quarta-feira, 28 de março de 2012

Exagero ou afetuosa manifestação de amor?


A cidade de Sevilha, na Andaluzia (Espanha), é famosa por muitas razões. Sua catedral gótica é a maior do mundo. De suas lendárias torres — a “del Oro” (do Ouro) e a “Giralda” — ouve-se falar no mundo inteiro. Famosas são também suas outras igrejas, seus jardins, suas carruagens e charretes, suas férias, suas músicas e danças.

Mas essa cidade tão diáfana, toda alegria e toda luz, expõe à veneração dos sevilhanos, na recolhida penumbra dos templos, belíssimas representações de Cristo em Agonia e de Nossa Senhora das Dores — as “Dolorosas”, como são chamadas na Espanha. São imagens antigas, de valor artístico incalculável, feitas para tocar o coração de quem as contempla, levando à contrição e ao amor.

Uma dessas “Dolorosas”, esculpida no fim do século XVII, é alvo de especial devoção: trata-se de Nossa Senhora da Esperança Macarena.

Logo à primeira vista, ela impressiona pela riqueza de seus trajes. O ouro e a prata foram usados com largueza. Sua cabeça está coberta por um véu rendado, encimada por uma enorme coroa, ornada com um resplendor de prata. Os preciosos tecidos de seda que a vestem têm dimensões generosas. Valiosos trevos de esmeraldas, dados de presente por um toureiro agradecido, adornam seu busto.

Tão exuberantes são todos esses ornatos que se teria a impressão, à primeira vista, de Ela estar sobrecarregada. Mas não é verdade. Em sua cintura, uma faixa lhe dá muita elegância. E, em meio a tanto aparato, a Macarena se mostra distinta e esbelta, com ares de uma desenvoltura singela.

E mais. Ao contemplar detidamente seus finos traços, sua fisionomia delicada, sua suave e esguia silhueta, brilham aos nossos olhos a realeza, a distinção, a maternalidade, predicados de Nossa Senhora, presentes nessa imagem de maneira marcante.

E quando se considera que Ela é a Virgem-Mãe de Deus, tudo começa a tomar outra dimensão. Como ficam bem para Ela todas essas jóias! Como realçam a jóia mais preciosa que é Ela mesma!

Mas não teria bastado — perguntarão alguns — colocar apenas alguns enfeites discretos? Por que “empetecar” Nossa Senhora dessa forma?

Não. Em primeiro lugar, o “excesso” de adornos indica a impossibilidade de ofertar, nesta terra, algo que esteja à altura de tão excelsa Rainha. Mas, acima desse significado, todas essas jóias, todos esses tecidos constituem uma afetuosa manifestação de amor.