domingo, 8 de setembro de 2013

Nossa Senhora da Saúde

O que é que devemos dizer da invocação de Nossa Senhora da Saúde? Na consideração mais imediata Nossa Senhora da Saúde é Nossa Senhora tendo pena da saúde dos homens, vendo os homens aflitos por doenças de toda a ordem. Não há um órgão humano no qual não caibam, ao menos em potência, as mais variadas perebas e doenças aflitivas. E aquilo que pode acontecer, acontece. Logo, os homens que podem adoecer de tudo adoecem, de fato, de tudo, e recorrem a Nossa Senhora para conseguir a sua cura.

É mau que os homens peçam a cura a Nossa Senhora? De nenhum modo, é até muito bom. Por quê é bom? Porque Nossa Senhora permite as doenças, permite as provações, em grande número de vezes, para que os homens peçam a cura e para que através da cura eles sintam a bondade materna d’Ela e sentindo essa bondade se sintam mais atraídos por Ela, mais conquistados por Ela. Então, Nossa Senhora da Saúde, em primeiro plano, é Nossa Senhora restituindo a saúde dos homens.

Será só isto? Nossa Senhora só é mãe quando cuida de nossa saúde? Quando ela, às vezes, permite que adoeçamos, Ela não nos concede também uma graça insigne? E quando permite que nossas doenças durem, também não nos dá uma graça insigne? Muitas vezes, sim. As doenças são meios de nos aproximarmos d’Ela, de tomarmos distância das coisas do mundo, de compreendermos de como vale pouco a vida, de, pelo sofrimento, purificarmos nossa alma de muitos pecados e de muitos defeitos. Muitas e muitas vezes a doença é um bem para nós.

Então, quando pedimos a saúde devemos dizer a Nossa Senhora que desejamos a saúde, que pedimos que Ela no-la dê, na medida em que for um bem para a nossa alma. Se a doença for melhor, que Ela nos deixe doentes. Se a morte for melhor, que Ela nos dê a morte. Mas podemos fazer uma coisa, podemos dizer a Ela: "Se a doença for melhor para minha alma, eu aceito, mas Vós, que podeis tanto, talvez possais dar um jeito com os desígnios de Deus de maneira que a saúde ainda me faça mais bem do que a doença." Porque não pedir uma coisa dessas? "E se tal for, se até lá chegar Vossa misericórdia, se os pecados não constituírem obstáculo à Vossa misericórdia, eu Vos peço que então me sareis, senão eu aceito com humildade o que Vós destinardes".

Houve um rei no Antigo Testamento – não me lembro mais quem era – que adoeceu e um dos profetas chegou a ele e disse: "Você vai morrer." Ele virou doutro lado, para a parede, diz a Bíblia, e chorou. Vira para a parede, chora e depois diz: "Mas, meu Deus etc., mas eu não tinha vontade de morrer". E Deus deu a ele 15 anos de vida ainda. O que para os senhores mais moços deve parecer uma eternidade! Depois de 60 anos parece um prazo módico. Deus deu a ele mais 15 anos de vida. É claro que Deus mandou o profeta avisá-lo que ia morrer para que ele pedisse para não morrer. Devemos fazer, então, a oração como Nosso Senhor no Horto: "Pater, si vis, transfer calicem istum a me; verumtamen non mea voluntas sed tua fiat" (Lc. 22-42). "Meu Pai, se for possível afastai de mim esse cálice, se não for faça-se a Vossa vontade e não a Minha". A mesma coisa com a morte.

Nossa Senhora da Saúde no-la restitui nesse contexto, dentro dessa visão. Evidentemente Nossa Senhora, que é nossa Mãe e que quer para nós toda a espécie de bens, se nos dá a saúde do corpo, mais ainda quer dar-nos a saúde da alma, porque a saúde da alma vale incomparavelmente mais que a do corpo, pois a alma vale mais do que o corpo. E como estou partindo de baixo para cima, — estou falando do corpo primeiro, — tratando da alma eu falo da saúde psíquica, antes de tudo. Aqueles que têm enfermidades físicas que prejudicam o bom andamento das faculdades mentais, enfermidades nervosas, etc., podem e devem dirigir-se a Nossa Senhora da Saúde para que os cure.


Mas, sobretudo, devem dirigir-se a Nossa Senhora os pecadores para que Ela restitua a saúde à alma que se tornou enferma da pior das enfermidades, que é o pecado. 

Plinio Correa de Oliveira - extraído de conferência 8/07/1970