sábado, 27 de dezembro de 2014

Rainha dos Profetas

De Maria nunquam satis. Esta frase, que ressoou nos lábios e nos corações de tantos santos ao longo da História, aponta para o oceano insondável de perfeições da Mãe de Deus, em cujos maravilhosos mistérios a Teologia sempre se aprofundará, sem jamais esgotá-los.
De fato, luminosas nuvens de mistério envolvem os diversos episódios da existência da Santíssima Virgem, como a sua Assunção e consequente Coroação como Rainha do Céu e da Terra.
Que relação se poderia estabelecer entre esses augustos acontecimentos, a ordem do universo e a História?
Considerando que Maria Santíssima é a mais excelsa das meras criaturas — pois Jesus é Homem-Deus —, todas as operações humanas tomam n’Ela um caráter especial, paradigmático e sublime.
O nascimento d’Ela, como causa do nascimento do Menino Jesus, foi o nascer dos nasceres. Em seu claustro virginal, o Verbo Se fez carne e habitou entre nós; pelo que, o conceber d’Ela foi o gerar dos gerares. Por vontade de Deus, Ela teve a mais suave das mortes, intitulada de “Dormição” pela Teologia. Sua ressurreição foi esplendorosa, mas não à maneira de um estampido, porque não era removida nenhuma pesada laje, mas apenas dissipava-se um leve sono pelo qual Ela havia passado. E, por fim, entre as meras criaturas, quem conheceu e amou a Deus como Ela?
Na vida espiritual, por sua vez, cada progresso de Nossa Senhora, de algum modo, era um nascimento, um crescimento, um apogeu que dava origem a outro nascimento, a outro crescimento, a outro apogeu, excetuada, é claro, a morte no sentido da perda da vida da graça.
A ação de Maria na História se desenvolve de modo a todas essas operações se centralizarem em Nosso Senhor e atingirem seu ápice no Céu, após a Assunção, ao ser coroada pela Santíssima Trindade como a Rainha do Universo.
Nesta vocação de conduzir tudo ao Pai Eterno, a Nosso Senhor Jesus Cristo e ao Divino Espírito Santo, encontra-se o dom profético de guiar, animar e fazer com que se realizem os planos divinos. Isso faz de Maria a Profetiza de toda a Criação.
Assim, a invocação “Rainha dos Profetas” reveste-se de um significado especial, porque é a
Rainha de todos os acontecimentos da História. Daí vem a particular nobreza deste título, pois se trata da realeza das realezas, enquanto dando impulso a todo o acontecer histórico.
Maria é a Rainha de todos os nasceres, de todos os felizes e ascensionais desenvolvimentos, cheia de desvelo nos delicados períodos de crepúsculo, e repleta da glória de tudo quanto ressurge de dentro do anoitecer.
Por isso, se algo vai nascendo e desejamos para isso uma particular intensidade de viço, se alguma coisa vai indo bem e queremos que chegue ao seu progresso total, sem os mil desfalecimentos do caminho, devemos recorrer a Ela enquanto Rainha dos acontecimentos. E se algo tem que passar por eclipses, quando tudo parecer perdido, a Estrela d’Alva, ainda é Ela, que pode atrair a manhã e fazer tudo recomeçar.
Poder-se-ia perguntar, então, se o título de “Rainha dos Profetas” ou “Rainha da História” não A move especialmente.
Esta temática abre campo para outras belas indagações dentro da Mariologia:
Se todo caminho histórico tem magníficos nasceres, esplêndidos desenvolvimentos, terríveis eclipses e amanheceres ainda mais radiosos, não haveria uma forma de vida espiritual, de ritmo da própria vida sobrenatural em que a graça, como na natureza, ora instaura, ora confirma, ora prova, ora ressuscita e coroa? E que relação teria isso com o Segredo de Maria e com o Imaculado Coração d’Ela, fonte e impulso de todos os acontecimentos?

Eis cogitações próprias de uma devoção mariana considerada pelo prisma da Revolução e da Contra-Revolução.
Revista Dr Plinio - ago 2014

sábado, 20 de dezembro de 2014

Fortaleza de Maria

Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
De torres fortalecida,
Por David entrincheirada, e de armas também munida.
Refere-se aqui às fortificações com que David protegeu sua cidade, Jerusalém. A tais defesas se refere Salomão, no Cântico dos Cânticos, ao comparar a formosura da Esposa com a “torre de David, que foi edificada com seus baluartes; dela estão pendentes mil escudos, toda a armadura dos heróis” (Cânt. IV, 4). São outros símbolos e representações de Maria Santíssima.
Inexpugnável fortaleza
Com efeito, “que cidade ou castelo há, mais forte, mais sólido e mais formoso que a sacratíssima Virgem? Cuja alma confirmou Deus em graça tão soberanamente que jamais se apartou d’Ele, nem em suas palavras, nem em suas obras, nem em seus pensamentos. Que torre tão inexpugnável foi aquela alma santíssima, à qual o demônio não pôde conquistar com todos seus enganos e ataques!
“Mais ainda: nem sequer ousou invadir seu interior; jamais conseguiu o demônio tornar-se dono de uma só ameia deste castelo. Castelo este não apenas invencível, mas também invulnerável; pois, embora haja sofrido perseguição por parte do inimigo, jamais teve tentação relacionada com a carne, como está escrito: Abimelec não a tocou.
“Se começarmos a considerar o mundo, desde o princípio, e a discorrer através de todos os filhos de Adão, nada encontraremos mais estável, mais inabalável, mais constante do que esta sagrada Virgem. [...]
Verdadeira Torre de David
“D’Ela se lê nos Cantares: «Como a torre de David, que foi edificada com seus baluartes; dela estão pendentes mil escudos, toda a armadura dos heróis». Verdadeiramente torre de David, daquele David que com cinco pedras da torrente, isto é, com as cinco chagas e o báculo da Cruz, derrubou no monte Calvário ao soberbo Golias que se gloriava de sua força.
“Converteu-se esta torre em baluarte da Igreja e refúgio único de pecadores, a fim de que a Ela se dirijam todos os réus, todos os tristes, todos os aflitos, e com sua proteção se livrem do inimigo.
“O homem! em qualquer tribulação, refugia-te em Maria: angustiado pelos pecados, atormentado pelas perseguições, ou perturbado pelas tentações, dirige-te a esta torre, refugia-te em Maria. Dela estão pendentes mil escudos: e encontrarás n’Ela um seguríssimo escudo para te defender contra as investidas de todas as tribulações e contra a aparição do demônio que te persegue, posto que n’Ela estão as armaduras de todos os heróis: encontra-se em Maria a fé dos apóstolos, a fortaleza dos mártires, a pureza das virgens, a sabedoria dos doutores, a pobreza dos anacoretas, a devoção dos confessores; n’Ela, em uma palavra, encontra-se reunida a virtude de todos os Santos. Pois a nenhum destes se lhe concedeu, por especial privilégio, coisa alguma que não brilhe mais excelentemente em Maria, desde o princípio de sua vida.

