Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício da Imaculada
Divino
portal fechado
Assim escreve Ezequiel, ao registrar uma de suas
proféticas visões (Ezeq. XLIV, 1-2):
“E (o Anjo) fez-me voltar depois para o caminho da
porta do santuário exterior, que olhava para o oriente, e que estava fechada. E
o Senhor disse-me: Esta porta estará fechada; não se abrirá, e ninguém passará
por ela; porque o Senhor Deus de Israel entrou por esta porta, e ela estará
fechada.”
Símbolo
da perpétua virgindade de Maria
“Nesta porta misteriosa — escreve o Pe. Félix Cepeda,
C. E M. — os Santos Padres, especialmente Santo Agostinho e São Jerônimo contra
Elvídio, vêem figurada a virgindade de Maria depois de seu glorioso parto, até
sua morte. Foi virgem ao conceber e ao dar à luz a Jesus Cristo, e será
perpetuamente virgem. Havia oferecido a Deus com voto esta fragrantíssima
açucena, e não faltará à sua promessa. O Filho perfeito, que é unigênito nos Céus,
há de ser também único na terra. [...]
“Depois do parto, ó Virgem, permanecestes imaculada!”1
Enumerando os símbolos da excelsa virgindade de Nossa
Senhora, comenta Fr. Luís de Granada:
“É igualmente figurada por aquela porta oriental que
viu o profeta Ezequiel; [...j porque ninguém entrou por aquela porta, senão apenas
o Filho de Deus, porque só Ele era seu amor, seu pensamento, seu desejo, seus
cuidados e sua contínua lembrança” 2
É também na citada passagem de Ezequiel, que o grande
Santo Ambrósio baseia sua opinião em favor da perpétua virgindade de Nossa
Senhora. Diz ele:
“Qual é esta porta, senão Maria? E por que a porta
está fechada, senão porque a virgindade de Maria em nada sofreu com sua maternidade
divina? «Esta porta estará fechada, e não se abrirá», diz o profeta. Maria é
esta porta; Jesus Cristo por ela entrou neste mundo, respeitando porém o selo
virginal de que ela estava marcada, assim como Ele saiu do sepulcro sem romper
a pedra, e como entrou no cenáculo estando as portas cerradas.
“Esta porta misteriosa permaneceu fechada antes e
depois da passagem do Senhor, porque estava reservada unicamente para Ele. «Ela
não se abrirá, e ninguém passará por ela; porque o Senhor Deus de Israel» entrou
por esta porta para habitar entre nós.
Porta
que deu passagem ao Sol de Justiça
“Esta porta olhava para o oriente, porque dela saiu o
Oriente; ela deu à luz o Sol de Justiça. E este que passou por esta porta é o
mesmo de quem pôde dizer David, no salmo CXLVII: «Louvai, 6 Jerusalém, ao
Senhor; louvai o Sião o vosso Deus; porque Ele fortificou os ferrolhos das
vossas portas». Louvai vosso Deus, ó Maria, porque o nascimento de vosso Divino
Filho consagrou e tornou para sempre gloriosa vossa puríssima virgindade!”3
E São Jerônimo, animado de ardente zelo em favor da
intacta virgindade de Maria, escreve:
“Virgem foi Cristo, virgem perpétua foi sua Santíssima
Mãe; mãe e virgem ao mesmo tempo, em cujo seio fechado penetrou Cristo. Esta é
a porta oriental, como disse Ezequiel, sempre fechada e sempre brilhante,
ocultando em si e nos dando de si mesma o Sancta Sanctorum; [porta] através da
qual entra e sai o Sol de Justiça e Pontífice nosso, segundo a ordem de
Melquisedec” 4
Conforme os ensinamentos de Santo Ambrósio e de São
Jerônimo, e com análogo fervor, comenta São Tomás de Villanueva:
“Que significa porta fechada, senão o selo do pudor, a
integridade da carne imaculada? Pois não sofreu detrimento no parto A que na concepção
recebeu aumento de santidade.
“Também se há de notar, nesta profecia de Ezequiel,
que aquela porta do santuário, fechada, olhava para o oriente, e que somente o
Senhor Deus de Israel entrou por ela, precisamente para oferecer o sacrifício.
“Que porta oriental é esta senão a Virgem, mediante a
qual brilhou a luz a todo o mundo? Não é propriamente oriental a que engendrou
o Sol de Justiça? Pois de ti nasceu o Sol de Justiça, nosso Deus. Só Cristo,
Príncipe e Sacerdote, entrou através desta porta no mundo para oferecer o sacrifício;
isto é, sua morte na Cruz, pois veio ao mundo para oferecê-lo ao Senhor”.5
1) CEPEDA,
Felix Alejandro. T/bgo Veneranda. Madrid: Corazón de Maria, 1928. p. 193-194.
2) GRANADA, Luís de. Obra Selecta. Madri:
BAC, 1952. p. 734.
3) JOURDAIN,
Z-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900. Vol. III. p. 96.
4)
JERÔNIMO. Epístola 48, ou Libro apolog. a Fammaq. en defensa de los libros
contra Joviniano. n. 21. Apud, VILLANUEVA, Tomas de. Obras. Madrid: BAC, 1952.
p. 289.
5)
VILLANUEVA, Tomas de. Lac. cit.