Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Em um
de seus sermões para a festa da Natividade da Virgem, São João de Avila assim
no-La apresenta revestida do brilho do Sol divino:
“[Maria
é] eleita como o sol. Nome é este que se dá a seu sacratíssimo Filho, porque
Ele é a fonte de toda luz espiritual no Céu e na Terra, como o sol é fonte de
claridade para todo o mundo. Contudo, assim como Ele concedeu a Ela o tomar
parte em sua santidade, dar-Lhe-á também seu lume de sol, posto que o deu a
seus Santos Apóstolos, aos quais disse: Vós sois a luz do mundo. Esta Menina
sagrada [...] é a mulher vestida de sol que São João viu em seu Apocalipse.
Lume e calor tem o sol, e com tanta excelência, que a fraqueza de nossos olhos não
o pode fitar. Quem descreverá a luz que, [...j para contemplar o Altíssimo Deus
e para tudo o que convinha para o servir, a esta Menina bendita foi concedida!?
“De
maneira que, embora o dia de nossa salvação [...] seja aquele em que o próprio
Deus se encarnou e nasceu neste mundo, e, em comparação com Ele, esta Santa
Virgem e seu nascimento se chamem manhã, sem embargo, considerando a excelência
da vida d’Ela, também a seu modo se chama sol e causa de alegria na Igreja,
segundo está escrito: «O que é o sol para o mundo quando nasce nas alturas de Deus,
assim é o rosto de uma mulher virtuosa»”
“Ouvistes,
sem dúvida, os amantes da bela natureza se extasiarem sobre o maravilhoso
efeito do nascer do dia. Viste-os empreender longas viagens e passar noites
inteiras no cimo de montanhas glaciais, a fim de se encontrarem, pela manhã,
prontos a desfrutar do radioso espetáculo de uma bela aurora.
“O sol
ainda não se levantou; não se distingue nem um de seus raios, e entretanto uma
certa luz intermediária, semelhante à da alegria, já faz renascer a natureza.
Há, então, entre a noite e o dia, alguns instantes de luta. Logo o horizonte se
colore de mil matizes, e o lado do oriente aparece todo em fogo. E então que
acreditareis ver cada
criatura
retomar sua vida, sua cor, sua inteligência, como se retoma um traje de gala
após a noite onde tudo é sombrio e incolor. [...]
“Os
esplêndidos fulgores de um meio-dia de verão não têm o encanto desta aparição
resplandecente que exerce sobre a natureza um tão grande domínio”.
“Digno
de lástima seria aquele que permanecesse indiferente a este imponente quadro, e
que, podendo ser testemunha de um tão belo espetáculo não sentisse seu coração
disposto a glorificar reconhecido, a majestade das obras de Deus!