Mons. João Sconamiglio Clá Dias, EP
Meditação
Sois a luz que brilhará nas trevas para
os gentios e para a glória de Israel, o vosso povo - (Lc 2, 32).
- Meus olhos viram o Salvador, que
preparastes, ó Deus, para todos os povos -. (Lc 2, 30s), exclamou o velho
Simeão.
A
Igreja comemora no dia 2 de fevereiro o duplo mistério da Apresentação de Jesus
Cristo no templo e o da Purificação da Santíssima Virgem. Foi a oferta pública
e solene de nosso divino Salvador, feita a Deus, no templo de Jerusalém, 40
dias depois de seu nascimento.
I - No Antigo
Testamento...
A
Lei Antiga continha dois preceitos relativos ao nascimento dos filhos
primogênitos.
O
primeiro prescrevia que a mãe se considerasse impura, e ficasse retirada em
casa por quarenta dias, findos os quais devia ir ao templo purificar-se (Lv
12). Mandava o segundo que os pais do menino o levassem ao templo e ali o
oferecessem a Deus (1); era a lei de Moisés, a qual mandava que todo o filho
primogênito fosse oferecido ao Senhor (Ex 13, 2) e depois resgatado por cinco
siclos de prata (Nm 18, 16), que equivalia a 20 dias de trabalho de São José.
Depois
de Jesus ter nascido em Belém e de ter sido circuncidado oito dias após, Maria
e José tiveram de cumprir esta dupla lei. Por quê toda família deveria cumprir
estes ritos?
Esta
norma da Apresentação era para lembrar aos Hebreus o prodígio acontecido em
favor de seus pais, quando o Anjo exterminador feriu de morte, em uma noite,
todos os primogênitos dos egípcios sem ferir os dos judeus. Foi a última das
dez pragas que Deus enviou, devido à dureza do coração do Faraó, ao permanecer
na decisão de não permitir a saída do povo judeu. Deus manda ao mesmo tempo,
exigindo por meio de Moisés, que a partir daquela data todos os primogênitos
deveriam ser entregues a Ele e depois resgatados por algum preço.
Enquanto
que a purificação deveria ser feita pagando-se um tributo, que seria um
cordeiro, ou se a família fosse pobre, duas rolas. Por isso que Maria sendo
pobre, ofereceu ao Templo duas rolas.
Por
que duas rolas? Uma era para cumprir a lei da purificação e a outra para uma
oferta de holocausto.
Todos
esses ritos parecem estranhos aos nossos olhos, mas Deus estabeleceu-os, por
causa da dureza e rudeza daquela civilização basicamente campestre e pastoril.
1 - A lei da
purificação
-
Maria foi purificada - diz São Tomás - para dar exemplo de obediência e de
humildade -
Essa
Lei tinha sido imposta por Moisés, por inspiração divina, para as pessoas
concebidas no pecado original. Ora, ali havia uma mãe sem pecado original e um
Filho que vinha justamente para resgatar o pecado. Se nEla não havia mancha,
nEle só havia luz! Eles podiam perfeitamente dispensar-se disso.
-
Contudo, o que teria que ver as demais mães, a casta esposa do Espírito Santo,
virgem na concepção de seu Filho, virgem no seu milagroso parto, sempre pura, e
mais pura ainda depois de ter trazido no seu seio aquele Deus que é a mesma
Pureza?(3)
-
O parto virginal da Virgem preservara-a da menor sombra de impureza legal, e é
evidente que Jesus não estava sujeito à Lei nem tinha que pagar nenhum resgate
ou tributo, de quem estava isento por ser Filho de Deus, como Ele próprio dirá
mais tarde a Pedro- (Mt 17, 24-27).(2)
Como Maria observa a lei da purificação?
-
Maria e José abandonam a sua pobre casa de Belém, deliciosa habitação, onde
tinham tão felizes dias, só com a roupa que tinham. O divino Menino Jesus nos
braços de Maria ou de José. Mas, ó meu Jesus, que haverá de faltar, quem Vos
possui, a felicidade eterna, Esplendor da glória do Pai?
-
Põem-se a caminho de Jerusalém, cruzam com a gente que passa, sem prestar
atenção, ao lado de uma família pobre, mas que não deixa por isso de se a
primeira família do universo...
não
estão preocupados com o que acham deles, se são estimados.
No
céu, a Santíssima Trindade espera a mais digna oferenda, que as criaturas
podiam dar-lhe!
A Santa Mãe de Deus se humilha...
-Apesar
de sua augusta qualidade de Mãe de Deus, Maria para à porta do tabernáculo,
como as outras mães de Israel, que não podiam entrar nele, antes de serem
purificadas. Humilha-se diante do sacerdote, que ora por ela, como pelas
outras; por ela é também oferecido o sacrifício de holocausto ou de adoração e
o sacrifício pelo pecado. Vendo-a de joelhos, como se fosse uma penitente, no
meio daquelas mulheres que precisavam fazer penitência; quem a tomaria pela
Rainha dos Anjos e pela Santa Virgem das virgens?-
-
Mas Deus conhece a sua pureza e isto lhe basta. Pouco importa a Nossa Senhora o
que pensam dela os homens. Honra assim, a infinita Santidade do Senhor, em
presença da qual toda a santidade das criaturas é menos que uma sombra -.
