domingo, 3 de novembro de 2013

Nosso Senhor quis criar para si uma Mãe Imaculada

Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada
E tendo o Verbo escolhido por mãe a Virgem casta,
Não quis que fosse sujeita à culpa que o mundo arrasta
O louvor que aqui rendemos à Santíssima Virgem é uma extensão do anterior. Eis como, bela e cabalmente, o santo autor das Glórias de Maria nos explica seu conteúdo:
Nosso Senhor quis criar para si uma Mãe Imaculada
Nenhum outro filho pode escolher sua mãe. Mas se a algum deles fosse dada tal escolha, qual seria aquele que, podendo ter por mãe uma rainha, a quisesse escrava? Ou, podendo tê-la nobre, a quisesse vil? Ou, podendo tê-la amiga, a quisesse inimiga de Deus? Ora, o Filho de Deus, e Ele tão somente, pode escolher-se mãe a seu agrado. Por conseguinte, deve-se ter por certo que a escolheu tal qual convinha a um Deus. Mas a um Deus puríssimo convinha uma mãe isenta de toda culpa. Fê-La, por isso, imaculada, escreve São Bernardino de Siena.
E aqui quadra uma passagem de São Paulo: Pois convinha que houvesse para nós um pontífice tal, santo, inocente, impoluto, segregado dos pecadores (Heb. VII, 26). Um douto autor faz observar que, segundo o Apóstolo, foi conveniente que nosso Redentor fosse separado tanto do pecado como até dos pecadores. Também São Tomás o afirma com as palavras: Aquele que veio para tirar o pecado, devia ser segregado dos pecadores, quanto à culpa que pesava sobre Adão. Mas, como poderia Jesus Cristo dizer-se separado dos pecadores, se pecadora Lhe fosse a Mãe? [...]
Com São Pedro Damião e São Paulo devemos, pois, ter por certo que o Verbo Encarnado escolheu para si mesmo uma mãe digna, da qual se não tivesse que envergonhar. Os judeus chamavam, com desprezo, a Jesus, o Filho de Maria, isto é, filho de uma mulher pobre. «Não é sua mãe essa que é chamada Maria?» (Mt. XIII, 55). Não O atingiu esse desprezo, a Ele que vinha dar ao mundo exemplos de humildade e paciência. Mas ser-Lhe-ia certamente um grande opróbrio, se tivesse de ouvir dos demônios: Não é sua mãe essa que é pecadora? Que nascesse Jesus de uma mãe disforme e mutilada no corpo,ou possessa do demônio, seria igualmente inadmissível. Quanto mais, por conseguinte, o será o nascer Ele de uma mulher, cuja alma por algum tempo houvesse sido deformada e possessa por Lúcifer?
É Deus a própria Sabedoria. Oh! como soube fabricar a casa em que havia de habitar na Terra, e como conseguiu fazê-la realmente digna de si mesmo!
Convinha ao Legislador do IV mandamento preservar sua Mãe do pecado original
O Senhor deu-nos o preceito de honrar os nossos pais. Ele próprio não quis deixar de observá-lo ao fazer-se homem, nota São Metódio, e por isso cumulou sua Mãe de todas as graças e honras. Portanto, conforme o Pseudo-Agostinho, deve-se certamente crer que Jesus preservou da corrupção o corpo de Maria, depois da morte. Ora, quanto menos então teria Jesus Cristo atendido à honra de sua Mãe, se A não houvesse preservado da culpa de Adão? Certamente pecaria o filho que, podendo preservar a mãe da culpa original, não o fizesse logo, observa o agostiniano Tomás de Estrasburgo. Mas — continua ele — o que para nós seria pecado, não seria certamente decoroso ao Filho de Deus. Podendo fazer sua Mãe imaculada, tê-lo-ia deixado de fazer? Não; isso é impossível, diz Gerson. [...]
Digna Mãe de um digno Filho
Em conclusão, recordo as palavras de Hugo de São Vítor: Se o Cordeiro foi sempre imaculado, sempre ilibada deve também ter sido a Mãe, porque é pelo fruto que se conhece a árvore. E por isso assim a saúda: O digna Mãe de um digno Filho! Maria era de fato digna Mãe de tal Filho e só Jesus era digno Filho de tal Mãe. Acrescenta depois: O formosa Mãe do belo Filho, ó excelsa Mãe do Altíssimo!
Digamos-Lhe, pois, com Santo Ildefonso: Alimentai com vosso leite, ó Mãe, o vosso Criador; alimentai Aquele que vos fez, e tão pura e tão perfeita Vos criou, que merecestes que de Vós Ele próprio tomasse o ser humano”