sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Incomparável brilho da Imaculada Conceição

Continuação dos Comentários ao Pequeno Oficio da Imaculada Conceição - Mons João Clá Dias
Convinha, pois, certamente, que a Mãe de tão nobre Filho
Não tivesse de Eva a mancha, e resplandecesse com todo o brilho.
Incomparável brilho da Imaculada Conceição
Conta o Pe. Bernardes que “a um servo de Deus (João Brebêncio, da Companhia de Jesus), que mereceu a auréola do martírio, e era devotíssimo da Virgem Santíssima, se dignou a mesma Senhora aparecer acompanhada de tantas virgens, que pareciam inumeráveis. Estavam todas postas por sua ordem em um vastíssimo e altíssimo monte, indo decrescendo no número, conforme o monte se ia estreitando piramidalmente, até que no supremo cume dele estava unicamente a soberana Virgem das virgens. E deste lugar só, único e solitário entre tanta multidão de almas puras, Lhe resultava uma glória incomparável.
“Assim — infere o Pe. Bernardes —, podes tu, alma minha, considerar e gozar-te da glória da Senhora, que, entre a multidão quase infinita dos filhos de Adão, Ela seja a única que ocupa o ápice da pirâmide, sendo preservada da mácula que todos incorreram e de que neste espesso bosque das gerações humanas, este só ramo de ouro cintile tanto com os resplendores da divina graça desde o primeiro instante de sua natureza”
Sim, “o brilho da luz eterna resplandeceu nesta simples criatura, que, por uma perfeita virgindade de coração, uma singular continência de espírito única entre todas, conservou pura e sem mancha a imagem do Senhor” 1
Convinha à dignidade de Mãe de Deus uma alma imaculada
Esse admirável fulgor com que o Padre Eterno revestiu a Imaculada Conceição, tem por principal motivo a escolha da Santíssima Virgem para Mãe de seu Filho unigênito, como afirma Fr. Luís de Granada:
“Que uma alma encerrada num corpo sujeito a tantas misérias e cercado de tantos sentidos, passe a voar sobre todos os Anjos em perfeição, e seja mais pura que as estrelas do Céu, isto é coisa de grande admiração. [...]
“Pois tal convinha que fosse, e sobremaneira convinha que nascesse aquela que ab æterno era escolhida para ser Mãe de Deus. Por que costume é de Deus adequar os meios aos fins, ou seja, fazer tais os meios quais competem para a excelência do fim para que os instituiu.
“Pois como Deus escolhesse esta benditíssima Virgem para a maior dignidade de quantas há debaixo d’Ele, que é para ser Mãe do mesmo Deus, assim convinha que Lhe desse o espírito, a santidade e a graça proporcionadas à excelência desta dignidade. Donde, assim como aquele templo material de Salomão foi uma das mais famosas obras que houve no mundo, porque era casa que se edificava não para homens, senão para Deus, assim convinha que este templo espiritual onde Deus havia de morar fosse uma perfeitíssima obra, pois para tal hóspede se aparelhava.
“Porque, como convinha fosse a alma que o Filho de Deus havia tomado por especial morada, senão cheia de toda a santidade e pureza?
“E como convinha fosse a carne da qual havia de tomar nossa natureza o Filho de Deus, senão livre de todo o pecado e corrupção? Porque assim como o corpo daquele primeiro Adão foi feito de terra virgem antes que a maldição de Deus caísse sobre ela, como sucedeu depois do pecado (Gên. II, 7), assim convinha fosse formado o corpo do segundo [Adão] de outra carne virginal, livre e isenta de toda maldição e pecado” ‘.
A honra e a nobreza do Filho exigiam uma Mãe imaculada
A sentença que acabamos de considerar é comum entre os autores eclesiásticos, como superiormente nos demonstra Santo Afonso de Ligório. Escreve o Fundador dos Redentoristas:
“Assim fala São Bernardo à Senhora: Antes de toda criatura fostes destinada na mente de Deus para Mãe do Homem-Deus. Se não por outro motivo, pois ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno A criasse pura de toda mancha. [...]
“Como é sabido, a primeira glória para os filhos é nascer de pais nobres. «A glória dos filhos (são) os seus pais» (Prov. XVII, 6).
“Por isso, na sociedade menos mortifica passar por pobre e pouco formado, do que ser tido por vil de nascença. Pois com sua indústria pode o pobre enriquecer, e o ignorante fazer-se douto com seus estudos. Mas quem nasce vil, dificilmente pode nobilitar-se, [e] ainda que o consiga, está exposto a ver que lhe atirem em rosto a baixeza de sua origem.
“Deus, entretanto, podia dar a seu Filho uma Mãe nobilíssima e ilibada da culpa original. Como então admitir que Lhe tenha dado uma manchada pelo pecado? Como dar a Lúcifer o ensejo de exprobar ao Filho de Deus a vergonha de ter nascido de uma Mãe que outrora fora escrava sua e inimiga de Deus? Não; o Senhor não lho permitiu. Proveu à honra de seu Filho, fazendo com que Maria fosse sempre imaculada. Assim A fez digna Mãe de tal Filho, como testemunha a Igreja Oriental.
1) LE MULIER, Hen. De la Très-Sainte d’aprés les Saintes Écritures et les Pères de l’Eglise. Paris: Pilon, 1854. Vol. I. p. 24.