terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Duas categorias de tentações

As tentações podem ser classificadas pelo menos em duas categorias. Umas são tentações-castigos; outras serão apenas provações e até estímulos para progredirmos na vida espiritual.
Esse ponto merece insistência, pois não é raro ouvirmos queixas como estas: “Ando tão mal que me sinto tentado a querer tal coisa péssima”. Ou: “A tentação é um castigo para os que não se comportam bem, e Deus me puniu com uma. Se estou tentado, é porque fiz alguma coisa errada”.
Importa compreender que esse raciocínio não se aplica a todos os casos de tentação.
Certo, quando alguém se deixa levar por determinada atitude espiritual ruim, abre o flanco para a investida do demônio. O próprio São Francisco Xavier nos cita exemplos dessas perigosas disposições de alma. Ele adverte as pessoas que não se dedicam nos serviços a elas confiados e que arrastam a obrigação preguiçosamente. Essa preguiça já constitui uma meia guarda desamparada para que o inimigo se apresente e as incite a abandonar o dever. Risco análogo corre o religioso que cumpre uma obediência cheio de cismas e de ressalvas interiores, mais ou menos arbitrárias. É óbvio que, de um momento para outro, será tentado pelo demônio a não seguir as ordens de seu superior. Em ambos os casos, a tentação pode ser vista como um castigo pela má predisposição de espírito dessas pessoas.
Contudo, muitas vezes é outra a razão de sermos tentados. Vamos muito bem na vida espiritual, e por isso mesmo Deus permite travarmos um combate com o adversário d’Ele, para que vençamos e alcancemos um incremento de glórias na nossa piedade.
Motivo para confiar em Deus
Em outras ocasiões, verificar-se-á o fato de não estarmos num bom momento espiritual, e Deus então dispõe que sejamos tentados para que a luta nos estimule a melhorar. Assim, muitas tentações são permitidas por Ele, pois constituem um verdadeiro tônico para os necessitados de incentivo.
Mais ainda. Na vida espiritual, o perigo consiste, não tanto em ser tentado, mas em não sofrer os ataques do demônio. Com efeito, não é sinal favorável que uma pessoa passe anos sem tentações, pois provavelmente será do número daquelas almas às quais o demônio logrou paralisar no caminho da perfeição. Elas se deixaram cair na modorra, na indolência e mediocridade, embora conservem um resto de consciência de seu estado lamentável: se forem tentadas, começam a se erguer e a reagir. Por isso o demônio não as provoca, para que continuem a se decompor de modo imperceptível ao longo dos tempos.
Por tudo quanto foi dito, vê-se que este raciocínio: “Estou tentado; logo, vou mal espiritualmente e estou sendo castigado”— é uma imensa simplificação, e mutila o panorama da nossa vida de piedade. Até mesmo para alguém que sofre tentações porque abriu o flanco ao demônio, a reação contra elas pode colocá-lo numa posição melhor do que antes das investidas diabólicas, humilhando e rechaçando o seu inimigo.
A tentação não nos deve, pois, levar ao desânimo ou ao semi-pânico, mas  a um aumento de nossa confiança em Deus. Ainda que tenhamos sido culpados e, portanto, tentados por castigo, Deus continua sendo nosso Pai, e Maria Santíssima, nossa Mãe. Ela é o Refúgio dos Pecadores: qualquer um que tenha cometido uma falta e se refugie junto a Ela, recebe sua materna proteção, seu infalível auxílio e incansável assistência.