Tudo
quanto está no ícone de Nossa Senhora da Ternura dá a entender que essa ternura
resulta de uma posição de alma d’Ela muito estável, contemplativa e atenta,
dentro do teor de uma vida que permite isso e faz disso o seu próprio centro.
Analiso
depois a ternura e vejo uma alma que fez da ternura, isto é, da consideração
atenta de um Ser — no caso, o Filho d’Ela — que se fez mais
fraco e entregue ao cuidado d’Ela, o objeto de uma atitude mental que A abarca
por inteiro, a ponto de Ela não ser apenas terna com Ele, mas todas as ternuras
de todos os tempos ali se concentrarem e defluírem dos braços e da bondade d’Ela.
Contemplando
Nossa Senhora com o Menino Jesus, noto a veneração sem conta com que essa
ternura se exerce. Tudo quanto possa representar Moisés adorando a Deus no
Sinai, diante da sarça ardente, é uma cena grandiosa, à qual presto minhas
homenagens, e gosto dessa grandeza, mas não contém o senso de grandeza que está
nessa pintura.
Prestem
atenção na posição, no trato com o Menino, o respeito, a veneração, a adoração,
quase como quem não sabe por onde mover de tanto adorar, mas adorar do mais
fundo para o mais alto.
Quase
se poderia dizer que muitas expressões dos Salmos de Davi caberiam nos lábios
de Maria Santíssima:
“De
profundis clamavi...” — não é do fundo do pecado, mas do fundo da admiração
d’Ela — “...ad Te, Domine”8. Quem é o “Senhor”? É o Menino que Ela precisa
cuidar para dar leite. “Eu clamei a Vós, Senhor, na admiração!”
Plinio Correa de Oliveira - Extraído
de conferência de 4/2/1982