberano Bem».
“Estas palavras do santo Doutor fazem, evidentemente, alusão ao texto do Salmo 86 que os Padres ordinariamente aplicam à augusta Virgem Maria: «Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus!» E mais embaixo: «Porventura não se dirá [de] Sião: Um grande número de homens nasceu nela, e o mesmo Altíssimo a fundou (solidamente) ?»
“Apoiados sobre a autoridade de Santo Anselmo, reconheceremos, pois, a concepção de Maria nesse fundamento da cidade celeste, posto por Deus, e é sob esse ponto de vista que examinaremos as palavras do Salmista. [...]
“Tudo é grande, tudo é sublime, tudo é digno de glorificação e de louvor em Maria, a cidade do Deus vivo, o tabernáculo escolhido por Ele entre todos para dele fazer sua morada. N’Ela não há nada de baixo, nem de desprezível: tudo é digno do destino que Deus Lhe preparou.
“Os Antigos censuravam à cidade de Roma — elevada mais tarde ao píncaro da glória terrestre e do poder — o fato de que seus primeiros habitantes haviam sido uma tropa de bandidos, congregados por Rômulo, o qual desonrou as muralhas de sua cidade nascente, manchando-as com o sangue de seu irmão. [...] Seria possível dizer algo de semelhante, falando-se de Maria? Esta cidade santa da qual o próprio Deus lançou os fundamentos, teria sido, primeiramente, um refúgio de ladrões? O crime do parricídio A teria manchado em sua origem?
“Assim o seria, com o pecado original. Culpada deste, Maria teria sido o asilo do demônio e de todos os pecados contidos em germe na concupiscência. O próprio parricídio, n’Ela se encontraria, porque o pecado de Adão foi um parricídio, posto que ele causa a morte de toda a posteridade do culpado.
“Admitindo-se que o pecado original existiu em Maria, não teria sido Ela a cidade santa por excelência; sua glória e suas grandezas nunca eliminariam inteiramente a vergonha de sua decadência e de sua humilhação primeiras; não se poderia repetir com o Profeta: «Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus». Porém, seu Fundador não quis que Ela sofresse uma tal ignomínia: nada existe n’Ela que não se possa glorificar. [...]

“Os fundamentos dessa cidade repousam sobre os montes santos. Tal é a cidade gloriosa por excelência, tal é Maria. [...] A justiça e a santidade com que Deus A adornou, desde a sua origem, são de uma solidez inabalável. São estes os seus fundamentos, lançados na rocha pela mão do próprio Altíssimo. [...]