Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
E o meu trono está sobre uma coluna de
nuvem
Embora
este versículo insinue, novamente, a sublime exaltação de Nossa Senhora ao mais
alto dos céus, evoca-nos ele, também, outro símbolo de Maria Santíssima: a
coluna de nuvem que guiava o povo eleito, através do deserto, em busca da Terra
Prometida.
Assim
narra o livro dos Números (IX, 15-23):
“No
dia, pois, em que o tabernáculo foi ereto, a nuvem o cobriu. Da tarde, porém,
até a manhã estava sobre o tabernáculo como uma espécie de fogo. Assim
acontecia continuamente: De dia cobria-o a nuvem, e de noite como que uma espécie
de fogo. E, quando se levantava a nuvem, que cobria o tabernáculo, então
punham-se em marcha os filhos de Israel; e no lugar onde a nuvem parava, aí
acampavam. A ordem do Senhor partiam, e à sua ordem assentavam o tabernáculo.
Todo o tempo em que a nuvem estava parada sobre o tabernáculo, permaneciam no
mesmo lugar; e se acontecia estar parada sobre ele muito tempo, os filhos de
Israel estavam às ordens do Senhor, e não partiam durante todo o tempo em que a
nuvem estava sobre o tabernáculo. Ao mandado do Senhor levantavam as tendas, e
ao seu mandado as desarmavam. [...] E estavam sempre atentos ao sinal do Senhor,
como este tinha ordenado por meio de Moisés.”
Coluna de nuvem que conduz os
homens à celeste Pátria
Interpretando
esse texto sagrado, comenta o Pe. Jourdain:
“Santo
Epifânio ensina abertamente que esta coluna de nuvem era a figura de Maria: «Vós
sois», diz ele, «esta nuvem, semelhante a uma coluna, que conduzia o povo no
deserto».
“São
João Crisóstomo também diz que esta augusta Virgem é semelhante à coluna de
nuvens que Deus habitava, para servir de guia a seu povo, no deserto.
“Ela é,
acrescenta Ricardo de São Lourenço, a nuvem que Deus estendeu sobre nós, para
nos proteger contra os ardores do Sol de Justiça. Semelhante àquela que
conduzia os israelitas pelo deserto, Ela nos defende contra as ciladas das
tentações, ilumina as trevas de nossa ignorância, e nos mostra a via que nos
leva à celeste Pátria.
Nuvem sempre radiante de luz
“O
grande São Jerônimo, para mostrar que Maria é realmente simbolizada pela nuvem
misteriosa, que guiava os descendentes de Jacob através do deserto, recorda a
imagem de uma outra nuvem da qual fala o Profeta Isaías, no
capítulo XIX: «Eis que o Senhor vem ao Egito sobre uma nuvem ligeira»; e também este versículo do Salmo: «o Senhor os Conduzia durante o dia com a nuvem»: A
nuvem, devemos reconhecê-lo é a Bem-aventurada Virgem Maria. Ela é ligeira: sua
maternidade, sem concurso de varão, em nada Lhe pesou «Ele os conduzia durante
o dia com a nuvem».
“Diz
bem o Salmista: Durante o dia, porque esta nuvem jamais foi tenebrosa, mas
sempre radiante de luz.
Nuvem que nunca se afasta dos
homens
“Maria
é, pois, uma nuvem, mas nuvem ligeira e luminosa [...]
Sigamos
a misteriosa nuvem, passo a passo, imitando seus exemplos, pois com Ela
rumaremos ao Céu.
“Coluna
de fogo, Ela brilhará diante de nós na solidão deste mundo. Ela não permitirá que
nos extraviemos em perigosas sendas; Ela nos defenderá contra os ataques de nossos
inimigos, contra a presa dos animais ferozes que rondam em meio às trevas.
“A nuvem
luminosa e a Coluna de fogo de que nos fala a Escritura, não se afastavam dos
filhos de Israel, mesmo quando este povo, de cerviz dura, ofendia o Senhor.
Maria não se afasta de nós, ainda que nos aconteça de sermos infiéis às graças
que Ela nos obtém de Deus, e de ofendermos nosso Soberano Juiz. Ela permanece
junto de nós, intercedendo todavia, e acalmando a cólera divina acesa por
nossos pecados.
“É Ela,
nossa guia e nossa protetora que nos introduzirá na Terra Prometida”.57
Nuvem na qual se reflete a
magnificiência de Deus
Também
sobre esse símbolo de Nossa Senhora escreveu Le Mulier a cujas devotas palavras
nos associamos, ao encerrarmos os comentários a esta Hora Tércia:
“A
nuvem, logo que se forma no seio da terra, eleva-se atraída pelos raios do sol.
Assim, apenas concebida no seio de sua santíssima mãe, Deus atraiu Maria até
Ele, elevando-A à sua perfeita semelhança, e à mais alta dignidade da qual foi
capaz uma simples criatura.
“A
nuvem está entre o céu e a terra; a Virgem está entre Deus e os homens.
“A
magnificência de Deus aparece nas nuvens, diz David; muito mais ainda aparece
ela na sua Santíssima Mãe, tão exaltada acima de toda criatura.
“A
nuvem, diz o santo homem Jó, é a vestimenta do mar, as faixas de que ele está
envolto; e a Virgem, não vestiu Ela o Salvador, que é como um imenso oceano, do
qual decorrem todas as graças, sem número nem medida?
“Ó
Maria, que sois esta nuvem ligeira sobre a qual o Salvador veio visitar os
povos do Egito e derrubar seus falsos ídolos, vinde a nós, a fim de que o
Senhor nos olhe em sua misericórdia e disperse os maus espíritos que nos
perseguem” 58
57) JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Made.
Paris: Hippolyte Walzer, 1900. Vol.1. p. 218219; 480-481.
58) LE
MULIER, Henry. De la Très-Sainte Vierge d’aprés les Saintes Écritures et les
Pères de L ‘Eglise. Paris: Pilon, 1854.
Vol. I. p. 90-92.