Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
Toda a
graça celestial
Em uma
de suas expressivas passagens, escreve São Luís Grignion de Montfort:
“Deus
Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as suas graças e
chamou-as Maria. Este grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde
encerrou tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio
Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os Anjos chamam o tesouro do Senhor,
e de cuja plenitude os homens se enriquecem” 1.
Oceano de graças
Inspirado
nessa sentença montfortiana, comenta o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira:
“Nossa
Senhora é verdadeiramente um oceano de graças. Assim como o mar está para as
outras águas, assim está Ela em relação aos outros homens, pela abundância e a
imensidade de dons celestiais com que foi enriquecida por Deus.
“E
assim como todas as águas, em última análise, correm para o grande oceano,
também todas as graças nos são concedidas, e chegam até nós, pela intercessão
de Maria Santíssima” 2
Coroada de graças, virtudes e
belezas
Outra
bela consideração sobre a plenitude de graças de Nossa Senhora, devemos a Santo
Antônio Maria Claret:
“Maria
foi como o centro de todas as graças e belezas que Deus havia distribuído aos
Anjos, aos Santos e a todas as criaturas. Maria havia de ser a Rainha e Senhora
dos Anjos e dos Santos, e por isso mesmo deveria ter mais graças que todos
eles, já no primeiro instante de seu ser.
“Maria
havia de ser Mãe do próprio Deus. É um princípio de filosofia que entre a forma
e as disposições da matéria deve existir certa proporção: a dignidade de Mãe de
Deus é aqui como a forma, e o coração de Maria é a matéria que há de receber
esta forma. O, que cúmulo de graças, virtudes e outras disposições se reúnem
naquele santíssimo e puríssimo coração!...
“Desde
que Deus determinou fazer-se homem, fixou a vista em Maria Santíssima, e a
partir de então dispôs todos os preparativos necessários: fê-La nascer dos
patriarcas, profetas, sacerdotes e reis, e todas as graças destes reuniu em Maria,
e quis que fosse o creme e a flor de todos eles. Ademais, ornou-A com bênçãos de
doçura e pôs sobre sua cabeça uma coroa de pedras preciosas, isto é, de graças
e belezas” .3
Aqueduto repleto de graça divina
Celebrando
a natividade de Nossa Senhora, São Bernardo assim se refere Aquela que possui
toda a graça celestial:
“Quem é
a fonte da vida, senão Cristo Senhor? [...] Na verdade, a própria plenitude se
humilhou a si mesma, a fim de se tornar, para nós, justiça, santificação e
remissão. [...] Correu a fonte até nós e se difundiram as águas nas praças. Desceu
por um aqueduto aquela veia celestial, [...] infundindo em nossos áridos
corações as gotas da graça, a uns, certamente, mais; a outros, menos. O
aqueduto, sem dúvida, cheio está para que os demais recebam da [sua] plenitude.
“Já
percebestes, se não me engano, quem é este aqueduto que, recebendo a plenitude
da própria fonte do coração do Pai, no-la franqueou, se não do modo como é em
si mesma, ao menos conforme podíamos dela participar. Sabeis, pois, a quem se
disse: «Deus te salve, cheia de graça». [...]
“Contemplai,
mais altamente, com quanto afeto de devoção quis fosse honrada Maria por nós,
aquele Senhor que n’Ela depositou toda a plenitude de bem, para que, consequentemente,
se em nós algo exista de esperança, algo de graça, algo de salutar, conheçamos
que redunda d’Aquela que subiu (aos Céus) inebriada de delícias. [...]
“Achastes,
disse o Anjo, graça aos olhos de Deus”. Ditosamente. Sempre Ela encontrará a
graça, e só a graça é o de que necessitamos. A prudente Virgem não buscava
sabedoria, como Salomão; nem riquezas, nem honras, nem poder, mas graça. Na
verdade, só pela graça nos salvamos. Para que desejamos, nós, irmãos, outras
coisas? Busquemos a graça, e a busquemos por Maria, porque Ela encontra o que procura
e não pode ver-se frustrada” 4.
1) GRIGNION DE MONTFORT, Luís Maria. Tratado da
Verdadeira Devoção à Santissima Virgem. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1961. p. 30.
2) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Conferência em
janeiro de 1966. (Arquivo pessoal
3) CLARET, Antônio Maria. Escritos Autobiograficos y Espirituales. Madrid: BAC, 1959. p.
767-768.
4) BERNARDO. Obras
Completas. Madrid: BAC, 1953. Vol. I. p. 739-742