sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Ave Maria cheia de graça

A plenitude de graça existente em Nossa Senhora foi objeto, ao longo dos séculos, da unânime homenagem dos Santos e dos autores eclesiásticos. Ouçamos, entre outros:
Santo Atanásio: “Fostes chamada cheia de graça porque possuístes a abundância de toda graça!”35
Dionisio o Cartuxo: “Assim como ninguém seria capaz de contar as gotas de água do mar, assim ninguém saberá exprimir a excelência da graça e da glória em Maria”36.
São Boaventura: “O Filho de Deus, santificando a Virgem, cumulou-A de graça, e depois de santificá-La, A protegeu Ele mesmo com sua sombra e A encheu de glória, de maneira que nem na alma nem no corpo, restasse parte que não estivesse cheia da graça da Divindade”.37
São Tomás de Aquino: “Em toda ordem de coisas, quanto mais alguém se aproxima do princípio dessa ordem, mais participa dos efeitos desse princípio [...] [v. g., o que mais próximo está do fogo, mais se aquece. Pois bem, Cristo é o princípio da graça: pela divindade, como verdadeiro autor, pela humanidade, como instrumento. E assim se lê em São João: «A Graça e a verdade vieram por Jesus Cristo» (Jo. I, 17). Ora, a Bem-aventurada Virgem Maria esteve proximíssima de Cristo, segundo a humanidade, posto que d’Ela recebeu Cristo a natureza humana. Portanto, deve ter obtido d’Ele uma plenitude de graça superior à dos demais” 38
O mesmo Doutor Angélico, em sua magistral interpretação da Ave Maria, acrescenta:
“A Santíssima Virgem superou aos Anjos pela plenitude da graça, que com mais abundância existe n’Ela do que em qualquer Anjo. Para manifestá-lo disse Gabriel: «gratia plena», isto é, «eu Te reverencio por que me avantajas em abundância de graça». A Virgem Maria está cheia de graça:
“Primeiramente quanto à alma, que possuiu a plenitude, já que Deus a distribui para dois fins: para operar o bem e para evitar o mal. Enquanto ao pecado a Virgem os evitou todos, e muito mais que qual quer Santo, sendo nisto a primeira depois de Cristo, já que nasceu sem o original e se viu livre durante a sua vida do mortal e do venial. Pelo que se Lhe pode dizer: «Tota pulchra est amica mea et macula non est in te» (Cânt. IV, 7).
“No tocante às obras de virtude, a Santíssima Virgem as praticou todas, enquanto que os Santos não praticaram senão algumas determinadas, pois um foi humilde, outro casto, outro misericordioso. Por isso cada um deles é proposto como modelo de uma virtude distinta, mas a Virgem Santíssima nos dá exemplo de todas.
“Está cheia de graça, em segundo lugar, porque esta superabundou tanto em sua alma que pôde chegar a santificar o seu corpo. Coisa grande é que os Santos tenham a [graça] suficiente para santificar a alma...
“Em terceiro lugar, está cheia de graça porque chegou a derramá-la sobre todos os homens. É coisa admirável que um Santo a tenha bastante para comunicar a salvação a muitos. Mas que salve a todos, não se pode dizer senão de Cristo e de Maria. Em qualquer perigo pode obter-se a graça d’Ela”.39
São Pedro Damião: “Assim a Virgem, eminentíssima e elevada entre as almas dos Santos e dos Anjos, antecede os méritos de cada um e os títulos de todos... Assim a Virgem singular supera a uma e outra natureza (angélica e humana) pela imensidade da sua graça e o fulgor das suas virtudes.” 40
São Pedro Crisólogo: “A cada um se lhe dá a graça por partes, mas a Maria Lhe foi concedida toda a plenitude da graça”. 41

