O que é que
devemos dizer da invocação de Nossa Senhora da Saúde? Na consideração mais
imediata Nossa Senhora da Saúde é Nossa Senhora tendo pena da saúde dos homens,
vendo os homens aflitos por doenças de toda a ordem. Não há um órgão humano no
qual não caibam, ao menos em potência, as mais variadas perebas e doenças
aflitivas. E aquilo que pode acontecer, acontece. Logo, os homens que podem
adoecer de tudo adoecem, de fato, de tudo, e recorrem a Nossa Senhora para
conseguir a sua cura.
É mau que
os homens peçam a cura a Nossa Senhora? De nenhum modo, é até muito bom. Por
quê é bom? Porque Nossa Senhora permite as doenças, permite as provações, em
grande número de vezes, para que os homens peçam a cura e para que através da
cura eles sintam a bondade materna d’Ela e sentindo essa bondade se sintam mais
atraídos por Ela, mais conquistados por Ela. Então, Nossa Senhora da Saúde, em
primeiro plano, é Nossa Senhora restituindo a saúde dos homens.
Será só
isto? Nossa Senhora só é mãe quando cuida de nossa saúde? Quando ela, às vezes,
permite que adoeçamos, Ela não nos concede também uma graça insigne? E quando
permite que nossas doenças durem, também não nos dá uma graça insigne? Muitas
vezes, sim. As doenças são meios de nos aproximarmos d’Ela, de tomarmos
distância das coisas do mundo, de compreendermos de como vale pouco a vida, de,
pelo sofrimento, purificarmos nossa alma de muitos pecados e de muitos defeitos.
Muitas e muitas vezes a doença é um bem para nós.
Então,
quando pedimos a saúde devemos dizer a Nossa Senhora que desejamos a saúde, que
pedimos que Ela no-la dê, na medida em que for um bem para a nossa alma. Se a
doença for melhor, que Ela nos deixe doentes. Se a morte for melhor, que Ela
nos dê a morte. Mas podemos fazer uma coisa, podemos dizer a Ela: "Se a
doença for melhor para minha alma, eu aceito, mas Vós, que podeis tanto, talvez
possais dar um jeito com os desígnios de Deus de maneira que a saúde ainda me
faça mais bem do que a doença." Porque não pedir uma coisa dessas? "E
se tal for, se até lá chegar Vossa misericórdia, se os pecados não constituírem
obstáculo à Vossa misericórdia, eu Vos peço que então me sareis, senão eu aceito
com humildade o que Vós destinardes".
Houve um
rei no Antigo Testamento – não me lembro mais quem era – que adoeceu e um dos
profetas chegou a ele e disse: "Você vai morrer." Ele virou doutro
lado, para a parede, diz a Bíblia, e chorou. Vira para a parede, chora e depois
diz: "Mas, meu Deus etc., mas eu não tinha vontade de morrer". E Deus
deu a ele 15 anos de vida ainda. O que para os senhores mais moços deve parecer
uma eternidade! Depois de 60 anos parece um prazo módico. Deus deu a ele mais
15 anos de vida. É claro que Deus mandou o profeta avisá-lo que ia morrer para
que ele pedisse para não morrer. Devemos fazer, então, a oração como Nosso
Senhor no Horto: "Pater, si vis, transfer calicem istum a me; verumtamen
non mea voluntas sed tua fiat" (Lc. 22-42). "Meu Pai, se for possível
afastai de mim esse cálice, se não for faça-se a Vossa vontade e não a
Minha". A mesma coisa com a morte.
Nossa
Senhora da Saúde no-la restitui nesse contexto, dentro dessa visão.
Evidentemente Nossa Senhora, que é nossa Mãe e que quer para nós toda a espécie
de bens, se nos dá a saúde do corpo, mais ainda quer dar-nos a saúde da alma,
porque a saúde da alma vale incomparavelmente mais que a do corpo, pois a alma
vale mais do que o corpo. E como estou partindo de baixo para cima, — estou
falando do corpo primeiro, — tratando da alma eu falo da saúde psíquica, antes
de tudo. Aqueles que têm enfermidades físicas que prejudicam o bom andamento
das faculdades mentais, enfermidades nervosas, etc., podem e devem dirigir-se a
Nossa Senhora da Saúde para que os cure.
Mas,
sobretudo, devem dirigir-se a Nossa Senhora os pecadores para que Ela restitua
a saúde à alma que se tornou enferma da pior das enfermidades, que é o pecado.
Plinio Correa de Oliveira - extraído de conferência 8/07/1970