Continuação dos comentários ao Pequeno Ofício de Nossa Senhora
Eu fiz nascer no Céu a luz que não se apaga
Em seus renomados
sermões marianos, São Boaventura ensina que, “comparada à luz da Sabedoria
divina, Maria avantaja em claridade às demais criaturas, porque assim como
aquela está sobre todos os seres criados quanto à iluminação que lhes dá, [...]
assim esta Virgem, esclarecida mais que todos os Santos por dita Sabedoria, com
seus piedosos rogos iluminou, pela luz da graça, mais do que ninguém, a todo o
mundo.
“Por isso se escreve no
capítulo XIII de Tobias: «Brilharás com luz resplandecente e serás adorada em
todos os rincões da Terra», como se dissesse: Tu, santa, brilharás com a luz
resplandecente da Sabedoria Eterna, ou seja, obterás para os outros o esplendor
da graça. [...]
Luz que não se apaga
“Ademais, comparada com
a Luz eterna, avantaja em sabedoria às outras criaturas, porque assim como a
Luz divina sobrepuja à criação inteira, quanto ao governo e direção de tudo o
que existe, [...] assim também a Bem-aventurada Virgem está acima de todas as
coisas neste particular; e por isso se diz no capítulo VII do Livro da
Sabedoria:
«Resolvi-me a tê-la por
luz, porque a sua claridade é inextinguível». [...] A luz dos outros Santos,
homens ou mulheres, se apaga com frequência, e por isso é perigoso segui-la,
pois quando se acredita seguir a luz, segue-se as trevas. Porém, a luz desta
Virgem se fez inextinguível pela [sua] confirmação em graça; e, mais ainda, a
Ela mesma se deve o não se apagar nos outros a luz da graça, segundo se lê no
capítulo XXIV do Eclesiástico: «Eu fiz nascer nos céus a luz que não se
apaga». Pois «quem a segue, não anda em trevas, mas terá a luz da vida», que
nunca fenece” 1.
1 BOAVENTURA.
Obras Completas. Madrid: BAC, 1947. Vol. IV p. 867; 869; 905 e 907.