Fr. Luís de Granada, fazendo eco à voz de seus antecessores, afirma: “Todos concordam em que a sacratíssima Virgem, antes de nascer, foi cheia de todas as graças e dons do Espírito Santo, porque assim convinha que fosse A que ab æterno era escolhida para ser Mãe do Salvador do mundo. Por maiores que fossem esta graça e estas virtudes, não há língua humana que o possa declarar. A razão é porque Deus faz todas as coisas conformes aos fins para que as escolhe, e assim as provê perfeitissimamente do que para elas é necessário. [...] E porque a esta sacratíssima Virgem elegeu para a maior dignidade que se possa conceder a mera criatura, daí vem que A adornou e engrandeceu com superior graça, com maiores dons e virtudes que jamais se concederam a nenhuma simples criatura” 42
São Tomás de Villanueva: “Dá rédeas soltas à imaginação, dilata os horizontes do entendimento e procura forjar em tua mente a imagem de uma virgem puríssima, prudentíssima, formosíssima, devotíssima, humilíssima, mansíssima, cheia de toda graça, dotada de toda santidade, adornada de todas as virtudes, enriquecida de todos os carismas, sumamente agradável a Deus; acrescenta quanto puderes, lança-te ao que alcançares; imensamente maior é a Virgem, mais excelente é esta Virgem, muito superior é esta Virgem.
“Não A descreveu o Espírito Santo nas sagradas letras, mas A deixou para que A esculpisses tu em tua alma, e assim compreendas que Ela nada faltou da graça, da perfeição, da glória que o espírito seja capaz de conceber numa mera criatura, e, mais ainda, que superou na realidade todo entendimento”.43


Por fim, as célebres palavras de Pio IX na Bula Ineffabilis Deus, m que proclamou o dogma da Imaculada Conceição:

“[O Padre Eterno], de preferência a qualquer outra criatura, fê-lA alvo de tanto amor, a ponto de se comprazer n’Ela com singularíssima benevolência. Por isto cumulou-A admiravelmente, mais do que a todos os Anjos e a todos os Santos, da abundância de todos os dons celestes, tirados do tesouro da sua Divindade. Assim, sempre absolutamente livre de toda mancha de pecado, toda bela e perfeita, Maria possui uma tal plenitude de inocência e de santidade, que, depois da de Deus, não se pode conceber outra maior, e cuja profundeza, afora de Deus, nenhuma mente pode chegar a compreender”.44

35) ATANASIO, Serin, de Deiparae. Apud JOURDAIN, Z.-C. Somme des Grandeurs de Marie. Paris: Hippolyte Waizer, 1900. Vol. V. p. 370.
36) DIONÍSIO, o Cartuxo. De Laud. Virg. art. 3, Apud JOURI)AIN, Z.-C. Loc. cit.
37) BOAVENTURA. Obras Completas. Madrid: BAC, 1947. Vol. IV. p. 775.

38) AQUINO, Tomás de; BUSA, Roberto. S. Thomae Opera Omnia. Summa contra gentiles autographi deleta Summa Theologiae. Milano: Cartiere Binda, 1980. Vol. II. p. 811.

39) AQUINO, Tomás de; BUSA, Roberto. S. Thomae Opera Omnia. Reportationes Opuscula Dubiae Authenticitatis. Milano: Cartiere Binda, 1980. Vol.VI. p. 285.
40) DAMIÃO, Pedro. Serin. 40, in Assumpt. B. M. Virg. Apud ALASTRUE’Y, Gregório.Tratado de Ia Virgen Santísima, . ed.,Madü& BAC, 9S2, p. 23.
41) CRISÓLOGO, Pedro, Semi. 143, inAssumpt. B. M. Virg. Apud ALASTRUrio. Tratado de la Virgen Santísima, 3. ed., Madrid: BAC, 1952. p. 283.

42 GRANADA, Luís de. Obra Selecta. Madri: BAC, 1952 p. 730-731.
43 VILLANUEVA, Tomas de. Obras. 3. ed. Madrid: BAC, 1952. p. 194.
44 PIO IX. Bula Ineffabilis Deus. In: Documentos Pontifícios. Petrópolis: Vozes, 1953. p. 3.