A Festa da Apresentação de
Nossa Senhora no Templo, que transcorre no dia 21 deste mês, foi
instituída ao ser consagrada a igreja de Santa Maria a Nova, em
Jerusalém, no ano 543. Assim, a liturgia confirmava como fato
histórico o que se lê no texto apócrifo conhecido como Protoevangelho de Tiago: a Santíssima Virgem foi levada pelos seus
pais, São Joaquim e Sant’Ana, ao Templo de Jerusalém, com tenra
idade, para viver uma vida de recolhimento e oração nesse sagrado
lugar.
Segundo Plinio Correa de
Oliveira, o momento do ingresso da santa Menina no Templo
provavelmente foi o mais belo espetáculo até então contemplado
pelos Anjos do Céu. E ao comentar uma passagem de São Francisco de
Sales a esse propósito, acrescentava: “Não sei se São Joaquim e
Sant’Ana tinham plena noção de que Nossa Senhora estava destinada
a ser a Mãe do Verbo Encarnado. Porém, certamente sabiam que sua
filha fora escolhida por Deus para altíssimas coisas com vistas ao
advento do Messias. É-nos dado supor, aliás, que essa menina,
concebida sem pecado original e, portanto, sem as limitações
inerentes a este, sem deixar as atitudes próprias de uma criança,
possuía em sua alma um dom de contemplação maior que o dos maiores
santos da Igreja.
“Quer dizer, n’Ela se
harmonizavam a extrema afabilidade e meiguice da criança com uma
grandeza da qual os homens mais excelentes da Terra não são senão
minúscula figura. Esse terá sido o desejo de Nossa Senhora, em que
sendo Ela a Rainha incomparável do universo, aparecesse aos olhos de
todos como uma simples menina. Contraste de beleza insondável,
diante do qual permanecemos emudecidos de admiração!
“Pois foi essa maravilhosa
menina que seus pais levaram ao Templo. Segundo São Francisco de
Sales, durante essas peregrinações à Cidade Santa, os judeus iam
pelas estradas entoando cânticos, de modo particular os salmos
compostos por David para essa finalidade. Podemos imaginar as lindas
cenas que tais romarias proporcionavam: chegado o mês da visita ao
Templo, judeus das mais variadas regiões se punham a palmilhar os
caminhos de Israel, envolvendo-os com seus cantos religiosos.
“Entre eles, certa feita,
encontravam-se São Joaquim, Sant’Ana e Nossa Senhora. Imaginemos,
então, se pudermos, o cântico da Menina, elevado com uma voz
inefável, repetindo as palavras que seu régio ancestral escrevera
por inspiração do Espírito Santo para aquela circunstância!
“Pensemos em Maria cantando
pelas estradas judaicas, e os anjos acompanhando seus passos e seu
cântico, extasiando-se eles, sobretudo, com as harmonias de alma que
a pequena Virgem manifestava a cada instante.
“Ainda segundo São Francisco
de Sales, do alto dos terraços da Jerusalém Celeste, os querubins e
os serafins, e toda a corte angélica, debruçavam-se para contemplar
Nossa Senhora a caminho de Jerusalém, e esse espetáculo, ignorado
pelos homens, incutia-lhes um gáudio inexprimível.
“De fato, cena mais bela e
mais eloqüente do que essa, só poderia ser aquela em que esses
mesmos anjos viriam Nossa Senhora ingressar no Templo, como a rainha
que toma posse daquilo que lhe é próprio; como a jóia que se
instala no escrínio onde deve ser guardada...”
Plinio Correa de Oliveira -
Extraído de conferência em 21/11/1965