terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Nossa Senhora da Ternura

Tudo quanto está no ícone de Nossa Senhora da Ternura dá a entender que essa ternura resulta de uma posição de alma d’Ela muito estável, contemplativa e atenta, dentro do teor de uma vida que permite isso e faz disso o seu próprio centro.
Analiso depois a ternura e vejo uma alma que fez da ternura, isto é, da consideração atenta de um Ser — no caso, o Filho d’Ela — que se fez mais fraco e entregue ao cuidado d’Ela, o objeto de uma atitude mental que A abarca por inteiro, a ponto de Ela não ser apenas terna com Ele, mas todas as ternuras de todos os tempos ali se concentrarem e defluírem dos braços e da bondade d’Ela.
Contemplando Nossa Senhora com o Menino Jesus, noto a veneração sem conta com que essa ternura se exerce. Tudo quanto possa representar Moisés adorando a Deus no Sinai, diante da sarça ardente, é uma cena grandiosa, à qual presto minhas homenagens, e gosto dessa grandeza, mas não contém o senso de grandeza que está nessa pintura.
Prestem atenção na posição, no trato com o Menino, o respeito, a veneração, a adoração, quase como quem não sabe por onde mover de tanto adorar, mas adorar do mais fundo para o mais alto.
Quase se poderia dizer que muitas expressões dos Salmos de Davi caberiam nos lábios de Maria Santíssima:
“De profundis clamavi...” — não é do fundo do pecado, mas do fundo da admiração d’Ela — “...ad Te, Domine”8. Quem é o “Senhor”? É o Menino que Ela precisa cuidar para dar leite. “Eu clamei a Vós, Senhor, na admiração!”

Plinio Correa de Oliveira - Extraído de conferência de 4/2/1982