quarta-feira, 21 de março de 2012

Casa de Loreto

Era a meia-noite de 10 de dezembro de 1294 quando, nos céus de um lugarejo da região de Loreto, Itália, brilhou uma esplendorosa luz e fez-se ouvir uma celestial harmonia. Centenas de pessoas acordaram e saíram para olhar o que estava acontecendo. Viram, então, maravilhadas, uma pequena casa sendo transportada por Anjos. Estes a depositaram suavemente no meio de um bosque de loureiros, os quais se inclinaram, como que prestando profunda reverência à recém-chegada.
Logo se espalhou a notícia e, ao despontar do sol, centenas de moradores da vizinhança acorreram para ver a misteriosa casa. No seu interior encontraram uma expressiva imagem de madeira que representava uma Senhora com um Menino nos braços. De joelhos, devotamente lhes renderam suas homenagens.
A multidão de visitantes aumentou dia a dia. Passados oito meses, a casa deixou o bosque e foi pousar numa colina não muito distante. Quatro meses depois, tornou a elevar-se do solo e fixou-se definitivamente no alto de um monte rochoso, junto ao mar, na cidade de Loreto.
Esta é — segundo uma tradição multissecular — a história da milagrosa trasladação da Santa Casa de Loreto.
Dentro dela encontra-se um belo altar, encimado pela imagem de Nossa Senhora de Loreto, no qual lê-se a seguinte inscrição: “Aqui o Verbo de Deus se fez carne”.
Loreto e Nazaré: reciprocidade
A mesma inscrição — “Aqui o Verbo de Deus se fez carne” — está gravada na Basílica de Nazaré (Palestina), sobre o altar da Sagrada Gruta, indicada não só pela tradição, mas também por sérios estudos, como o local onde a Virgem Maria recebeu a Anunciação do Arcanjo São Gabriel e concebeu em seu puríssimo seio o Filho de Deus.
A respeito desta dualidade de locais, aparentemente contraditória, a Irmã Maria de la Contemplación, oferece interessantes dados, em erudito estudo divulgado via internet.
“Graças a documentos, trabalhos arqueológicos e a estudos filológicos e iconográficos, pôde-se demonstrar a autenticidade de ambos os lugares” — afirma ela.
E explica: “Hoje em dia, os estudiosos estão de acordo em estabelecer, com sólidos fundamentos, que a habitação terrena da Virgem era constituída por uma CASA, construída de pedra, e por uma GRUTA escavada na rocha, situada atrás e ligeiramente funda, como costumavam ser as outras vivendas de Nazaré. (...) Trata-se, portanto, de duas partes de uma mesma habitação.
Mais adiante acrescenta que “se a Santa Casa de Loreto for figurativamente trasladada para Nazaré, as duas partes se conjugarão de forma admirável, tanto em relação às medidas como à posição. Além disto, o aperfeiçoamento das pedras da Santa Casa de Loreto revela uma técnica típica dos antigos nabateus, vizinhos dos hebreus e atuantes também na Palestina. (...)
“Finalmente, cerca de sessenta inscrições existentes em numerosas pedras da Santa Casa de Loreto são bastante semelhantes a outras judaico-cristãs, encontradas na Terra Santa, sobretudo em Nazaré. (...) Resumindo, essas inscrições constituem como que o ‘selo de garantia’ da origem nazarena das paredes da Santa Casa de Loreto”.
Com essas palavras, conclui a Irmã Maria de la Contemplación seu esclarecedor artigo. Foi nessa habitação que o Arcanjo Gabriel saudou a Virgem Maria: “Ave, cheia de graças”, e d’Ela recebeu a resposta: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo tuas palavras”. Entre suas paredes benditas operou-se o mais estupendo milagre que houve e haverá: a concepção virginal do Homem-Deus. Nela viveu a Sagrada Família.
Segundo a tradição, o próprio São Pedro teria consagrado essa habitação como igreja e nela teria celebrado Missa. A tal ponto se mantém essa tradição que o antigo altar da Santa Casa de Loreto (atualmente incrustado em um maior) é chamado de “altar de São Pedro”.
Em 1291, os sarracenos reconquistaram os últimos territórios da Terra Santa ainda em poder dos cristãos, e quiseram destruir todos os lugares sagrados lá existentes. A antiga morada da Virgem Maria era bem conhecida, porque, como vimos, era local de orações desde o tempo dos Apóstolos.
Quando os maometanos chegaram às proximidades de Nazaré, a Santa Casa estava completamente desguarnecida de defesa humana, portanto, na iminência de ser arrasada. Nessa trágica situação, Nosso Senhor enviou seus Anjos com a missão de transportá-la para lugar seguro.
Curiosamente, segundo a mesma tradição, ela foi primeiro depositada num pequeno povoado de nome Tersatto, na Croácia, e só três anos depois foi levada para a Itália.
Hoje ela está situada dentro de uma suntuosa basílica, construída especialmente para servir-lhe de relicário. Todos os anos é visitada por muitos milhares de peregrinos provenientes dos cinco continentes. Entre os que lá estiveram destacam-se vários Santos, como São Francisco de Sales, São Maximiliano Kolbe, Santa Teresinha do Menino Jesus. João Paulo II visitou-a diversas vezes, ali recitando seu Rosário. Ele definiu a Santa Casa de Loreto como “o primeiro Santuário de porte internacional dedicado à Virgem e, por vários séculos, verdadeiro coração mariano da Cristandade”.
Há mais de 80 anos, o Papa Bento XV proclamou Nossa Senhora de Loreto padroeira dos aviadores. É por este motivo que se vê sua imagem entronizada em numerosos aeroportos.