Quanta
lição este mistério nos dá!?
a) Ensina-me a
humilhar-me, a purificar-se cada vez que sou convidado a participar dos
sacramentos, da celebração litúrgica.
b) Ensina-me a
desprezar os juízos dos homens; eu sou o que sou diante de Deus; a opinião de
meus semelhantes nada pode tirar-me nem dar-me.(3)
2 - A lei da
Apresentação.
Eis
que Maria se encaminha para Jerusalém a oferecer o Filho. Apressa os passos
para o lugar do sacrifício, levando em seus braços a vítima tão amada.
E,
depois que foram concluídos os dias da purificação de Maria, segundo a lei de
Moisés, levaram-no a Jerusalém para o apresentarem ao Senhor.(Lc 2, 22-24)
Entra
no templo, aproxima-se do altar, e ali, toda cheia de modéstia, humildade e
devoção, apresenta o Filho ao Altíssimo. Mas a puríssima Virgem o ofereceu de
um modo diferente do das outras mães. Essas ofereciam os filhos, mas sabiam que
esta oblação era uma simples cerimônia da lei, de modo que por meio do resgate
os tornavam seus, sem receio de tê-los de oferecer à morte. Maria, pelo
contrário, ofereceu seu Filho à morte realmente ... Ela estava certa de que o
sacrifício que então fazia da vida de Jesus, consumar-se-ia no altar da cruz.
Ora,
amando vivamente seu Filho, sacrificou a si própria a Deus, ao oferecer a vida
de Jesus.(1)
Ela
puríssima, concebida sem a mancha original; e quem não tem mancha não tem o que
reparar, não tem do que se purificar. Quanto a Ele, é Deus! Como oferecê-Lo a
Deus, sendo Ele o próprio Deus! Embora essas leis não se aplicassem à Sagrada
Família, no entanto, puseram-se a campo. Como sabemos, o Menino Jesus possuía
inteligência divina e era desejo Seu que se cumprisse a lei conforme o costume,
como veremos no decorrer da meditação.
II- A lição da
Sagrada Família!
Estariam
obrigados ao cumprimento dessas duas leis: o Menino Jesus, Maria e José?
No
que diz respeito a lei de Deus, não há palavras que exprima a fidelidade deles.
Eles
não estavam obrigados a cumprir esta lei. Eles obedeceram porque tinham devoção
pela lei e para nos ensinar o quanto devemos cumprir com perfeição esta mesma
lei.
Nossa
Senhora, puríssima, concebida sem a mancha original; e quem não tem mancha não
tem o que reparar, não tem do que se purificar. Quanto a Ele, é Deus! Como
oferecê-Lo a Deus, sendo Ele o próprio Deus! Embora essas leis não se
aplicassem à Sagrada Família, no entanto, puseram-se a campo.
Como
sabemos, o Menino Jesus possuía inteligência divina e era desejo Seu que se
cumprisse a lei conforme o costume.
Aplicação:
lição para nós do quanto devemos levar a sério as leis divinas, pois, e se as
leis dos homens devem ser cumpridas com exatidão, muito mais ainda as leis de
Deus. E essas foram gravadas em nossos corações, desde o momento em que nossas
almas foram criadas.
1- Convite ao amor à Lei de Deus.
Quando
o primeiro Mandamento nos diz: amaras ao Senhor teu Deus com toda a
inteligência, com toda da tua vontade, com toda a tua sensibilidade, acima de
todas as coisas, essa lei está impressa e no fundo de nossos corações. E quando
nos apegamos a esses ou aqueles objetos, a essas ou aquelas pessoas, quando damos
mais importância a uma amizade do que ao próprio Deus e, pior ainda, quando
essa amizade nos leva ao pecado - portanto, a ofender a Deus levando-nos a
afastar Dele - estamos violando uma lei que está gravada no mais intimo de
nossas almas e procedendo exatamente ao contrário da Sagrada Família no momento
em que entram no Templo.
2 - O Santo Simeão.
Encontramos
na cena da Apresentação no Templo um ancião, que diz o Evangelho: - Ora havia
então em Jerusalém um homem, chamado Simeão, e este homem era justo e temente a
Deus e esperava a consolação de Israel -. (Lc. 2 - 25).
Justo
na linguagem da Escritura, significa santo, portanto perfeito e que procurava
seguir a lei de Deus com exatidão.
Justo
e temente a Deus. Bastaria ser justo, mas o Espírito Santo põe na pluma de São
Lucas o elogio deste temor de Deus. Por quê?
Porque
não basta só o amor, não basta a santidade, não basta o desejo de andar bem, é
preciso que haja o temor. É por isso que o Espírito Santo pelos lábios de São
Lucas, elogia o velho Simeão em seu amor e também em seu temor.