“Eis aqui o fortíssimo castelo, eis aqui a torre inexpugnável, que jamais pagou tributo ou rendeu obediência ao demônio” 
Continua no próximo post

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Maria: Onipotente auxílio contra o demônio

Vejamos um significativo comentário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, a respeito dessa inesgotável solicitude da Virgem Imaculada para com os homens:
“Nossa Senhora é seguríssimo refúgio e fidelíssimo auxílio de todos os que estão em perigo. Não há mãe verdadeiramente católica que não sinta receio pelo que possa suceder a seu filho.
“Ora, Maria Santíssima, a melhor de todas as mães, quanta solicitude não terá para com seus filhos que vivem neste mundo, sujeitos a toda sorte de riscos? Mais ainda. Concebida sem pecado original, confirmada em graça desde o primeiro instante de seu ser, Nossa Senhora é Aquela que esmagou a cabeça da infernal serpente. Ela pode, portanto, arrancar qualquer pecador das garras do demônio, e impedir toda influência que este procura ter sobre as almas.

“Esse insondável poder da Santíssima Virgem é uma razão de confiança e de alento para nossa vida espiritual. Em nossos momentos de tentação, nas horas em que temos medo de sucumbir ao pecado, lembremo-nos deste seguríssimo refúgio, deste fidelíssimo auxílio que nos oferece a Santa Mãe de Deus” 

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Maria, Refúgio dos pecadores: o testemunho de prolongada experiência

Continuação dos comentários ao Pequeno Oficio de Nossa Senhora
Em um de seus tocantes sermões, o Pe. Pinard de La Boullaye, renomado pregador jesuíta, assim se exprime:
“Que Maria seja toda bondade, não para com a malícia obstinada e a impenitência, ou seja, para com o pecado, mas para com os pecadores; que Ela seja o último recurso dos pobres escravos que desejariam sacudir o jugo de suas paixões e se afligem de não consegui-lo, dos culpados aos quais a clara consciência de seus desregramentos não aconselharia senão o desespero — verdadeiramente, isto não é uma invenção da imaginação humana, nem tampouco a conclusão de complica dos raciocínios. É uma convicção imposta aos fiéis por uma prolongada experiência.
“Interrogai os livros ascéticos, dos mais antigos aos mais recentes, das publicações populares até os tratados dos mais reputados doutores, encontrá-los-eis unânimes em provar, pelos mais variados exemplos, a extraordinária piedade que a Virgem demonstra em relação àqueles que A invocam. Ora Ela os ajuda de maneira quase sensível, através das confissões diferidas por longos anos; ora no leito da morte, Ela concede a graça da conversão, e assim arranca ao Inferno aqueles que deste estavam separados apenas por algumas horas ou poucos segundos; às vezes Ela intervém de maneira miraculosa para chamá-los ao arrependimento.
“Interrogai os confessores, especialmente os que vivem à sombra dos santuários consagrados a Maria; os missionários, sobretudo os que se aplicam em despertar esta devoção que quase todas as mães, felizmente, implantaram com cuidado na alma de seus filhos; os pregadores que asseguram à sua palavra, por ardentes súplicas, o apoio da grande Convertedora. Eles serão unânimes em vos afirmar que resta ao menos uma esperança de salvação, enquanto subsistir numa alma uma centelha — sim, não mais que uma centelha — de piedade em relação à Virgem. [...]
Merecido título de Maria
“Perscrutai as profundezas do Céu. Procurai descobrir, seja entre os Santos, seja entre os Anjos, um só protetor — exceção feita unicamente de Jesus Cristo — que possa intervir em nosso favor com caridade e convicção semelhantes [às de Maria].

Se sois obrigados a desistir de encontrá-lo, não deveis convir que prodígios de misericórdia atestados por tantos testemunhos se explicam sem dificuldade, que a fé dos séculos cristãos se acha amplamente justificada, que Maria, numa palavra, merece verdadeiramente o título de «Refúgio dos pecadores» posto que os maiores culpados, aqueles cujos apelos o mais misericordioso dos eleitos poderia ser tentado a rejeitar, têm a certeza de n’Ela encontrar uma Advogada pronta a defender sua causa, com o apaixonado afeto de uma mãe?”