quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O dia-a-dia da Sagrada Família

Continuação do post anterior

Enlevo e admiração pelo Filho-Deus
Pode-se imaginar  o  enlevo  sem  fim que o casal tinha por cada olhar  ou movimento do Menino. Enquanto trabalhavam em alguma coisinha, Maria e José ficavam atentos ao mínimo  gesto  de  Jesus  e  procuravam  não perder sequer uma emissão de  voz d’Ele.
Quem não ficaria atento? Afinal, eles sabiam que era o Homem-Deus  que estava assim Se movendo. 
Isto representava para eles um tesouro sem conta.
O dia-a-dia da Sagrada Família
Como seria o relacionamento no  seio da Sagrada Família?
Conversariam sobre a virgindade  fecunda de Nossa Senhora? Teriam  uma interlocução por onde, constantemente, faziam referência à natureza divina? Ou somente falavam sobre estes assuntos nas grandes ocasiões,  quando,  por  exemplo,  baixavam  do  Céu  luzes  extraordinárias,  ou quando contemplando o Menino  tinham êxtases místicos? 
Eu sou propenso a acreditar que,  na maravilha desse convívio interno,  as situações mais diferentes se sucediam simultaneamente, e isto constituía uma forma de convivência celeste.
A  vida  comum  de  uma  pobre  família  operária,  e  o  encanto  das  considerações  metafísicas  e sobrenaturais de Nossa Senhora e de São José, que viviam inundados  pela  presença  do  Menino,  uniam-se no dia-a-dia da Casa de  Nazaré.
Numa ocasião comum, Nossa Senhora perguntaria:
  José,  meu  esposo,  fostes  vós  que abristes aquela porta? Ireis porventura  sair,  levando  o  banco  que  acabastes de fazer?
— Senhora, responderia São José, preciso ainda ficar aqui por algum tempo, exceto se vossa vontade for outra.
Acrescentaria ele:
— Senhora, Vós Vos distraístes —  ele bem sabia que Maria tinha estado conversando com os Anjos — e o  almoço vai longe em nosso pequeno  fogareiro; vede um pouco...
Quem sabe ao certo como se davam  estas coisas? Pode-se imaginar tudo.
Previsão do sofrimento e da glória
Noutra ocasião, o Menino — que  quando  adulto,  no  Tabor,  reluziria entre  Moisés  e  Elias  de  um  modo  tão  esplendoroso  —,  no  momento  inopinado em que vinha pedir licença aos pais para brincar um pouco no  jardim, apareceria diante deles com  um brilho deslumbrante. Eles passavam alguns instantes sem poder responder ao Menino — o qual esperava reluzente a resposta —, completamente transportados para outra esfera: estavam diante de Deus.
Em certos momentos, Eles viam  que  o  Menino  Lhes  aparecia  brincando com dois pauzinhos que Ele carregava às costas: era o precônio  da cruz.
Ficavam,  então,  com  o  coração  partido, olhando o Menino Jesus andar determinadamente de um lado  para outro na casa, fazendo um gesto ao Padre Eterno. Era um ato figurativo da Agonia no Horto.
Tudo estava impregnado por uma  respeitabilidade, uma majestade, de  uma seriedade augusta, de uma determinação forte, para dizer tudo em  uma só palavra, de uma seriedade e  de uma dor desconcertantes!
Que dor, que nobreza, que grandeza, que majestade!
  Plinio Correa de Oliveira. Extraído de conferência de 20/11/82