quarta-feira, 28 de maio de 2014

Paixão do Filho, martírio da Mãe

Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio da Imaculada
“Ela sofreu, além de toda expressão, por tudo o que sofreu Jesus Cristo. Ela O amava de um amor incomparável, como seu verdadeiro Filho e como seu Deus. Sua dor tomou a proporção de seu amor. O que fazia sofrer São Lourenço, era a grelha ardente sobre a qual ele estava estendido; Santo Estevão, as pedras com as quais foi lapidado; os confessores da fé, as prisões, os cavaletes, o dente das feras, as unhas de ferro, a fome, a sede. Contudo, o amor que tinham a Jesus suavizava suas penas.
“Para Maria, seu carrasco é o próprio amor ardente que Ela tem pelo Salvador. É o próprio Salvador que é sua tortura! Segundo a bela expressão de São Lourenço Justiniano, seu coração é como um espelho animado, onde se refletem e repercutem todos os sofrimentos de nosso Salvador. As fatigas de Jesus, suas penas, suas tristezas, as perseguições, as calúnias de que Ele é objeto, a ingratidão que se aferra contra Ele, Ela as partilhou numa indizível medida.
“Contudo, o que A fez sofrer no mais alto grau, foi a sangrenta imolação de seu querido Filho. Foi para Ela o martírio dos martírios.
“Aquele que está pregado na Cruz, seu Deus, seu Filho, Maria sabe que Ele deve morrer para a salvação do mundo. E como Ela consentiu no nascimento da Vítima do gênero humano, importa que Ela dê seu consentimento para sua imolação; cumpre que Ela aceite as disposições da Providência. A um tempo testemunha e sacerdote, sobre a montanha do Calvário, Ela se uniu ao Padre Eterno para entregar seu comum Filho ao suplício pela Redenção do mundo, tornando-se, em meio de indizíveis torturas, a Mãe do gênero humano! Oh! Quem poderá exprimir o excesso de suas dores? [...]
Paciência jubilosa
“[Entretanto], jamais, no meio de suas penas, Ela deixou escapar o menor murmúrio; nunca se lamentou com amargura; palavras de recriminação, ainda as mais ligeiras, jamais afloraram em seus lábios. E em sua alma, nunca o desfalecimento.
“Por certo, sentiu Ela, vivamente, a amargura da tribulação, o peso e a dureza da cruz. Porém, estava inteiramente resignada às disposições da Providência. Como seu Divino Filho, em meio às mais terríveis angústias,
Ela dizia: «Ó Pai que seja feita a vossa vontade, e não a minha!» Fiat!
“Que digo eu, Ela estava resignada? Sua paciência não se contentava com esse grau inferior. Não somente Ela sofria sem revolta, mas com um pressuroso consentimento. Não Lhe bastava o não rejeitar a cruz: Ela a acolheu generosamente. Como Jesus, Ela ia ao martírio com valentia, dizendo: «Levantemo-nOs, vamos!» [...]
“A imitação de seu Divino Filho, tinha Ela um insaciável desejo da cruz! Como Ele, em meio às mais acerbas penas, espantosas angústias inexprimíveis dores, Ela superabundava de alegria!
“Como essas montanhas cujos flancos são obscurecidos pelas nuvens acumuladas, inundados por um dilúvio de chuvas torrenciais, riscados por horríveis relâmpagos, enquanto o seu cume refulge na luz e recebe os brilhos e os raios do sol, assim Maria, na parte inferior de sua alma, sofria um martírio atroz, enquanto na parte superior, por um admirável prodígio da graça, permanecia na paz e na mais intensa alegria, inefavelmente feliz de sofrer com Jesus Cristo, pela glória de Deus e a salvação das almas!” 1

1 ROLLAND. La Reine du Paradis. 8. ed. Paris: Langres, 1910, Vol. I. p. 564-565; 567; 569-573.