quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Nossa Senhora do Ó ou Expectação

Continuação do post anterior
As antífonas do “Ó”
Sete  são  as  antífonas  do  “Ó”, e a Igreja as canta com  o Magnificat da Hora de Vésperas, desde o dia 17 até o 23 de dezembro. São uma invocação  ao  Messias,  recordando os anseios com que era esperado por todos os povos antes de sua vinda, assim como  são uma manifestação do sentimento  com  que,  todos  os  anos, novamente O espera a  Igreja nos dias que precedem  a grande solenidade do Nascimento do Salvador.
Chamam-se  assim  porque  todas começam no latim com  a  exclamação  “O”.  Também são conhecidas como “antífonas maiores”.
Foram compostas por volta dos séculos VII-VIII e pode-se  dizer  que  representam  um  extraordinário  compêndio  da  cristologia  mais  antiga da Igreja, ao mesmo tempo que um expressivo resumo  dos desejos de salvação de toda a humanidade, tanto de Israel  do  Antigo  Testamento  como da Igreja do Novo Testamento.
São  breves  orações  dirigidas  a  Nosso  Senhor  Jesus  Cristo  que  condensam  o  espírito do Advento e do Natal.  A admiração da Igreja diante  do mistério de um Deus feito homem: “Ó!”. A compreensão cada vez mais profunda de seu mistério. E a súplica urgente: “Vinde!”.
Após a exclamação inicial,  segue-se um título messiânico  tomado do Antigo Testamento, mas entendido com a plenitude do Novo. É uma aclamação a Jesus, o Messias, reconhecendo  tudo  o  que  Ele  significa para nós. Terminam  com  uma  súplica:  “vinde  e  não tardeis mais”.
Ó Sabedoria...
Ó Adonai...
Ó Raiz de Jessé...
 Ó Chave de David...
Ó Oriente...
Ó Rei das nações...
Ó Emanuel...
Fazem notar os estudiosos  da beleza da Liturgia que, a  serem lidas de trás para frente as sete iniciais das palavras  seguintes a cada Ó, forma-se  a frase (em latim): ero cras —  “serei  amanhã”.  Ou  seja,  a  promessa do Salvador de nascer em breve para nós.
Realização dos anseios do Antigo Testamento
Consideremos, pois, essas invocações.
Ó Sabedoria, que saístes da boca do Altíssimo, e atingis até os confins todo o universo e com força e suavidade governais o mundo inteiro: vinde ensinar-nos o caminho da prudência.
Ó Adonai1, chefe da casa de Israel, que aparecestes a Moisés no fogo da sarça ardente e lhe destes a Lei no Monte Sinai, vinde restaurar-nos com a força de vosso braço.
Há mais de mil anos os hebreus  meditavam sobre o episódio da sarça ardente e sabiam que Deus apareceria ao povo eleito de um modo  muito mais real e palpável do que a  Moisés. Donde o pedido que assim  poderia ser expresso: “Vinde, ó Senhor,  renovar  aquele  feito,  porém  com  uma  excelência  incomparavelmente maior”.
Ó Raiz de Jessé, que estais de pé como sinal dos povos, diante do qual os reis guardarão silêncio e a quem os povos hão de invocar, vinde libertar-nos, não tardeis.
Nosso Senhor Jesus Cristo nasceu  da raiz de Jessé, ou seja, da Casa real  de David (filho de Jessé), à qual pertencia a Virgem Maria. Diz a antífona que Jesus será invocado por todos  os povos da Terra e diante d’Ele todos os reis ficarão mudos. Por isso  implora: “vinde a nós, não tardeis”,  pois a humanidade geme e não pode  mais esperar pela libertação.
“Vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!”
Ó Chave de David e cetro da Casa de Israel, que abris e ninguém fecha, fechais e ninguém abre, vinde e tirai do cárcere o prisioneiro imerso nas trevas e nas sombras da morte.
Nosso  Senhor  fecha  e  ninguém  abre, abre e ninguém fecha, quer dizer, Ele possui o domínio de todas as  coisas.
Ó Oriente, esplendor da luz eterna e sol de justiça, vinde e iluminai aqueles que estão envolvidos pelas sombras da morte.
Em linguagem teológica, “justiça”  designa o conjunto de todas as virtudes, o estado de graça. 
O  Redentor  Divino  é  o  “esplendor da luz eterna” e, por outro lado, o sol de todas as virtudes, iluminando  os que vivem nas trevas e nas sombras  da morte, ou seja, presos dos vícios e  dos pecados.
De  fato,  Nosso  Senhor  veio  ao  mundo e da sua luz infinita nasceu a  civilização cristã, com seus fulgores  de santidade bafejada pela graça.
Ó Rei das nações e por elas desejado, pedra angular que reunis os dois povos [judeus e gentios], vinde e salvai o homem que formastes do lodo da terra!
Jesus Cristo é a pedra angular de  toda  a  ordem  humana  e  n”Ele  os  dissídios se reconciliam verdadeiramente, e não de um modo relativista.  Além disso, o Filho de Deus salva o  homem, criado do limo da terra.
E estando o Natal iminente, exclama-se: 
Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança e salvação das nações, vinde salvar-nos, Senhor nosso Deus!
São  exclamações  de  tal  maneira repassadas de desejo e fervor que  quase se sente Cristo prestes a nascer, bem como a alegria de todas as  nações esperando seu Salvador.
Pedir a implantação do Reino de Maria
Essas  belas  antífonas  nos  sugerem uma consideração sobre a época atual.
Disse o Papa Pio XI em sua encíclica Divini Redemptoris, escrita em 1937,  que  o  mundo  resgatado  por  Nosso Senhor Jesus Cristo se encontrava naquela época numa situação  lastimável,  ameaçado  de  cair  mais  baixo do que antes da Redenção. 
Ora, com o passar das décadas esse estado lamentável do mundo não  fez senão se agravar, a impiedade e  a imoralidade grassando sem freios  nos mais diversos ambientes da sociedade humana.
Razão pela qual ansiamos por uma  renovação da face da Terra, um como  que  irresistível  revigoramento  dos  frutos da Redenção — de si definitiva e super-suficiente — aplicados aos  homens de nosso tempo, para que,  regenerados  e  reconciliados  com  o  Divino Salvador, trabalhem pela implantação do Reino de Maria.
Nas vésperas do Natal, essas antífonas  devem  exprimir  um  pedido  ao Menino por intercessão de Nossa  Senhora: assim como Ele atendeu a  prece da Virgem Santíssima e apressou  sua  vinda  ao  mundo,  abrevie  igualmente os presentes dias e faça  sentir sua ação mais enérgica, triunfal, invencível para reimplantar seu  reino. E reimplantá-lo sob o aspecto  mais requintado, magnífico, ou seja,  Nosso Senhor reinar por Maria, com  Maria e em Maria.
Rezemos com a firme confiança de  que essa graça insigne nos será concedida, e assim transporemos com alegria, não só os dias piedosos que circundam a festa de Natal, mas também os umbrais do ano vindouro.  
1) Um dos nomes com que os hebreus invocavam o Altíssimo.