Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio da Imaculada
“Ela
sofreu, além de toda expressão, por tudo o que sofreu Jesus Cristo. Ela O amava
de um amor incomparável, como seu verdadeiro Filho e como seu Deus. Sua dor
tomou a proporção de seu amor. O que fazia sofrer São Lourenço, era a grelha
ardente sobre a qual ele estava estendido; Santo Estevão, as pedras com as
quais foi lapidado; os confessores da fé, as prisões, os cavaletes, o dente das
feras, as unhas de ferro, a fome, a sede. Contudo, o amor que tinham a Jesus suavizava
suas penas.
“Para
Maria, seu carrasco é o próprio amor ardente que Ela tem pelo Salvador. É o
próprio Salvador que é sua tortura! Segundo a bela expressão de São Lourenço
Justiniano, seu coração é como um espelho animado, onde se refletem e repercutem
todos os sofrimentos de nosso Salvador. As fatigas de Jesus, suas penas, suas
tristezas, as perseguições, as calúnias de que Ele é objeto, a ingratidão que
se aferra contra Ele, Ela as partilhou numa indizível medida.
“Contudo,
o que A fez sofrer no mais alto grau, foi a sangrenta imolação de seu querido
Filho. Foi para Ela o martírio dos martírios.
“Aquele
que está pregado na Cruz, seu Deus, seu Filho, Maria sabe que Ele deve morrer para
a salvação do mundo. E como Ela consentiu no nascimento da Vítima do gênero
humano, importa que Ela dê seu consentimento para sua imolação; cumpre que Ela
aceite as disposições da Providência. A um tempo testemunha e sacerdote, sobre a
montanha do Calvário, Ela se uniu ao Padre Eterno para entregar seu comum Filho
ao suplício pela Redenção do mundo, tornando-se, em meio de indizíveis
torturas, a Mãe do gênero humano! Oh! Quem poderá exprimir o excesso de suas
dores? [...]
Paciência jubilosa
“[Entretanto],
jamais, no meio de suas penas, Ela deixou escapar o menor murmúrio; nunca se
lamentou com amargura; palavras de recriminação, ainda as mais ligeiras, jamais
afloraram em seus lábios. E em sua alma, nunca o desfalecimento.
“Por
certo, sentiu Ela, vivamente, a amargura da tribulação, o peso e a dureza da
cruz. Porém, estava inteiramente resignada às disposições da Providência. Como
seu Divino Filho, em meio às mais terríveis angústias,
Ela
dizia: «Ó Pai que seja feita a vossa vontade, e não a minha!» Fiat!
“Que
digo eu, Ela estava resignada? Sua paciência não se contentava com esse grau
inferior. Não somente Ela sofria sem revolta, mas com um pressuroso
consentimento. Não Lhe bastava o não rejeitar a cruz: Ela a acolheu
generosamente. Como Jesus, Ela ia ao martírio com valentia, dizendo:
«Levantemo-nOs, vamos!» [...]
“A
imitação de seu Divino Filho, tinha Ela um insaciável desejo da cruz! Como Ele,
em meio às mais acerbas penas, espantosas angústias inexprimíveis dores, Ela
superabundava de alegria!
“Como
essas montanhas cujos flancos são obscurecidos pelas nuvens acumuladas,
inundados por um dilúvio de chuvas torrenciais, riscados por horríveis
relâmpagos, enquanto o seu cume refulge na luz e recebe os brilhos e os raios
do sol, assim Maria, na parte inferior de sua alma, sofria um martírio atroz, enquanto
na parte superior, por um admirável prodígio da graça, permanecia na paz e na
mais intensa alegria, inefavelmente feliz de sofrer com Jesus Cristo, pela
glória de Deus e a salvação das almas!” 1
1 ROLLAND. La Reine du Paradis. 8. ed.
Paris: Langres, 1910, Vol. I. p. 564-565; 567; 569-573.